Atletas portuguesas elogiaram hoje a criação da plataforma de denúncia de situações de discriminação Futebol Para Tod@s e apelaram à denúncia desses comportamentos, durante o debate virtual «Mulher, Desporto e Igualdade».
Durante o debate promovido pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), a ex-internacional de futebol Carla Couto frisou a evolução verificada ao longo dos últimos 30 anos e incentivou outras praticantes a não se deixarem inibir por comentários depreciativos, pedindo que os denunciem.
A antiga futebolista enalteceu a iniciativa da FPF de criar a plataforma digital para denunciar qualquer tipo de discriminação de género, de raça, orientação sexual ou discriminação de pessoas com deficiência, segundo explicou hoje o presidente da federação, Fernando Gomes.
"Vem ajudar jogadoras e atletas que se sintam discriminadas ou abusadas a terem uma forma de denunciar, a terem essa possibilidade", disse Carla Couto.
A judoca Telma Monteiro considera que os feitos femininos já não são tão desvalorizados em relação às conquistas masculinas e que é frequente os homens não entenderem como discriminatórios alguns comportamentos, "porque eles não sentem isso".
A medalhada olímpica olha para a plataforma Futebol Para Tod@s como "uma ferramenta importante, porque cada jovem, por vezes, não é no seu meio que consegue denunciar, e é importante haver um meio externo" para o fazer.
Telma Monteiro defendeu, durante o debate, "penalizações para esse tipo de comportamentos", embora tenha ressalvado que "para cada modalidade tem de ser pensada a forma como as medidas podem ser implementadas".
Também Carla Couto preconizou sanções para dissuadir comentários, como os sexistas ou os racistas, que "começam na base", e apelou para o impedimento de entrada nos recintos desportivos a pessoas do público que prevariquem, "para termos pavilhões ou estádios mais saudáveis", acrescentou.
A triatleta Susana Costa considera que as mulheres no desporto "já mostraram competência" e entende "não haver barreiras", desde que "sejam dadas oportunidades".
Para Susana Costa, têm de ser "as entidades que desenvolvem o desporto que têm de olhar com mente aberta para que haja esse direito de igualdade".
Patrícia Resende, andebolista, acentuou que, do convívio entre atletas de diferentes idades, se percebe que as gerações mais jovens já não são tão afetadas por situações discriminatórias.
Apesar dessa "evolução" que tem existido, a jogadora de andebol lamenta que, por vezes, ainda se destaquem características do corpo em vez do desempenho desportivo.
"Em vez de comentarem o meu golo, comentam o meu corpo", censura Patrícia Resende, que afirmou sentir-se incomodada, quer isso aconteça consigo, com colegas ou adversárias.
Telma Monteiro considerou importante a existência de mais mulheres em cargos de direção, por terem maior sensibilidade "para estas questões" sentidas no feminino.
"O ideal seria que isso acontecesse de forma natural, mas não acontece, então, numa fase inicial, talvez façam sentido as quotas, porque pode ser uma forma de chamar a atenção", referiu a judoca.
A atleta olímpica exortou ainda todos a intervir quando se observam situações com terceiros que não são justas, "mesmo que não nos afete a nós".
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou hoje a criação da plataforma digital para permitir a denúncia de qualquer tipo de discriminação e sancionar esses comportamentos.
O presidente, Fernando Gomes, acrescentou que "este novo instrumento permitirá, como em outras áreas de intervenção da FFP, denunciar qualquer tipo de discriminação de género, de raça, orientação sexual ou discriminação de pessoas com deficiência".
Segundo o presidente da FPF, as denúncias feitas na plataforma "serão acompanhadas e punidas" dentro do "quadro normativo" da federação.