O português Frederico Morais está a cumprir na Austrália a quarentena obrigatória para o reinício do circuito mundial de surf (WCT), naquele que é o seu recorde de isolamento, enquanto vê aumentar a ansiedade pelo regresso ao mar.
O único português entre a elite mundial de surf explicou, em entrevista à agência Lusa, o desafio que tem enfrentado para se entreter, no pequeno alojamento que ocupa desde que partiu de Los Angeles rumo a Sydney no dia 06 de março.
“Têm sido uns dias tranquilos. Acho que agora, nesta semana final, é que é capaz de começar a ser mais cansativo, pelo menos é o ‘feedback’ que tenho de alguns surfistas australianos, que fizeram quarentena quando voltaram do Havai”, afirmou ‘Kikas’.
Sem poder sair à rua, o cascalense considera que tem conseguido “ocupar bem o tempo” e “mantido a cabeça ocupada”, entre videojogos - porque “a PlayStation entretém bastante” - e “um bom livro”, mas também com algum material para treino físico, como uma bicicleta estática, e a nova experiência de editar vídeos das suas ondas.
“Por isso, vou conseguindo entreter-me”, vincou o campeão nacional de surf em 2013, 2015 e 2020, reconhecendo tratar-se de um recorde de isolamento: “Sem dúvida alguma. Nunca, nunca tinha passado por isto. Mas, pronto, é mais um desafio e uma boa razão”.
Esta boa razão é a retoma do WCT, com quatro provas na Austrália, depois de a temporada ter arrancado, ainda em 2020, com o Billabong Pipe Masters, no Havai, devido ao cancelamento da edição do ano passado.
“A logística montada para as etapas australianas é completamente diferente, porque aqui o vírus está muito mais controlado do que na maior parte dos sítios do mundo. Ou seja, acaba por ser mais fácil organizar eventos aqui e pôr as coisas a andar de uma forma mais normal”, reconheceu.
Sem competir desde dezembro, quando selou o regresso ao WCT com o 17.º lugar, depois de um ano de ausência e de vencer o circuito de qualificação (WQS), em 2019, o português enalteceu a oportunidade que teve com a permanência no Havai.
“Felizmente, retomámos em Pipeline, que é uma onda em que tenho investido mais tempo, tenho tentado melhorar cada vez mais a minha performance e sinto uma evolução. Infelizmente, houve dias em que o mar não ajudou nada, depois tivemos aquela quebra no campeonato, porque houve um surto de covid-19, mas pronto, foram quase dois meses no Havai com muito surf, muito treino, e isso foi o mais importante”, sublinhou.
O Newcastle Cup, em Nova Gales do Sul, marca o arranque da ‘perna australiana’, entre 01 e 11 de abril, seguindo-se, na mesma região, o Narrabeen Classic, entre 16 e 26, e, depois, no oeste, Margaret River Pro, entre 02 e 12 de maio, e o Rottnest Search, entre 16 e 26 de maio.
“Sem dúvida alguma são etapas entusiasmantes. Eu já surfei a maior parte destas ondas. Quando venho à Austrália, passo muito tempo em Newcastle, de onde é o meu amigo Ryan Callinan e onde já surfei no WQS, apesar de nunca ter apanhado boas ondas no campeonato. Margaret River já fazia parte do WCT, nunca estive em Rottnest Island, mas o meu treinador [Richard Marsh] diz que é uma boa onda, e em Narrabeen competi como júnior e tenho boas memórias da onda”, descreveu.
Sem apontar objetivos para a temporada, Frederico Morais realçou a oportunidade de voltar aos campeonatos, apenas com uma etapa disputada, “que soube a pouco, depois de um ano inteiro sem competir”, e disse esperar o melhor, para si e para a evolução da pandemia.
“Esperemos que corra tudo bem e que consigamos fazer as quatro provas e, a seguir a isto, no final de maio, espero que o mundo já tenha alguma normalidade e que possamos continuar o WCT”, frisou.
Uma normalidade que ainda não viveu, mas já observou, à chegada a Sydney.
“Tenho sentido muita falta de surfar, sem dúvida alguma. No caminho para cá, vínhamos de autocarro e vimos as pessoas sem máscara a passearem na rua. Sem dúvida que, agora estando na Austrália, tenho muita saudades de dar uma volta, comer num restaurante, conviver com amigos à vontade. Acho que vai dar para aproveitar agora quando a quarentena acabar”, admitiu.
Até lá, e sobretudo a pensar no regresso à competição, mesmo em quarentena, conserva as rotinas, treina o físico e mantém a “cabeça sã”, reconhecendo que “voltar a pôr o pé na prancha é capaz de demorar um ou dois dias, porque 14 dias sem surfar ainda tem algum peso”, apesar de não ser o seu recorde.
“O meu recorde sem surfar não vão ser estes 14 dias. Já estive lesionado uma ou outra vez e estive mais tempo parado”, rematou.