O embaixador português em Brasília salientou a importância das relações solidárias de Portugal com a sua diáspora, como o prova o anúncio da doação em dinheiro ao Hospital Beneficente Português de Manaus, na capital do Amazonas, uma das áreas mais atingidas pelo repique da pandemia de covid-19 no Brasil.
A informação foi confirmada à Lusa pelo novo embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, que contou que a doação simboliza um gesto de solidariedade à comunidade portuguesa de Manaus, composta por cerca de 5 mil pessoas, e a todos os brasileiros.
“Gostava de transmitir uma palavra de solidariedade, de união, de esperança, em relação a tudo que esta a acontecer no Brasil e no resto do mundo, em Portugal também. Infelizmente esta pandemia não está para desaparecer em seguida”, disse o embaixador.
“As autoridades portuguesas vão ajudar, vão apoiar, através do Hospital Beneficente Português, que, como sabem, tem 147 anos”, acrescentou.
Fundando na região amazónica há 147 anos por emigrantes portugueses, o hospital Beneficente Português é filantrópico e executa atendimento complementar do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil.
Segundo o embaixador, a doação será viabilizada através de uma parceria do Governo português com a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa e o auxílio das comunidades portuguesas espalhadas em outros sítios do Brasil.
“Sei que o hospital Beneficente Português tem levado a cabo um trabalho muito importante na assistência nesta crise de emergência sanitária [em Manaus]”, justificou Luís Faro Ramos.
“Estamos a pensar que talvez a maneira mais eficaz de fazer chegar este apoio seja uma entrega direita de ‘cash’ [dinheiro]. Portanto, [faremos um] apoio financeiro direto. Achamos que é o mais apropriado porque depois competirá ao hospital dar o destino para esta contribuição”, completou o representante do Governo português.
Em um comunicado divulgado na noite de terça-feira, o Governo português e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa confirmaram a doação de 50.000 euros.
“A este apoio, articulado com a Embaixada de Portugal em Brasília e com o Consulado Honorário em Manaus, que presta um serviço constante de apoio a todos os cidadãos nacionais no Amazonas, acresce aquele que tem resultado da solidariedade e mobilização da comunidade portuguesa e lusodescendente no Brasil”, diz um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Desde a semana passada, vários hospitais privados e públicos de Manaus registaram problemas no abastecimento de oxigénio, incluindo o hospital Português, que operou no limite das suas reservas de segurança.
A falta de oxigénio causou mortes, desespero de médicos, enfermeiros e familiares dos doentes na capital no Amazonas.
Além do problema com oxigénio para fazer o atendimento dos pacientes dentro dos hospitais, Manaus sofre com a falta de camas para atender doentes que precisam de auxílio médico.
No dia 5 de janeiro, o Hospital Beneficente Português anunciou a paralisação do atendimento de emergência para concentrar esforços no atendimento a pacientes infetados pelo novo coronavírus.
A situação agravou-se no mesmo momento em que a região foi identificada como ponto de origem de uma possível nova estirpe do vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, aparentemente mais contagiosa do que as variantes anteriores em circulação no país.
Questionado sobre preocupação de Portugal com a nova estirpe brasileira, o embaixador não quis comentar alegando não ter conhecimento científico para falar sobre o assunto.
“Há uma preocupação permanente das autoridades de Portugal com toda a evolução desta situação. Como todos sabem, a pandemia tem evoluído lá [em Portugal] de uma maneira não tão favorável, portanto, estamos a tomar todas as medidas necessárias para minorar os efeitos que estamos a sentir. Confesso que sobre questões de natureza científica eu não me posso pronunciar”, concluiu.
O total de casos confirmados de covid-19 no Amazonas já superou a marca de 230 mil, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde, órgão ligado ao Governo do estado.
O estado já registou mais de 6.300 óbitos desde o início da pandemia em fevereiro do ano passado, segundo a mesma fonte de informação.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (210, em mais de 8,4 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.041.289 mortos resultantes de mais de 95,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.