Flexibilidade e plasticidade são palavras de ordem entre os membros do gabinete de gestão de crise do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) que, perante a evolução da covid-19, tentam ajudar quem mais precisa “esquecendo fronteiras”.
Camas, enfermarias, consultas, cirurgias e doentes são alguns dos recursos diariamente geridos pelos membros do gabinete de gestão de crise desde que a pandemia da covid-19 tomou conta do hospital, numa árdua missão que já vai no 311.º dia e é resolvida tanto em prolongadas reuniões em torno de uma mesa como rapidamente através de um grupo da rede social ‘Whastapp’.
Com 128 camas disponíveis para acomodar doentes com covid-19, os membros do gabinete de crise projetam já o pior cenário e a eventualidade de terem de alargar a capacidade para as 160 camas, sendo que a perceção da capacidade dos serviços, tanto para médicos como enfermeiros, é semelhante à de ter um elástico nas mãos e esticá-lo.
“Mais um bocadinho e ele vai rebentar”, confessa à Lusa o presidente do conselho de administração do hospital, Rui Guimarães, lembrando que para muitos dos que vestem bata branca “esse elástico acabou mesmo por partir”.
Na quarta-feira, eram 101 os doentes infetados com o novo coronavírus internados em enfermarias e 15 os utentes nos cuidados intensivos, maioritariamente com 60, 70 e 80 anos.
Sob a lógica de “ajudar quem efetivamente precisa” e “esquecendo fronteiras”, o hospital têm aberto portas a doentes de outras regiões para providenciar o necessário tratamento médico.
Desde o início do ano, oito doentes do Hospital Amadora Sintra e um doente do Hospital de Cascais com covid-19 foram acolhidos nas instalações.
Outros 314 doentes com diferentes patologias fora da área geográfica do hospital foram também acomodados, sendo que a maioria já teve alta hospitalar.
“É altura de perceber que as camas pertencem a quem precisa e que a capacidade está ao dispor dos portugueses onde eles estiverem. Existe uma capacidade no sistema maior, mas não é infinita”, sublinhou Rui Guimarães.
Para Serafim Guimarães, diretor da unidade de gestão integrada de medicina, a quem cabe coordenar os 15 serviços hospitalares, o maior contratempo tem sido “reagir de forma rápida às mudanças permanentes”.
“Quando decidimos que uma enfermaria vai mudar de função, são 24 horas em que é preciso encontrar outro espaço para os doentes que lá estão sejam tratados com a mesma qualidade e dignidade”, referiu.
“Plasticidade” e “flexibilidade” tornaram-se palavras de ordem nesta unidade hospitalar que não desistiu de tentar cuidar de todos, assegura.
Numa tentativa incessante de “alocar todos os doentes”, Agripino Oliveira, membro da equipa de gestão de camas do hospital, adequa o trabalho às necessidades diárias do hospital.
Com 450 camas sob a sua alçada, a preocupação do internista é, todas as manhãs, resolver a situação dos doentes que, por não existir internamento no serviço de urgência, aguardam uma vaga.
Os que estão na linha da frente do combate à pandemia como médico Tiago Teixeira, não hesitam em classificar como “assustadora” a atual situação.
“Neste momento, estamos a ter milhares de casos na comunidade e, apesar de estarmos mais confortáveis, os nossos colegas de Coimbra e Lisboa já estão no caos, já estão na catástrofe”, admitiu o médico e coordenador do internamento das enfermarias covid-19.
Dos mais de 4.000 colegas de profissão, 58 estão infetados com o SARS-CoV-2, e é ao “espírito solidário” das equipas que Tiago Teixeira vai “buscar as poucas forças” que ainda lhe restam.
“Vamos tentando gerir isto com muito amor. Vamos ter sempre forças, acho que o afunilamento vai ser a capacidade instalada de tratar os doentes, mas nós vamos cá estar e não é mais do que a nossa obrigação”, assegurou.