Os comerciantes portugueses de Chaves e os galegos de Feces de Abaixo estão satisfeitos com a reabertura da fronteira que «nunca devia ter fechado» e por poderem retomar a atividade económica entre os dois países.
"Estamos felizes pela reabertura de algo que nunca devia ter fechado. A fronteira não deve estar encerrada para a população transfronteiriça", destacou hoje à agência Lusa Puri Regueiro, proprietária de um supermercado em Feces de Abaixo, Verín, na Galiza, em Espanha, que faz fronteira com Chaves, no distrito de Vila Real.
As fronteiras terrestres com Espanha, fechadas pela segunda vez desde 31 de janeiro devido à pandemia de covid-19, vão reabrir no sábado, anunciou na quinta-feira o primeiro-ministro no final da reunião do Conselho de Ministros sobre a última fase de confinamento.
Nas duas últimas sextas-feiras (16 e 23 de abril), comerciantes galegos de Feces de Abaixo, que faz fronteira com Vila Verde da Raia, em Chaves, realizaram ações de protesto pela reabertura da fronteira.
Na segunda manifestação, que levou ao corte de estrada por parte dos comerciantes galegos, também aderiram ao protesto alguns comerciantes flavienses.
Puri Regueiro foi uma das impulsionadoras das manifestações e hoje, no balcão onde regista as compras, podia ler-se o cartaz, em galego '3.ª Concentración Feces de Abaixo - 30 de abril' para reclamar a abertura da fronteira.
Apesar do cartaz desatualizado, pois hoje já não haverá manifestação, a galega garantiu que "valeu a pena todo o esforço para fazer ver aos políticos que este é um espaço especial".
"A nossa economia não progride uns sem os outros. Muitos clientes portugueses já me ligaram e estão desejosos de vir", adiantou ainda a comerciante.
Não muito longe, ainda em Feces de Abaixo, Angel Alonso, proprietário de um posto de abastecimento de combustíveis, que também organizou as manifestações, confessou estar satisfeito por "poder retomar o negócio como habitualmente".
"Felizmente a doença está a abrandar, o que é importante pois este não é só um problema económico, mas também de saúde. Mas o mais importante é que esta ligação entre Portugal e Espanha funcione de outra maneira", salientou.
Para o empresário, que emprega cerca de oito portugueses, é necessário "permitir a circulação" caso volte a ser necessário fechar fronteiras.
No lado português, a contagem decrescente também já começou. Rui Machado, empresário flaviense que emprega cerca de 100 funcionários em atividades como grandes armazéns, restauração ou hotelaria, contou à Lusa que a retoma deve acontecer já após o esforço para manter todos os postos de trabalho.
"O principal é começar a trabalhar já. Todas as zonas de fronteira vivem à custa uns dos outros e esta é uma grande notícia para nós", destacou o empresário.
Rui Machado referiu ainda que as manifestações demonstraram que os raianos de Portugal e Espanha "sempre estiveram juntos e que não há razão para haver fronteira".
Helena Teixeira, proprietária de uma recauchutagem na Zona Industrial de Chaves, já recebeu contactos de espanhóis para segunda-feira retomarem a ligação habitual.
"Perguntaram preços e se havia pneus em ‘stock’. As coisas vão ficar bem mais animadas agora", destacou a empresária que também se juntou à manifestação dos galegos.
Para Helena Teixeira, a reabertura de fronteira vai permitir que "o mercado anime e melhore" e a união entre flavienses e galegos demonstrou que "todos precisam de todos".
Chaves e Verín, localidades separadas por 28 quilómetros, formam mesmo desde 2008 uma eurocidade, um projeto de cooperação transfronteiriço que envolve a partilha de um cartão de cidadão que dá acesso a piscinas, bibliotecas, eventos, formações ou concursos, bem como uma agenda cultural e, mais recentemente, transportes.
A eurocidade Chaves-Verín tinha também defendido, em 19 de abril, a livre circulação de pessoas nos espaços que ligam localidades portuguesas e espanholas, para minimizar o impacto económico causado pelo encerramento das fronteiras devido à pandemia de covid-19.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.152.646 mortos no mundo, resultantes de mais de 149,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.974 pessoas dos 836.033 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.