A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), principal sigla que faz oposição ao Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, considera, em entrevista à Lusa, que o país deu uma resposta catastrófica à emergência sanitária provocada pela pandemia de covid-19.
“É uma resposta catastrófica porque desde o início da pandemia, o Governo Federal, principalmente o Presidente, agiu de forma a negar a pandemia, ou seja, [adotou] atitudes negacionistas e [passou] a desconsiderar os efeitos que isto poderia ter no Brasil”, afirmou Gleisi Hoffmann à Lusa.
Deputada federal e presidente do PT, partido político que tem a segunda maior bancada na câmara baixa do Congresso brasileiro, Hoffmann criticou declarações de Bolsonaro sobre a pandemia, que incluem expressões insensíveis em relação ao luto das famílias das vítimas e a alusão de que a doença não passava de uma “gripezinha”.
Bolsonaro "não tomou nenhuma providência para que o Brasil se preparasse de forma organizada para enfrentar [a covid-19]. Não montou um comité de crise com governadores, prefeitos, cientistas, sociedade civil, muito pelo contrário”, disparou Hoffmann.
“Ele [Bolsonaro] quis colocar a questão da economia em primeiro lugar na pandemia dizendo que todos tinham que ir trabalhar, não estimulou o uso de máscara nem comprou para distribuir à população, nem álcool em gel, andava pelo Brasil e, ainda anda causando aglomeração, sem máscara. Ou seja, ele fez uma política de jogar a população contra o vírus”, acrescentou.
Segundo a líder da oposição, esta atitude do Presidente brasileiro também teve reflexos institucionais já que portarias e decretos de lei criados pelo Governo desde o início da crise sanitária, em fevereiro de 2020, mostram que o combate à pandemia não era algo essencial, que deveria ter sido enfrentada com ações efetivas do Estado brasileiro.
“Nós estamos tendo hoje este número de mortes e este número de infetados por uma ação deliberada do Presidente. Ele mesmo foi um propagandista de que as pessoas não deviam se cuidar, desconstruindo tudo que a ciência e a medicina apontavam”, acusou.
Hoffmann também declarou não ter dúvidas de que as ações do Presidente brasileiro correspondem a prática de crime contra a humanidade.
“Ele [Bolsonaro] jogou o povo contra o vírus, não é por outra razão que nós temos [quase] 400 mil mortos e devemos chegar a quase 500 mil mortos entre o final de maio e [início de] junho. É uma tragédia, é muita gente morrendo sem atendimento, morrendo por falta de oxigénio. As entubações [ato de colocar pacientes em ventiladores pulmonares mecânicos] estão a ser feitas sem anestesia, não tem camas de tratamento intensivo [em número] suficiente. Eu não tenho dúvidas, ele é um genocida”, afirmou.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde do Brasil, o país registou cerca de 385 mil mortos e pelo menos 14,1 mil casos confirmados de covid-19.
O gigante sul-americano só está atrás dos Estados Unidos em número de mortos. Quando se leva em conta número de infetados o Brasil é superado novamente pelos Estados Unidos e pela Índia, que passa por uma nova onda de contaminações e mortes nos últimos dias.
Questionada se o desempenho negativo do Brasil na pandemia afeta a imagem do país no mundo, Hoffmann disse acreditar que sim e acrescentou que a gestão da crise sanitária já causou danos à economia.
“Vai ser um desafio reconstruir esta imagem [do Brasil]. Se tiver um Governo com seriedade, com compromisso e olhando a importância das relações internacionais e da convivência harmónica com os demais países, acho que a gente consegue avançar. Agora, com o Bolsonaro, dificilmente”, avaliou.
“O Brasil virou um pária internacional. Hoje nós somos vistos como um país que depreda seu meio ambiente, que não cuida da amazónia e, nesta questão do vírus, especificamente, como uma ameaçada, o que é muito triste”, concluiu a presente do PT.
A pandemia de covid-19 provocou mais de três milhões de mortos no mundo, resultantes de 145 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.