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Antigos futebolistas cabo-verdianos reclamam estatuto como artistas e combatentes - autor

Os primeiros futebolistas internacionais cabo-verdianos do pós-independência estão a pedir um estatuto idêntico aos artistas e combatentes da liberdade da pátria, segundo o investigador José Mário Correia, que lança hoje um livro em homenagem a esses antigos atletas.

Antigos futebolistas cabo-verdianos reclamam estatuto como artistas e combatentes - autor
Futebol 365

“Esse estatuto que eles pretendem reclamar, na ideia de que eles também foram grandes embaixadores e que não podem aparecer uma linha abaixo dos agentes culturais e dos antigos combatentes da liberdade da pátria”, disse à Lusa o também jornalista e professor cabo-verdiano, autor do livro “Das bolas de trapo ao primeiro troféu: Os Heróis de 1978”.

O livro é uma homenagem aos primeiros internacionais cabo-verdianos do pós-independência, uma biografia comentada de duas dezenas de atletas que, segundo o autor, não “são muito tidos ou achados em muitas circunstâncias” e estão “lutando por um reconhecimento”.

Tal como os agentes culturais e antigos combatentes, esses antigos futebolistas foram os “grandes embaixadores” de Cabo Verde logo após a independência de Portugal em 1975.

Das opiniões recolhidas, José Mário Correia concluiu que existem dois grupos de atletas, sendo um com necessidades urgentes - alguns acabaram por morrer na miséria - e outro grupo bafejado pela sorte e que vive melhor.

Segundo o autor, o ponto comum entre essa geração dos anos 50 do século passado é que todos abraçaram a causa do desporto e do futebol e quiseram representar o seu país “de forma desinteressada, pedindo muito pouco em troca”.

O autor acredita que a partir do próximo ano alguma coisa poderá começar a ser resolvida com a implementação efetiva da portaria que atribuiu uma pensão de sobrevivência aos desportistas que representaram as seleções cabo-verdianas.

Para o investigador, o livro poderá dar um contributo no sentido do reconhecimento desses antigos internacionais, cuja história é praticamente desconhecida pelo público em geral.

“É um testemunho sistematizado, organizado e comentado que apresento não só a eles, que estavam desejosos de serem reconhecidos, ainda que simbolicamente, mas também para que faça o Governo ver que agora sim há um trabalho de muito mérito que eles fizeram”, salientou.

Com cerca de 350 páginas, a obra de Santa Clara (pseudónimo de José Mário Correia) traça os perfis individuais desses antigos futebolistas, considerados “autênticos heróis” que conquistaram, na Guiné Bissau, o primeiro troféu por Cabo Verde, em 1978, a Taça I de Maio.

“Depois desta altura, a seleção de Cabo Verde esteve a jogar e só 21 anos depois é que ganhou o troféu seguinte, a Taça Amílcar Cabral, na Praia. Portanto, consideram-se uns heróis”, referiu.

Para José Mário Correia, “Das Bolas de Trapo ao Primeiro Troféu – Os heróis de 1978” é uma coletânea de biografias e uma homenagem a estes antigos internacionais cabo-verdianos.

“Não há por ora nenhuma pesquisa do género publicada ou registo histórico sistematizado exclusivamente sobre eles, pelo que com este livro os cabo-verdianos e o mundo voltam a ganhar, mas agora ganham a sua história… a nossa rica história”, prosseguiu.

Esses antigos internacionais são Quim, Nhu Branco, Dany, Armandinho, Mané-Djodje, Betinho, Djudjú, Djoy-Di-Mama, Djô de Pedra de Lume, Djedjê, Rubon-Chiqueiro, Flávio, Zé-Di-Nhana, Makuna, Dimas, Calú-Pitão, Cadino e Balon, sob comando técnico de José Antunes “Toka”, José Resende “Djidjé” e Caetano Pires (massagista).

Já morreram Rubon Chiqueiro (2005), Quim (2012), Djô de Pedra de Lume (2015), Cadino (2015), Toka (2001), Djidjé” e Kaita”.

O livro vai ser apresentado hoje na Biblioteca Nacional de Cabo Verde, na cidade da Praia, em 16 de dezembro no Centro de Estágio da Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF), em São Vicente, e em 23 deste mês em Espargos, na ilha do Sal.

Este é o segundo livro de José Mário Correia sobre o futebol cabo-verdiano, depois de “Nas rotas dos Tubarões Azuis - 40 anos de história da seleção nacional (2016)”, lançado em janeiro de 2016, e que conta a história da seleção de futebol após a independência do arquipélago.

Autor ainda de “Da Cabopress à Inforpress (2011)”, iniciou a sua carreira de jornalista profissional, em outubro de 1988, na Agência Cabo-verdiana de Notícias, Inforpress, da qual foi presidente.

É licenciado em Jornalismo Internacional e doutorando em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais, pela Universidade do Porto, e já foi diretor-geral do Ensino Superior cabo-verdiano.

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