A seleção portuguesa de futebol poderá extrair benefícios face à pressão da Alemanha em alcançar o primeiro triunfo no Euro2020, no jogo com o atual detentor do troféu, no sábado, frisou à agência Lusa o ex-defesa internacional Beto.
“Acho que sim, porque Portugal entrou bem, está confiante e ganhou 3-0 a uma Hungria que jogava em casa. A Alemanha vem com algumas dúvidas para este jogo, porque, se não conquista os três pontos, torna as suas aspirações muito difíceis. De certeza que a seleção vai aproveitar este pequeno nervosismo germânico”, observou o ex-central.
Portugal e Alemanha defrontam-se no sábado, às 18:00 locais (17:00 em Lisboa), no Allianz Arena, em Munique, em jogo da segunda ronda do Grupo F do Euro2020, quatro dias após o triunfo luso sobre os magiares e a derrota germânica com a França (0-1).
“É sempre difícil prever favoritismos. Aposto obviamente no nosso país, porque está motivado. A Alemanha terá de dar tudo por tudo para continuar em prova, senão arrisca-se a ficar fora, sendo que os últimos anos nestas competições já não têm sido famosos. Acredito que vai ser um jogo equilibrado, mas com algum poder de Portugal”, apontou.
Falando numa estreia “determinada e dominadora” da equipa de Fernando Santos, Beto reconheceu que os atuais campeões europeus “tiveram várias ocasiões” para quebrar a resistência magiar “mais cedo” do que o golo de Raphaël Guerreiro, aos 84 minutos.
“Numa competição tão curta, mexidas vão sempre haver, nem que seja uma ou duas. Agora, acredito que será uma equipa dentro do género [de terça-feira]. Portugal ganhou e não vai entrar à maluca em campo. Vai tentar controlar o jogo, apesar de achar que a Alemanha entrará com tudo. Há que precaver isso nos 15/20 minutos iniciais”, advertiu.
Assim que o ‘nulo’ foi desfeito em Budapeste, os anfitriões “abriram-se mais” na tentativa de resgatar uma igualdade, mas foi a formação das ‘quinas’ a disparar na marcha do marcador, com um ‘bis’ de Cristiano Ronaldo, aos 87, de penálti, e aos 90+2 minutos.
O ‘capitão’ saiu da Puskás Arena como o primeiro a jogar cinco fases finais de Europeus (2004, 2008, 2012, 2016 e 2020) e no topo dos ‘artilheiros’ em 16 edições da prova, com 11 tentos em 22 jogos, à frente dos nove marcados pelo francês Michel Platini, em cinco encontros, disputados em 1984.
“Qualquer equipa beneficia com o Cristiano. É um monstro do futebol, ponto final. É óbvio que, por acréscimo, se conseguir coisas a nível pessoal, melhor. Contudo, acho que pensa mais na equipa do que nele próprio. Poderá bater mais recordes, mas estou certo de que vai querer dar o melhor em prol da seleção para atingir mais um objetivo”, notou.
Roberto Severo, de 45 anos, conhecido no futebol por Beto, confia que Portugal “vai chegar longe” na defesa do título conquistado há cinco anos em França se “demonstrar vontade e querer e estiver concentrado”, sem esquecer o “fator sorte” nas eliminatórias.
“Portugal entrou bem, somou três pontos e agora tem um jogo de uma outra dificuldade. Há que lhes tirar o poder de jogo e ter muita paciência com bola para encontrar os espaços certos, porque a Alemanha apresenta uma equipa compacta. Penso que tem bons jogadores, com um misto de experiência, mas ainda não se encontrou”, avaliou.
A ‘mannschaft’, tricampeã em 1972, 1980 e 1996, as duas primeiras como República Federal da Alemanha, entrou a perder com um autogolo de Mats Hummels, aos 20 minutos, diante dos atuais campeões mundiais e vice-campeões europeus em título.
“A primeira parte da Alemanha é muito má, mas conseguiu melhorar bastante a partir daí. A França também baixou linhas, defendeu muito mais atrás e não foi tão pressionante. Penso que isso foi estratégico para obrigar o adversário a expor-se, até porque tinha depois duas motas na frente, como [Kylian] Mbappé e [Antoine] Griezmann”, analisou.
Os lusos vão medir forças com os germânicos pela quinta vez em fases finais de campeonatos da Europa, depois de duas derrotas (2-3 em 2008 e 0-1 em 2012), um empate (0-0 em 1984) e um triunfo na última jornada do Grupo A do Euro2000 (3-0).
“Não éramos favoritos, mas já estávamos apurados para a segunda fase e fizemos uma boa exibição. Alguns atletas menos utilizados, como o meu caso, quiseram aproveitar a oportunidade para se mostrarem frente à campeã europeia”, lembrou Beto, que atuou como lateral direito em Roterdão, num jogo selado pelo ‘hat-trick’ de Sérgio Conceição.
Com dois campeonatos, uma Taça de Portugal e duas Supertaças conquistadas pelo Sporting entre 2000 e 2002, o ex-central sagrou-se campeão europeu de sub-18 por Portugal em 1994 e somou dois golos em 31 internacionalizações pela seleção ‘AA’.
A primeira aparição deu-se em setembro de 1997, precisamente perante a ‘mannschaft’, em Berlim, onde, com a equipa das ‘quinas’ em vantagem, graças ao tento de Pedro Barbosa, o árbitro francês Marc Bata expulsou Rui Costa por demorar a sair do campo.
“Foi a minha estreia, por isso nunca me esqueço dos jogos com a Alemanha. Foi aquilo que toda a gente viu. Nunca mais vi nada igual. Como já disse publicamente mais que uma vez, esse lance foi à descarada. Essa geração merecia ter estado no Mundial de França. Infelizmente, foi-nos tirado pelo nosso querido amigo árbitro”, lamentou.
Portugal jogou em inferioridade numérica desde os 74 minutos e esperou para colocar Sérgio Conceição, o substituto original de Rui Costa, no lugar de João Vieira Pinto, tendo sofrido o tento do empate de Ulf Kirsten (1-1) e comprometido o acesso ao Mundial de 1998.