O FC Porto requereu à Comissão Disciplinar da Liga uma investigação para ''apurar todos os factos e os seus autores'' relativos à suspensão do delegado João Pedro Dias, bem como saber ''a entidade que beneficiaria e aproveitaria da falsificação do relatório''.
Num documento a que a Agência Lusa teve acesso, o FC Porto pergunta ''o que terá motivado o delegado a cometer um 'ilícito disciplinar muito grave' de forma tão estranha e imprudente?'', ao mesmo tempo que questiona a facilidade com que o delegado terá ''colocado em causa o seu bom-nome''.
''Porque terá o delegado colocado em causa o seu bom-nome e reputação de forma tão displicente? O que o determinou a mentir? A promessa de alguma recompensa ou favor? Ou terá sido exercida alguma 'violência moral' sobre o delegado, isto é, terá o delegado sido alvo de alguma coacção que o levasse a mentir e a cometer um ilícito muito grave? Qual a entidade que beneficiaria e aproveitaria da falsificação do relatório?''.
A tese do FC Porto, fundamentada no acórdão da Comissão Disciplinar da Liga, onde segundo o próprio órgão disciplinar, abundam as provas da falsificação do relatório, é que alguém terá coagido ou corrompido o delegado da Liga, de forma a este adulterar o relatório, pretendendo que a Comissão Disciplinar investigue e puna os responsáveis pelo comportamento ilícito do delegado.
''Afigura-se atentatório da lógica e da razoabilidade que o Delegado tenha agido de 'motu proprio', sem uma motivação externa, sendo, pois, à luz deste quadro, que vimos pelo presente requerer a V. Exas. se dignem promover uma investigação a fim de apurar todos os factos e os seus autores que possam ter relação directa ou indirecta com a prática deste ilícito disciplinar muito grave'' conclui o requerimento.
Estes eventuais ilícitos estão previstos no Regulamento Disciplinar, nos artigos 53 (Corrupção de outros agentes desportivos) e 54 (Coação), tendo ambos a moldura penal para esta situação de subtracção de três pontos e derrota no jogo em causa e multa entre os 25 mil euros e os 100 mil.
Em causa estão os acontecimentos após o final do jogo da Liga Benfica-Nacional, da época passada, que terminou com um empate a zero, com o árbitro Pedro Henriques a anular um golo ao Benfica nos instantes finais.
Após o final da partida o jogador do Benfica Nuno Gomes seria expulso por Pedro Henriques - e posteriormente condenado a dois jogos de castigo -, bem como o assessor da SAD Paulo Gonçalves seria castigado, em ambos os casos por alegados insultos ao juiz da partida.
O relatório do árbitro Pedro Henriques aludia a estes casos, enquanto o relatório do delegado da Liga não fazia referência a quaisquer acontecimentos anómalos, tendo a semana passada a Comissão Disciplinar tornado público o castigo de ano e meio de suspensão do delegado João Pedro Dias, por ter cometido um ''ilícito muito grave''. Como matéria de prova a Liga, no sumário do acórdão que tornou público, refere os diversos testemunhos, entre os quais de um assessor de comunicação do Benfica, e até as imagens do sistema de vídeo-vigilância do túnel de acesso aos balneários.