O regresso de José Mourinho ao futebol inglês possibilitou ao treinador José Morais, seu adjunto no Chelsea, entre 2013/14 e 2015/16, admirar a popularidade do ‘special one’ gerada na passagem pelos londrinos na década anterior.
“É quase como um bom filho que à casa torna. Notei a alegria do público e das pessoas com quem já tinha convivido. Teve anos de êxito, trouxe o sucesso que o clube não tinha tido durante anos e é relembrado como uma figura muito importante. A popularidade era enorme, mas andava com ele de clube em clube”, contou à agência Lusa o treinador.
Terminado um ciclo de três temporadas nos espanhóis do Real Madrid, o setubalense reencontrou-se com o magnata russo Roman Abramovich no verão de 2013 e garantiu o regresso à mais excitante liga europeia, assumindo-se logo na sucessão do espanhol Rafael Benítez, vencedor da Liga Europa às custas do Benfica, como o ‘happy one’.
“Como treinadores, vivemos mais o envolvimento todo do que só a emoção no estádio. Culturalmente, estamos mais próximos dos espanhóis do que dos ingleses. Se tivesse de escolher entre os dois países, claramente vivia em Espanha. Não é forçosamente com todos. Se perguntar ao Mourinho, se calhar dirá que Inglaterra é Inglaterra”, comparou.
Da passagem inicial por Stamford Bridge (2004-2007), onde foi bicampeão (2004/05 e 2005/06), quebrando uma ‘seca’ de 50 anos, e venceu Taça de Inglaterra (2006/07), uma Supertaça (2005) e duas Taças da Liga (2004/05 e 2005/06), o ex-treinador do FC Porto reviu figuras como Petr Cech, John Terry, Ashley Cole, Michael Essien e Frank Lampard.
“Era uma qualidade diferente, mas mesmo assim conseguiu. O José Mourinho tem essa coisa de tornar as equipas competitivas, mesmo quando não subsiste a melhor das qualidades. Creio que isso é uma das suas virtudes e uma das imagens de marca. Pode tornar campeã uma equipa aparentemente sem grandes nomes”, valorizou José Morais.
A época de reentrada no Chelsea não proporcionou títulos, sobressaindo a derrota na Supertaça Europeia para os alemães do Bayern Munique e a eliminação nas meias-finais da Liga dos Campeões com os espanhóis do Atlético de Madrid, por entre o último lugar do pódio na ‘Premier League’, com 82 pontos, a quatro do ‘milionário’ Manchester City.
Os ‘blues’ estiveram mais pujantes em 2014/15, quando juntaram o quinto de seis campeonatos, com 87 pontos, oito acima dos ‘sky blues’, à quinta e derradeira Taça da Liga, apesar do desaire com os franceses do também endinheirado Paris Saint-Germain nos ‘oitavos’ da ‘Champions’, a única prova que ‘Mou’ jamais conquistou em Londres.
Nessa época chegaram Diego Costa e Filipe Luís (ambos ex-Atlético Madrid), Cesc Fàbregas (ex-FC Barcelona) e Juan Quadrado (ex-Fiorentina), além do regressado Didier Drogba (ex-Galatasaray), principal referência ofensiva da primeira passagem do setubalense, que já só tinha Hilário como único resistente do contingente português.
“Ele gosta desse envolvimento e sente-se perfeitamente confortável. Penso que tem o sentimento de que nasceu para isto. Tem qualidades naturais que o fazem liderar de forma eficaz jogadores desse tipo, mas também busca conhecimento e é extremamente inteligente, reunindo à volta dele pessoas que têm ambição, querem estar na frente e estão sempre à procura de qualquer coisa nova, porque ele próprio é assim”, descreveu.
José Mourinho manteve os adjuntos, Rui Faria, Silvino Louro e José Morais, todos em sintonia desde a época dourada nos italianos do Inter Milão, em 2009/10, mesmo que o luso-angolano tenha saído temporariamente para voltar a treinar os sauditas do Al Shabab, vencendo uma Supertaça (2014), e os tunisinos do Espérance de Tunis.
“O que explica o sucesso é a sinergia que possa existir entre as personalidades inseridas no grupo de trabalho. Soube sempre escolher muito bem as pessoas com quem se fez acompanhar. Aquilo que aprendi com ele, acho que não aprenderia com mais ninguém. Também não trabalhei com mais ninguém da dimensão dele, porque não há”, apontou.
Em dezembro de 2015, apenas sete meses depois de ter conquistado a ‘Premier League’, a equipa técnica portuguesa acordava a rescisão com o Chelsea, então 16.º colocado da ‘Premier League’, com 15 pontos, um acima da zona de descida, abalado com nove derrotas em 16 jornadas, que deixaram ‘Mou’ desempregado durante quase meio ano.
“Há períodos em que sofremos e temos de nos recuperar, mas chega a uma fase em que deixamos as coisas passar e voltamos a estar numa dimensão diferente e numa versão melhor. Se alguns seguem a trabalhar, outros afastam-se durante algum tempo”, frisou.
O treinador mais bem-sucedido da história do Chelsea continuou por Inglaterra nas cinco épocas seguintes, trabalhando no Manchester United (2016-2018) e no Tottenham (2019-2021), ao passo que José Morais, de 56 anos, reiniciava a carreira a solo, inspirado por alguém “mais sábio hoje em dia” e que “já combina o cabelo com a camisa branca”.
“No meu subconsciente, existem dois aspetos. Um é que ele faz gosto que eu faça uma carreira e tenha sucesso. Além disso, no momento em que for possível e necessário estarmos juntos outra vez, quase que por obrigação moral e sentimental vou com a mesma alegria que tenho em ser técnico principal. Não imponho condições”, afiançou.
José Mourinho, de 58 anos, vai cumprir o milésimo jogo nos bancos no domingo, na receção da Roma ao Sassuolo, em jogo da terceira jornada da Liga italiana, 21 anos depois da estreia como treinador principal pelo Benfica, em 23 de setembro de 2000.