Os adeptos de futebol estão «completamente contra» a Superliga europeia, uma «competição fechada onde o mérito desportivo é completamente colocado de lado», disse hoje à agência Lusa a presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA).
“Não queremos mais jogos de futebol, queremos melhores jogos, competitividade entre as equipas e proteção das Ligas nacionais, que é disso que vive verdadeiramente o desporto e não destas Ligas milionárias onde só entra quem tem cartão de acesso, ou seja, euros”, criticou Martha Gens.
A presidente da APDA lembrou, de resto, que já em janeiro a associação e os grupos organizados de adeptos de Sporting, FC Porto, Benfica, Sporting de Braga e Vitória de Guimarães se associaram a uma posição conjunta contra a Superliga europeia da Football Supporters Europe (FSE), que inclui grupos organizados de adeptos dos principais clubes europeus, entre os quais alguns dos fundadores da competição.
Adeptos de Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham (Inglaterra), Atlético de Madrid, Barcelona e Real Madrid (Espanha), mas também de clubes que, para já, não se encontram entre os 'fundadores' da Superliga, como Paris Saint-Germain (França) e Bayern de Munique (Alemanha), assinaram essa posição conjunta.
“Todos os adeptos do futebol europeu estão contra a criação deste que parece quase um clube de golfe, onde só entra quem tem convite e quem paga. Não interessa se jogamos bem ou mal, é uma espécie de partidas entre amigos. E isto tira todo o sentido que as competições europeias ainda têm”, reforçou Martha Gens.
Para a representante dos adeptos portugueses, o anúncio da criação da Superliga europeia “é a concretização formal de uma morte anunciada ao desporto vivido na bancada” e é uma “tentativa desavergonhadamente assombrosa de acabar com o futebol como um dia foi imaginado”.
“Mais um pouco, já não me admiraria que nestas competições houvesse pipocas nas bancadas e Lady Gaga nos intervalos”, ironizou.
Por outro lado, dificilmente os principais clubes portugueses teriam acesso à Superliga europeia, admitiu a presidente da APDA, lembrando também que, se tiverem, “ela vai corromper os horários das competições nacionais”.
“O que é ainda mais desastroso num calendário que não protege os adeptos, que continua a ter jogos às segundas-feiras às 21:00. Quem sai prejudicado é o adepto que gosta de ir ver o seu clube ao sábado à tarde, que já nem isso vai poder fazer”, lamentou.
Ainda segundo Martha Gens, a criação de uma competição reservada “faz cair por terra toda a ideia do mérito desportivo”, assim como “a sensação e o vibrar de um jogo bem disputado” e no qual o adepto de qualquer clube “tem uma taça no seu horizonte”.
“É a subversão total dos valores do desporto, mais ainda para os adeptos. É oficializar de que o dinheiro manda neste desporto e fazê-lo sem vergonha nenhuma”, concluiu Martha Gens.
No domingo, AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, FC Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham "uniram-se na qualidade de clubes fundadores" da Superliga, segundo um comunicado enviado à AFP.
Os promotores da Superliga adiantam que a prova será disputada por 20 clubes, pois, aos 15 fundadores - apesar de terem sido anunciados apenas 12 -, juntar-se-ão mais cinco clubes, qualificados anualmente, com base no desempenho da época anterior.
A época arrancará em agosto, com dois grupos de 10 equipas e os jogos, em casa e fora, serão realizados a meio da semana, mas todos os clubes participantes continuarão a disputar as respetivas ligas nacionais.
O comunicado dos 12 clubes surge no mesmo dia em que a UEFA reafirmou que excluirá os clubes que integrem uma eventual Superliga europeia de futebol, e que tomará "todas as medidas necessárias, a nível judicial e desportivo" para inviabilizar a criação de um "projeto cínico".