O ex-futebolista José Coelho ‘bisou’ para encerrar um recorde de invencibilidade de 21 jornadas do Sporting na I Liga de 1981/82, embora ficasse a um tento de arrebatar uma aposta tentadora com um diretor do Boavista.
“O já falecido Toni da Churrasqueira apostou que, se fizesse três golos, dava-me um Fiat Triumph de dois lugares. Marquei três, mas perdi o carro, porque anularam um golo. Se existisse videoárbitro, se calhar, não anulariam. Lembro-me perfeitamente de comentarem nas televisões que não estava em fora-de-jogo”, contou à agência Lusa o ex-avançado.
Em 20 de março de 1982, à 22.ª de 30 rondas, o conjunto orientado pelo inglês Malcolm Allison consentiu a primeira derrota no campeonato, na deslocação ao Estádio do Bessa (1-2), no Porto, onde um ‘bis’ de José Coelho ‘controlou’ o tento de Lito.
O dianteiro finalizou duas jogadas construídas por Palhares e Almeidinha no flanco direito, aos 12 e 42 minutos, sendo que, pelo caminho, aos 33, Lito tinha aproveitado uma saída aérea precipitada do guarda-redes Matos para restabelecer a igualdade.
“Foi uma questão de eficácia e de acreditar que era possível. Na altura, o Boavista era um ‘Boavistão’, e uma das maiores equipas de Portugal. Todas as equipas que iam ao Bessa respeitavam sempre o Boavista. Por outro lado, o Sporting já não ganhava lá há muitos anos e isso, provavelmente, pesou no subconsciente dos jogadores”, analisou.
O “aliciante extra” de impor o primeiro desaire ao Sporting nas provas nacionais em 1981/82 estimulou os portuenses a querer prolongar um ciclo de 21 jogos e quase 31 anos, de 1959 a 1990, sem triunfos ‘verde e brancos’ no recinto ‘axadrezado’ para a I Liga.
“Embora fosse muito difícil o Sporting passar no Bessa, quem é que não queria vencer uma equipa que está há 21 jogos sem perder? Todos querem ser os primeiros e o Boavista não fugia à regra. Aliás, contra esses clubes ‘grandes’, os treinadores nem precisam de nos motivar, porque já estávamos motivados por natureza”, rememorou.
Oriundo de Penafiel, e com formação terminada no FC Porto, José Coelho apontou 40 golos em 198 jogos nas duas passagens pelo Boavista (1981/1988 e 1991/92) e recorda-se de “ter sempre estrelinha” quando defrontava o guarda-redes Ferenc Mészáros.
O avançado também faturou no encontro da primeira volta daquela época (3-3, à sétima jornada) e voltaria a celebrar em 1983/84 (3-0, à 26.ª) e 1987/88 (1-0, à 24.ª), quando o internacional húngaro já alinhava por Farense e Vitória de Setúbal, respetivamente.
“Perguntaram ao Mészáros numa entrevista quem é que temia mais: o Coelho ou o Bife [alcunha de José da Silva Oliveira, que representou o FC Porto em 1980]? Disse que comia mais depressa o bife, porque o coelho era sempre mais difícil de combater”, gracejou o ex-atleta de Estrela da Amadora, Desportivo de Chaves ou Felgueiras.
Perante um oponente “recheado de excelentes jogadores”, o Boavista foi bafejado por “aquela pontinha de sorte” aos 44 minutos, quando António Oliveira, que dividia o ataque com Manuel Fernandes e Rui Jordão, saiu lesionado às custas do seu conterrâneo.
“Foi numa disputa de bola comigo, mas sem maldade nenhuma. Ele saiu em braços do relvado. No final do jogo, fui ao balneário e disse-me que são coisas que acontecem no futebol. Era o melhor jogador do Sporting nessa época e a equipa ficou mais fragilizada. Não sei se isso contribuiu para a nossa vitória, mas são pormenores que contam”, notou.
Os ‘leões’ de Malcolm Allison viriam a alcançar a penúltima ‘dobradinha’ da sua história, ao somarem 46 pontos no campeonato, dois acima do Benfica e mais três do que o FC Porto, além de terem derrotado o Sporting de Braga na final da Taça de Portugal (4-0).
“Quando ganham as duas provas está tudo dito. Foram superiores às outras equipas e realmente o Sporting tinha um plantel de luxo, que ainda hoje é recordado com muito carinho pelos seus adeptos. Já o objetivo do Boavista, era sempre lutar para ir às competições europeias, mas não conseguimos [nono lugar, com 26 pontos]”, lamentou.
José Coelho, de 59 anos, radicado há cinco na cidade brasileira de Recife, continua a seguir a I Liga e nota uma geração de 1981/82 de talento superior à atual, orientada por Rúben Amorim, que tem idêntica série invicta e o título encaminhado, a 13 rondas do fim.
“Talvez se equiparem no coletivo, mas, em termos individuais, são incomparáveis. Se colocar os jogadores de 1981/82 um por um na equipa atual, acho que todos jogariam. Não sei é se estes jogadores jogariam todos na equipa de 1981/82”, concluiu o ex-internacional luso, que ajudou o Boavista a erguer a Taça de Portugal em 1991/92.
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