A mudança dos dois encontros entre FC Porto e Chelsea para Sevilha, em Espanha, vai influenciar o desempenho coletivo das duas equipas, admite o treinador José Morais, adjuntos dos ingleses de 2013 a 2015.
“Agimos mentalmente em função de experiências vividas e nenhuma destas formações joga em Sevilha todos os dias. Ou seja, é mais fácil e tenho melhores sensações e mais referências quando jogo num espaço em que já estou habituado a competir com frequência do que noutro recinto qualquer”, frisou à agência Lusa o técnico, de 55 anos.
Os dois clubes começam na quarta-feira, às 21:00 locais (20:00 em Lisboa), a lutar pelo acesso às meias-finais da Liga dos Campeões, na primeira de duas partidas na cidade espanhola de Sevilha, devido às restrições de viagens provocadas pela pandemia de covid-19.
“Um jogo em casa, mesmo sem espetadores, é um jogo em casa. Sentes-te em casa, sabes que é o teu ambiente e tenho a certeza de que isso influi positivamente no rendimento da maior parte dos jogadores. Agora, jogar num estádio diferente não dá este conforto para nenhuma equipa e os jogadores têm de se adaptar a isso”, reconheceu.
José Morais acredita que “quem estiver mais à vontade nesse tipo de situações vai ter alguma vantagem” no relvado do Estádio Ramón Sánchez Pizjuán, 'casa' do Sevilha e palco do nono e 10.º embates entre FC Porto e Chelsea nas provas europeias.
O reencontro dá-se mais de cinco anos depois de dois duelos no Grupo G da edição 2015/16 da Liga dos Campeões, quando o luso-angolano coadjuvava o treinador José Mourinho durante a segunda passagem do ‘Special One’ por Stamford Bridge.
“Foi regressar a uma casa onde o treinador principal teve sucesso e, obviamente, estas coisas mexem. Além disso, era um adversário português. Podemos sempre dizer que isto é competição, que jogo é jogo e as emoções são colocadas de lado, mas, na realidade, sabemos que não é bem assim. Existem emoções e queremos ganhar”, lembrou.
O FC Porto até venceu no Estádio do Dragão (2-1), mas foi relegado para a Liga Europa ao perder em Londres (2-0), sob olhar de José Mourinho, que tinha guiado os ‘dragões’ nas sucessivas conquistas de Taça UEFA (2002/03) e Liga dos Campeões (2003/04).
“Todos os que são portugueses e já passaram pelo clube sentem o jogo de uma forma diferente. São emoções que se afloram, mas hoje as coisas são diferentes. Tirando o Hilário [treinador de guarda-redes] e o Paulo Ferreira [na estrutura de observação], não vejo ninguém que tenha qualquer envolvimento emocional com este momento”, avaliou.
José Morais espera dois desafios de “pôr o açaime e cerrar os dentes” entre ‘blues’, que afastaram os espanhóis do Atlético de Madrid nos ‘oitavos’ (3-0 nas duas mãos), e ‘dragões’, ‘carrascos’ dos italianos da Juventus (4-4 e vantagem nos golos fora de casa).
“Tem a ver com a organização e os níveis de exigência do FC Porto. É um clube que gosta e se habitou a ganhar, independentemente da competição. No plano internacional, tem granjeado a fama de adversário difícil e essas crenças contam quando se instalam nos adversários, que o respeitam pela qualidade mostrada ao longo dos anos”, notou.
Se os nortenhos têm dois títulos europeus (1986/87 e 2003/04), o Chelsea “também já sabe como se chega lá” desde 2011/12, numa campanha iniciada sob alçada de André Villas-Boas e com Hilário, Bosingwa, Paulo Ferreira e Raul Meireles nas fileiras.
Em relação aos treinadores, nenhum deles ganhou a ‘Champions’, mas Sérgio Conceição fez parte do plantel portista campeão europeu em 2003/04 – só chegou em janeiro e não pôde jogar na Liga dos Campeões, pois já tinha representado a Lazio.
“Creio que é uma vantagem saber o que é ganhar uma competição desta dimensão e, eventualmente, em termos técnicos, é importante ter essa vivência e a capacidade de passar isso aos seus jogadores”, vincou.
Destacando a liderança do treinador dos campeões nacionais, descrito como “um dos dínamos do sucesso do FC Porto nos últimos tempos”, José Morais enaltece a harmonia por parte de uma “personalidade de natureza ambiciosa” nos “valores do próprio clube”.
“Espero que o corolário disto seja continuar o mais possível na Liga dos Campeões e, quem sabe, até ganhá-la, mas agora importa mais o próximo jogo. Estou aqui um pouco dividido e gostaria muito que o Chelsea tivesse resultados positivos. Se me perguntarem o que prefiro, como português prefiro que uma equipa portuguesa ganhe”, adiantou.
Os ’dragões’ regressam a Sevilha, onde, no Estádio Olímpico de La Cartuja, ergueram a Taça UEFA, frente aos escoceses do Celtic (3-2, após prolongamento), em maio de 2003, quase meio ano antes do ingresso de Sérgio Conceição no plantel de José Mourinho.
“O que é comparável é o FC Porto como organização e na exigência quanto à atitude mental. Qualquer treinador que passe por ali tem a obrigatoriedade de encarnar esses valores e ser capaz de transmiti-los aos jogadores. Creio que o Mourinho fez e o Sérgio está a fazer. Pode ter recebido alguma influência na forma de treinar, mas, no resto, são personalidades, momentos e equipas diferentes. Não há forma de comparar”, concluiu.
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