Um grupo de 40 artistas plásticos moçambicanos foram convidados a criar uma galeria de arte ao ar livre junto à marginal de Maputo, pintando contentores do novo espaço de restauração e convívio, o Mercado Municipal do Frango e Magumba.
A área entre a avenida e a areia vai albergar dezenas de bancas que até há dois anos proliferavam de forma desordenada junto à praia da Costa do Sol e que foram retiradas pelo município, que passou a proibir venda em locais impróprios como passeios públicos.
Com baldes de tinta, pincéis e 'sprays' à mão, os 40 artistas plásticos pintam “a cultura moçambicana”, retratam movimentos, figuras e paisagens em 36 contentores transformados em restaurantes para venda de frango e peixe magumba (variedade semelhante à sardinha).
A iniciativa é da autarquia de Maputo, em colaboração com a CTA - Confederação das Associações Económicas de Moçambique.
“Transmitimos a cultura" e "os tons têm muito a ver com este espaço tropical”, disse à Lusa Samuel Djive, um dos artistas plásticos e curador envolvido no projeto.
Djive é artista plástico há mais de 15 anos, uma paixão alimentada desde criança que o levou até à Escola de Artes de Maputo e que pretende fazer crescer com formação superior na mesma área, explicou.
“Para mim, a galeria a céu aberto é muito boa porque é para todos, não interessando o 'status' social da pessoa. Todo o mundo pode vir para aqui e apreciar”, referiu o artista plástico, enquanto dava os últimos retoques no contentor que pintou.
Na primeira fase foram pintados 13, seguindo-se outros 23 na segunda fase que deverá terminar este fim de semana, explicou Nicole Henriques, representante da CIN, que ofereceu as tintas para a iniciativa.
“Nós próprios sentimos que a arte e a cultura são aspetos que precisam ser valorizados no dia-a-dia. É importante que estejam expostos, não só em galerias de arte, mas em intervenções como esta”, destacou.
Os 40 artistas pertencem ao Núcleo de Artes de Maputo e a seleção foi feita através de um concurso no qual cada um apresentou um esboço.
Eugénio Saranga, artista plástico há 30 anos, foi um dos selecionados e adivinha que o mercado vai ser um bom espaço para que as pessoas interajam com a arte e o lazer, lamentando o facto de poucos moçambicanos visitarem galerias.
“Trazer a arte a céu aberto é aproximá-la do público, de pessoas que normalmente não vão às galerias”, referiu, enquanto conduzia o seu pincel sobre a imagem de um barco com pescadores.
O projeto custou cerca de 70 milhões de meticais (948 mil euros), segundo Bruno Miguel, arquiteto e presidente do pelouro da Terra e Ambiente na CTA, que acrescenta que a ideia da galeria surgiu para “abraçar os artistas”, que se ressentem dos impactos da pandemia de covid-19.
Antes da instalação do mercado, o espaço "estava um pouco abandonado", sem ser um bom exemplo para "a imagem da cidade”, notou Bruno Miguel.
O novo Mercado Municipal do Frango e Magumba, ainda sem data para a inauguração, vai receber cerca de 209 vendedores.