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Nova linha de apoio já tirou 26 menores de casamentos prematuros no centro de Moçambique

Um total de 26 raparigas foram resgatadas de uniões prematuras de um conjunto de 109 casos denunciados à Linha Fala Criança, desde que começou a funcionar em Manica, centro de Moçambique, disse hoje à Lusa um ativista social.

Nova linha de apoio já tirou 26 menores de casamentos prematuros no centro de Moçambique
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De outubro a dezembro de 2020 foram denunciados 206 casos de violações contra a criança através da linha 116 em vários distritos da província de Manica e mais de metade estavam ligados a uniões prematuras, indicam os dados da Girl Child Rights (GCR), uma organização não-governamental de defesa da criança.

Do total das denúncias atendidas, 97 estavam relacionadas com trabalho infantil, discriminação social e acesso à educação e outras “situações de natureza civil”, tendo sido encaminhadas a várias entidades, incluindo o Ministério Público.

Nalguns casos, menores de 12 anos foram resgatadas de uniões prematuras com homens quatro ou cinco vezes mais velhos e noutros a união foi frustrada quando a rapariga ia ser entregue ao “prometido” durante cerimónias tradicionais, após denúncias de irmãs e tios das vítimas, disse Miguel Jambo, diretor de programas da GCR.

“A nossa taxa de sucesso e de desfecho dos casos situou-se em 38%” nos primeiros três meses da operacionalização da Linha Fala Criança, no centro de Moçambique, disse Miguel Jambo, que se surpreendeu com o nível de consciência das crianças na denúncia da violação dos seus direitos.

“Estamos a assegurar que todos os casos denunciados através da linha tenham tratamento eficiente e de forma atempada, com vista a garantir que as crianças continuem protegidas e seguras, mesmo em tempo de covid-19”, frisou.

O caso mais recente de resgate de uma rapariga de união prematura aconteceu em dezembro, num subúrbio de Chimoio, a capital de Manica, quando o tio de uma rapariga de 12 anos frustrou a consumação de um casamento tradicional.

A rapariga já tinha sido dada em casamento a um homem adulto com quem já vivia há alguns meses no distrito de Vanduzi. Mas no dia do lobolo – o dote em espécie ou animais oferecidos à família da noiva – o tio da vítima denunciou a situação através do 116, tendo sido acionada a polícia para o local da cerimónia.

“No instante, a polícia dirigiu-se à casa da menor e confirmou-se o ato. Foram tomadas medidas processuais imediatas contra os pais da menor”, contou à Lusa Miguel Jambo.

“Neste momento, o departamento de atendimento da Linha Fala Criança tem feito monitorias regulares do estado da menina” na sua ressocialização, acrescentou.

O responsável disse que o grosso de denúncias relacionadas com uniões prematuras está concentrado nos centros urbanos, havendo por isso necessidade de maior divulgação da linha nas zonas remotas, onde o problema é crónico.

“A Linha Fala Criança veio revolucionar” a profusão de denúncias de violações de direitos da criança, mas carece de mais divulgação, salientou Miguel Jambo.

Por sua vez, Jorge Tivane, procurador provincial de Manica, observou que a linha se tornou numa porta para a entrada no sistema judiciário de crianças até aos 18 anos, que estejam a enfrentar questões ligadas à proteção social.

O Ministério Público em Manica recebeu e tramitou 124 casos da GCR, tendo 29 sido decididos e os restantes 95 casos continuam em tratamento judicial.

A Linha Fala Criança, de nível nacional, foi descentralizada para a região centro de Moçambique em outubro e já atendeu 18.000 chamadas das províncias de Manica, Tete, Sofala e Zambézia.

A maioria dos contactos está relacionado com a solicitação de informações sobre o novo coronavírus e os direitos e deveres das crianças.

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