O diretor do site francês Mediapart, Edwy Plenel, assegurou hoje que Rui Pinto não interferiu no trabalho do consórcio europeu de jornalistas de investigação que trabalhou sobre a informação dos casos ‘Football Leaks’, ‘Malta Files’ ou ‘Luanda Leaks’.
Na audição durante a 37.ª sessão do julgamento do processo ‘Football Leaks’, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, o jornalista francês manifestou também a sua convicção de que “é apenas a uma pessoa” que se deve “a libertação destes documentos” e que só soube que Rui Pinto estava por detrás da plataforma eletrónica após o anúncio do advogado William Bourdon. E vincou que Rui Pinto “jamais exigiu controlar o trabalho” realizado.
“Há uma tomada de consciência que se traduz na passagem de um simples blogue para a divulgação da informação. Nós tratávamos dos documentos lançados pelo ‘John’, que depois se veio a verificar ser Rui Pinto. Os documentos serviam como base para as nossas investigações”, indicou a testemunha, que completou de seguida: “Rui Pinto não queria ser um simples ladrão de documentos, mas um cidadão que agia pelo interesse público.”
De acordo com Edwy Plenel, chegaram ao consórcio European Investigative Collaborations (EIC) - do qual faz parte o Mediapart, entre outros órgãos de comunicação social europeus – “mais de 70 milhões de documentos confidenciais”. A informação veio por via do jornalista alemão Rafael Buschmann, do Der Spiegel, que tinha ‘John’ como fonte, com Edwy Plenel a garantir que os documentos não vinham já estruturados para a análise dos jornalistas.
“Os documentos foram entregues sem qualquer indicação ou organização prévia. Nós é que escolheríamos segundo o interesse público”, observou, sem deixar de clarificar: “No essencial, estes documentos têm informação de interesse público. Esse manancial não foi explorado ainda nem pelos media, nem pela justiça. Vamos ter ainda de fazer essa separação.”
Sobre os casos ‘Luanda Leaks’ e ‘Malta Files’, revelados posteriormente em relação ao Football Leaks’, Edwy Plenel notou que nunca teve conhecimento da origem dos documentos. Porém, expressou a ideia de que os mesmos “mostravam o que se passava em termos de evasão fiscal e corrupção com a cobertura de escritórios de advogados e paraísos fiscais”.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.