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Superliga: As 48 horas de vida de um projeto condenado ao fracasso

A polémica Superliga europeia desmoronou-se em apenas 48 horas, com os adeptos, sobretudo os ingleses, a recuperarem momentaneamente a voz no futebol e a impulsionarem uma debandada entre os clubes fundadores do projeto, numa lista que continua a crescer.

Superliga: As 48 horas de vida de um projeto condenado ao fracasso
Futebol 365

Dois dias bastaram para a ascensão e a queda da Superliga europeia, irremediavelmente condenada ao fracasso após o ‘Brexit’ dos clubes ingleses, consumado na noite de terça-feira, com comunicados a conta gotas de Manchester City, Liverpool, Arsenal, Manchester United, Tottenham e Chelsea, um exemplo seguido esta manhã por Atlético de Madrid e Inter de Milão.

As 48 horas mais frenéticas do futebol começaram com a ‘bomba’, lançada na noite de domingo, na véspera da divulgação do novo modelo da Liga dos Campeões: após horas de insistentes rumores, reforçados por um comunicado no qual a UEFA ameaçava excluir das competições nacionais e internacionais os clubes que participassem numa liga privada, assim como os seus jogadores, um comunicado de três páginas anunciava a criação da Superliga.

Doze clubes entre os mais ricos tinham criado uma competição exclusiva e elitista, num modelo quase fechado, que reuniria 15 membros-fundadores e cinco convidados a cada temporada. Eram eles AC Milan, Inter de Milão e Juventus, da Liga italiana, Real Madrid, Atlético de Madrid e FC Barcelona, da Liga espanhola, e os ‘Big 6’ ingleses.

“Os clubes fundadores receberão um pagamento único no valor de aproximadamente 3,5 mil milhões de euros, destinados exclusivamente a investimentos em infraestruturas e compensar o impacto da pandemia de covid-19”, informavam em comunicado, adiantando que a nova competição pretendia “gerar recursos suplementares para toda a pirâmide do futebol”.

Numa ação preventiva, os 12 clubes fundadores da Superliga avisaram mesmo os líderes da FIFA e da UEFA que iriam interpor uma ação judicial para impedir os esforços destas organizações no sentido de proibir o avanço da nova competição, e, para reforçarem a sua intenção, começaram a abandonar a Associação Europeia de Clubes (ECA), com o Manchester United e a Juventus a tomarem a dianteira.

As reações não se fizeram esperar de todos os quadrantes, do desporto à política, com todos, à exceção dos envolvidos, a condenarem o ‘capricho’ destes 12 clubes, comandados pelo presidente do Real Madrid, Florentino Pérez.

“A UEFA e o futebol estão unidos contra a proposta que vimos de alguns clubes na Europa que são movidos pela ganância. Toda a sociedade e os governos estão unidos contra estes planos cínicos, que são contra o que o futebol deve ser”, defendeu o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, equivalendo a Superliga a “cuspir na cara de todos os que gostam de futebol” e apelidando de “cobras” movidas por “ganância, egoísmo e narcisismo” as equipas dissidentes.

Mais ou menos violentas, as críticas ao projeto da Superliga uniram FIFA, federações e governos nacionais – incluindo o português -, instâncias europeias, mas também equipas de elite, como os poderosos Bayern Munique, Borussia Dortmund, ou Paris Saint-Germain, treinadores, como Pep Guardiola (do Manchester City), ou atuais e antigos jogadores, com destaque para o português Bruno Fernandes, estrela do Manchester United, e para o capitão do Liverpool, Jordan Henderson, o mais inconformado dos jogadores da Premier League – chegou a convocar uma reunião de capitães para hoje, cancelada após o recuo dos ‘Big 6’.

Em Portugal, o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, admitiu terem existido alguns contactos informais de alguns clubes sobre a matéria, aos quais não deu “grande atenção”, por serem “algo que é contra as regras da União Europeia e da UEFA”, enquanto Sporting, Benfica e Sporting de Braga se opuseram veementemente à criação da Superliga.

Num verdadeiro clima de ‘guerra civil’, com ameaças de parte a parte – a exclusão dos jogadores desses 12 clubes das seleções nacionais era uma das ‘armas’ esgrimidas por UEFA e FIFA -, promessas de longas batalhas judiciais, quedas em bolsa e retiradas de patrocinadores, foram os adeptos ingleses os rostos mais visíveis da queda em desgraça do projeto: verdadeiros amantes do desporto-futebol, protestaram diante dos seus estádios, com os do Chelsea a serem os mais sonoros na reprovação do projeto.

Cientes de que sem o apoio dos adeptos a Superliga europeia estaria condenada ao fracasso desde o primeiro momento, os clubes ingleses recuaram, num ‘Brexit’ com pedidos de desculpa, nomeadamente de Arsenal e Liverpool.

Num gesto ‘desesperado’, os restantes membros do ‘grupo exclusivo’ reagiram em comunicado já na madrugada de hoje, garantindo que, “apesar da anunciada partida dos clubes ingleses, forçados a tal decisão devido à pressão exercida sobre eles”, estavam convictos de que a sua proposta “está completamente alinhada com as leis e regulamentos europeus” e prometendo “reconsiderar os passos a dar para remodelar o projeto”.

Sem os representantes da Premier League, o projeto estava condenado, uma realidade reconhecida pelo presidente da Juventus, o polémico Andrea Agnelli, ao mesmo tempo que Atlético de Madrid e Inter de Milão também anunciavam a saída.

Sem formalizar um adeus definitivo, o AC Milan ter aberto a porta a um possível abandono do projeto.

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