Quando a família de Giannino Mariani chegou ao Sal, há mais de vinte anos, para abrir o primeiro grande hotel da ilha cabo-verdiana, o sonho era construir o primeiro campo de golfe relvado do arquipélago, finalmente pronto a abrir portas.
“Quando o meu pai apresentou o projeto do campo de golfe à Câmara, em 2001, disseram-lhe que o turismo não era o futuro da ilha. Como se vê, agora”, começa por recordar a filha, Paola, à conversa com a Lusa na ilha do Sal, que se tornou a mais turística de Cabo Verde, com quase meio milhão de turistas por ano.
O italiano, juntamente com a filha e com o genro, Camilo, argentino, continuou o sonho e ao fim de 20 anos, numa ilha praticamente sem água doce para a relva, o “Viveiro Golf”, inserido numa área de 33 hectares, está pronto para abrir portas, com os primeiros nove de 27 buracos previstos, no início de abril.
A história da família Mariani, contada pela filha, começa com a abertura, em 2000, do emblemático Hotel Crioula, que marca também o início do turismo na ilha do Sal e na localidade de Santa Maria, que então começou a surgir a sul, como destino de sol e praia.
Giannino Mariani, então sócio daquele hotel e “amante de golfe”, não desistiu de levar a sua paixão desportiva ao Sal. Sem água doce na ilha, e num projeto inicialmente de pouca importância localmente, a família foi desenvolvendo a ideia e a primeira prioridade foi encontrar a relva perfeita para o primeiro campo de golfe relvado de Cabo Verde.
“Encontramos uma relva que usa a água salgada e começamos a fazer experiências cá, com um viveiro”, recorda Paola, que hoje é a porta-voz da família. O turismo, o viveiro e o campo de golfe foram, de resto, motivos que a levaram a trocar Itália por Cabo Verde, logo depois do pai.
E se o campo de golfe “nasceu da cabeça do pai”, a execução pertence a toda a família.
“Como sempre digo, as coisas acontecem quando têm de acontecer. O campo de golfe foi o que me trouxe aqui, ao Sal, há 14 anos. E finalmente vamos inaugurar o campo de golfe em 2021, na Páscoa”, explica.
Enquanto a família ultima os detalhes para a abertura, Paola não esconde o orgulho pelo feito: “É o primeiro campo de golfe relvado de Cabo Verde. Vamos ter um primeiro ano de experiência”.
“Na verdade, criar um campo relvado na ilha do Sal não foi fácil. Mas não é impossível”, atira.
Em plena pandemia de covid-19, e praticamente ainda sem turistas no Sal, Paola sabe que o projeto é para implementar em “três a cinco anos”, até estarem concluídos os três circuitos interligados, cada um com nove buracos, totalizando um campo de 27 buracos, com zonas de passeio, de treino, restaurante e bar.
“A ideia é dar ao jogador de golfe vários campos e várias oportunidades para o jogo”, explica.
Do sonho à realidade, o campo de golfe abre no início de abril com o primeiro circuito, de nove buracos, após um investimento, sem contar com a compra dos terrenos, de cerca de quatro milhões de euros, para gerar até 40 postos de trabalho em todo o complexo, que inclui ainda um ‘clube house’ de apoio.
“O campo vai ser, além de um desporto, uma atração”, garante, apontando a localização privilegiada e central, com vista para as praias dos dois lados da ilha, convidando ao passeio pelo interior.
“Mas o clima é perfeito para poder jogar o golfe. Não tem chuva nunca, tem o vento, que é uma coisa positiva para o jogo do golfe. Mas sem o vento, que é sempre de noroeste, também seria muito aborrecido”, brinca Paola, que apesar da herança familiar, assume sem rodeias não ser jogadora.
“O meu pai é que é praticante e apaixonado pelo golfe. E por Cabo Verde”, diz.
O campo será protegido com barreiras naturais, essencialmente palmeiras que começaram a produzir localmente, no viveiro, juntamente com outras plantações, que é o verdadeiro “know-how” da família.
Cada circuito terá uma decoração própria, com espécies de flora especialmente escolhidas, por entre um lago criado artificialmente, com 14.000 metros cúbicos de água doce, que também garante as necessidades de consumo do empreendimento.
“Acho que até outubro dificilmente a ilha do Sal terá muito turismo, mas o ‘timing’ é perfeito para nós, para termos o campo preparado e já alguma experiência”, assume.
Influenciado pela forte presença inglesa, Paola admite que o golfe é um desporto com que os cabo-verdianos já estão familiarizados, prevendo mesmo usar o campo como escola para fomentar a prática no Sal, além de ser mais uma oferta para os milhares de turistas que habitualmente passam pela ilha.
“Acho que vai ser uma mais-valia para o turismo, mas também para a população local. E para o turismo interno, que é o queremos trabalhar”, explica.
Apesar dos efeitos da pandemia, a família Mariani não tem dúvidas do sucesso do primeiro campo de golfe relvado em Cabo Verde.
“Vai ser fácil ter 100 pessoas por dia, quando temos 15.000 camas só em Santa Maria [a principal localidade turística da ilha do Sal]. Não vai ser um problema ter a quantidade necessária de jogadores para encher o campo”, refere Paola.