A mineira Vale, uma das principais a operar em Moçambique, vai vender a exploração de carvão no país, anunciou hoje a empresa em comunicado.
A Vale assinou um princípio de entendimento com a parceira Mitsui, "permitindo a ambas as partes estruturar a saída da Mitsui da mina de carvão de Moatize e do Corredor Logístico de Nacala (NLC, sigla inglesa), como primeiro passo para o desinvestimento da Vale no negócio de carvão".
"Após a aquisição das participações da Mitsui e, consequentemente, a simplificação do negócio e gestão de ativos, a Vale dará início ao processo de desinvestimento da sua participação no negócio de carvão, que será pautado pela preservação da continuidade operacional da mina de Moatize e do NLC, através da procura de um terceiro interessado nesses ativos", acrescenta.
O carvão é atualmente um dos principais produtos de exportação de Moçambique, destinado sobretudo à Ásia.
A Vale aponta como objetivo ser neutra ao nível das emissões de carbono até 2050 e reduzir algumas das suas principais fontes de poluição daquele tipo até 2030.
A transação com a japonesa Mitsui é feita pelo preço simbólico de um dólar, mas passam para a Vale todas as despesas e encargos associados - incluindo um saldo em aberto de 2,5 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros).
Apesar do anúncio, a Vale mantém a implementação de investimentos que devem aumentar a produção da mina de Moatize nos próximos anos.
"As duas unidades de processamento serão revitalizadas e adaptadas a um novo processo, que está em implantação desde novembro de 2020", refere.
Depois de o investimento estar totalmente executado, "a Vale espera alcançar uma retoma de produção, atingindo 15 milhões de toneladas em 2021 e 18 milhões de toneladas em 2022.
Atualmente, a mineira brasileira tem capacidade instalada para produzir 12 milhões de toneladas de carvão por ano, mas tem ficado aquém do valor: em 2018 produziu 11,5 milhões de toneladas e em 2019 produziu oito milhões de toneladas.
Em 2020, o valor deverá ter sido ainda mais baixo devido à quebra na procura de carvão, causada pelo abrandamento da economia global face à pandemia de covid-19.
De janeiro a setembro de 2020 (últimos dados disponíveis), a Vale produziu 4,6 milhões de toneladas de carvão em Moçambique.
A assinatura do princípio de entendimento com a Mitsui como "passo inicial para o desinvestimento da Vale no negócio de carvão, está em linha com a sua disciplina na alocação de capital e na simplificação do portfólio da companhia, e reforça o seu compromisso com o Acordo de Paris, bem como a ambição da Vale em tornar-se uma líder em mineração de baixo carbono", conclui.
Entretanto, o Governo moçambicano já foi informado sobre a transação, referiu hoje o Ministério dos Recursos Minerais e Energia, em comunicado.
A operação "deverá ser concluída em 30 de junho" e o processo de reestruturação vai "salvaguardar os direitos dos trabalhadores e das comunidades onde a empresa opera" e prevê "a identificação de um novo investidor com idoneidade e capacidade reconhecida para conduzir o projeto".
Vale e Mitsui "comprometeram-se a cooperar com os vários órgãos do Governo por forma garantir uma transição suave e com menor impacto possível", acrescenta-se no comunicado, segundo o qual o ministério "compromete-se a fazer o acompanhamento de todo processo, de forma a que o mesmo decorra em estrito respeito à legislação moçambicana".