Os voos domésticos em Cabo Verde, operados por uma única companhia, movimentaram no primeiro trimestre deste ano quase 26 mil passageiros, menos 55.500 (-68,2%) face ao mesmo período de 2020, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.
De acordo com dados disponibilizados pela Agência de Aviação Civil (AAC) de Cabo Verde, que regula o setor no arquipélago, de janeiro a março registaram-se 51.682 passageiros em voos domésticos em embarques e desembarques nos quatro aeroportos internacionais e três aeródromos do país.
Como cada passageiro é contado no embarque e no desembarque (aeroportos diferentes), trata-se de um movimento de 25.841 pessoas em voos domésticos, operados apenas pela companhia aérea Transportes Interilhas de Cabo Verde (TICV), o que compara com os 81.428 passageiros (162.856 somando embarques e desembarques) nos primeiros três meses de 2020, ainda antes dos efeitos da pandemia, segundo os dados da AAC compilados hoje pela Lusa.
No espaço de um ano, antes e depois da pandemia, os voos comerciais domésticos em Cabo Verde perderam desta forma 55.587 passageiros.
Em janeiro, segundo a AAC, a TICV transportou 9.400 passageiros (-71,6%) em 205 voos, em fevereiro 7.140 (-74,9%) em 180 voos, e em março 9.300 (-53,3%), em 225 voos.
Tal como sucedeu anteriormente, para o mês de abril, a TICV não estava a disponibilizar bilhetes para voos em maio, o que só aconteceu a partir de 23 abril, confirmou a Lusa junto da empresa.
Numa comunicação dirigida anteriormente aos colaboradores da empresa, o diretor-geral da companhia, Luís Quinta, justificava a situação com o momento vivido pelo setor devido à pandemia e recordava que a TICV não recebeu até hoje qualquer apoio do Estado, apesar de os voos terem sido suspensos, por decisão do Governo, de abril até 15 de julho de 2020.
“Isto aliado à quebra de passageiros, não é sustentável para nenhuma companhia, como é óbvio, daí precisarmos de apoios financeiros e outros”, lê-se na comunicação, em que o diretor da companhia indicava haver conversações entre os acionistas da empresa e o Governo cabo-verdiano.
As quebras no primeiro trimestre sucedem-se às de 2020, ano em que os voos domésticos em Cabo Verde, operados apenas pela TICV, movimentaram cerca de 125 mil passageiros, menos 286 mil (-230%) face ao ano anterior, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.
Em 2017, os passageiros das ligações aéreas domésticas em Cabo Verde atingiram o recorde de quase 465 mil (movimento total de 929.595 em embarques e desembarques), com mais de 10.200 voos.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, disse em março que o Governo está disponível para intervir também no setor dos voos domésticos, para evitar que haja “interrupção” nas ligações interilhas.
A posição foi assumida pelo chefe do Governo, no parlamento, no último debate mensal da legislatura anterior, ao ser questionado pela intervenção do Estado na Cabo Verde Airlines (CVA), privatizada em março de 2019 e que assegurava as ligações internacionais, estando sem atividade há um ano, devido à pandemia.
Confrontado com as opções da legislatura também nos voos domésticos, assegurados apenas pela TICV, sem ser conhecido qualquer apoio público, contrariamente à CVA - cinco avales do Estado para empréstimos bancários de cerca de 20 milhões de euros -, Ulisses Correia e Silva não descartou alargar esse cenário.
“Deixem-me ser claro. Quer nos transportes aéreos interilhas, quer internacionais, o Governo está a atuar e a intervir onde for necessário para não haver descontinuidade, para que não haja interrupção, para que não haja falência do sistema. Essa é a nossa responsabilidade”, afirmou o primeiro-ministro.