Um grupo carnavalesco de São Vicente utilizou a paragem dos últimos meses, que deixou aquela ilha, capital do Carnaval em Cabo Verde, sem os tradicionais desfiles, para apostar na proteção ambiental, com um documentário e produzindo trajes ecológicos.
“Desde o início do mês de julho estamos a recolher lixo das praias para serem transformados em figurinos e carros alegóricos do Carnaval”, explicou à Lusa Jailson Juff, o presidente do grupo Cruzeiros do Norte, que já no passado sábado realizou um desfile na praia de Jon D’Ebra, no Mindelo.
Ainda com limitações devido à pandemia de covid-19, sem aglomeração de pessoas e anunciado poucas horas antes, o desfile teve a particularidade de utilizar trajes ecológicos feitos pelo próprio grupo a partir dos materiais que recolheram nas praias da ilha de São Vicente, numa espécie de Carnaval de verão a pensar na retoma da festa.
Com o grupo parado desde o Carnaval de 2020, que voltou a levar milhares de turistas à ilha de São Vicente, antecedendo o início da pandemia em Cabo Verde, os elementos do Cruzeiros do Norte aproveitaram o tempo para assumir a preocupação ambiental e até já lançaram nas redes sociais uma música alusiva à causa.
A ideia, de acordo com Jailson Juff, é chamar a atenção dos banhistas, para não abandonarem lixo nas praias, e dos pescadores, para recolherem os detritos e restos de rede que podem ser prejudiciais para a vida marinha.
Produziram até um documentário, divulgado nos últimos dias, que aborda a proteção das espécies marinhas e a reciclagem.
No concorrido Carnaval de São Vicente, uma das maiores festas populares em Cabo Verde, o Cruzeiros do Norte venceu a competição em 2019 e ficou em segundo lugar em 2020.
Este trabalho, e o desfile feito há uma semana, é também uma amostra do Carnaval de verão nos tempos atuais, evento que vinha sendo habitual em São Vicente e que há dois anos que não se realiza, também devido à pandemia.
A expectativa, conta o dirigente, é que esta ação se torne num estímulo para 2022, depois da ausência este ano dos desfiles e da competição oficial de Carnaval em Cabo Verde, devido às restrições provocadas pela pandemia de covid-19.
“Conforme estamos a confecionar as peças, as pessoas têm gostado do resultado e sugerem-nos um Carnaval neste âmbito. Será obviamente algo a ser pensado. Estamos à espera de informação da autarquia, da Liga Oficial dos Grupos Carnavalescos de São Vicente e dos parceiros ligados ao Carnaval para avançarmos com o novo enredo”, diz Jailson Juff, que acrescenta que só assim poderão procurar parceiros para financiar o projeto.
A terceira edição do Carnaval de verão de São Vicente, misturando ritmos cabo-verdianos e brasileiros, em desfiles de folia e brilho, aconteceu no início de agosto de 2019, suspensa desde então.
O fim da situação de calamidade decretado pelo Governo há uma semana e o anúncio da reabertura de várias atividades e setores em função da vacinação foi um “ânimo” para este grupo, que acredita em 2022 já será possível realizar o Carnaval.
“A nossa expectativa é que haja Carnaval e estamos a mobilizar as pessoas para se vacinarem e esperamos que a meta de vacinados do país seja atingido o mais breve possível para que sejam realizados os eventos de grande porte, como é o caso do Carnaval. Alguns do grupo já estão vacinados”, garantiu.
Com ou sem Carnaval anunciado, o grupo Cruzeiros do Norte não para e já tem em andamento a formação da própria batucada. “Há quatro meses que abrimos inscrição para formarmos a nossa batucada e podemos considerar que já temos tocadores. A nossa vontade é de colocar o Carnaval nas ruas e o pessoal está cheia de vontade de trabalhar”, atira.