O guarda-redes brasileiro Gustavo Galil reproduziu hoje a mestria de Ricardo no Euro2004, ao anotar o sétimo e último penálti do Leça, após travar dois do Paredes, rumo aos ‘quartos’ da Taça de Portugal de futebol.
“Fui eu que pedi para marcar. Era a sétima cobrança e vi uma indecisão muito grande no meio-campo para ver quem ia cobrar. Estava muito confiante, preparado e tinha treinado durante a semana. Na hora em que vi ali aquela indecisão e ninguém queria bater, falei eu. Pude ser feliz e ajudar a equipa”, confidenciou aos jornalistas o jogador, de 23 anos, ‘herói’ improvável da partida disputada no Estádio do Leça FC, em Leça da Palmeira.
O Leça venceu o Paredes no desempate por grandes penalidades, por 6-5, após 1-1 no prolongamento, no jogo entre os únicos clubes ‘resistentes’ do Campeonato de Portugal, quarto escalão nacional, para regressar aos ‘quartos’ da prova ‘rainha’ 26 anos depois.
Nani adiantou no marcador o líder da Série C, aos 27 minutos, mas Ismael, de penálti, repôs o empate para o ‘vice’ da Série B, aos 41, que se arrastou até à ‘lotaria’ na marca dos 11 metros, onde Gustavo Galil reviveu o estatuto de ‘herói’ dos matosinhenses.
Depois de já ter travado quatro pontapés em cinco possíveis frente ao primodivisionário Arouca, na terceira ronda, em 17 de outubro, o ‘guardião’ manteve-se intratável na baliza, ao deter os pontapés de Ismael e Ema, contra uma parada do paredense Marco Ribeiro face a Paulo Lopes, e pegou na bola para eternizar mais uma tarde de ‘sonho’ em Leça.
“Já estava a demorar muito [risos]. Era o sétimo penálti e estava com medo de ir para o oitavo e para o nono. Disse logo que ia resolver aquilo”, gracejou o brasileiro, que quase imitou na perfeição o momento épico de Ricardo pela seleção portuguesa no Euro2004, eternizado em 24 de junho desse ano, no Estádio da Luz, em Lisboa, com a Inglaterra.
O acesso às ‘meias’ do torneio realizado em solo nacional, no qual a equipa das ‘quinas’ se sagraria vice-campeã europeia, foi resolvido nos penáltis, após 2-2 nos 120 minutos, com o então guarda-redes do Sporting a ver David Beckham atirar por cima da barra logo no primeiro remate dos ingleses e, ao sétimo, a impor-se no duelo com Darius Vassell.
Ato contínuo, Ricardo tirou as luvas e ‘selou’ perante David James uma épica vitória de Portugal, pelos mesmos 6-5 com que o Leça afastou o Paredes e colocou um clube do quarto escalão nos ‘quartos’ da Taça de Portugal pela primeira vez desde 1999/00, época em que o Dragões Sandinenses, então na III Divisão, só perdeu frente ao Sporting (0-3).
“A sensação é difícil de descrever, porque é, mais uma vez, um momento muito especial na carreira. Estou muito feliz e só quero desfrutar. Vou para o Brasil agora. O meu voo sairá daqui a duas horas, mas tenho de estar no aeroporto dentro de uma. Vou poder estar perto da família, amigos e namorada”, contou junto ao relvado o ‘guardião’ oriundo do estado de Minas Gerais, que não precisou de tirar as luvas para se transcender.
Habitual suplente de João Pinho no Campeonato de Portugal, Gustavo Galil já tinha sido titular nas rondas anteriores da Taça de Portugal, contribuindo para os triunfos sobre Gil Vicente (1-0) e Arouca (2-1 nos penáltis, após 1-1 no prolongamento), ambos da I Liga, Lusitânia de Lourosa (1-0), da Liga 3, e Sporting de Pombal (4-0), dos escalões distritais.
“Venha quem vier. Claro que, se vier uma equipa ‘grande’, será um momento e um jogo especial. Com certeza, vamos estar preparados para disputar a eliminatória. Agora, o nosso foco agora é descansar. Vamos ter uns dias de férias e, depois, voltar a trabalhar e pensar no Alvarenga”, frisou, apontando à próxima partida no Campeonato de Portugal.
O Leça já igualou a melhor prestação de sempre na prova ‘rainha’, estabelecida em 1994/95, quando, então na II Liga, foi goleado na receção ao FC Porto (0-4), tendo recebido a meio da temporada 2018/19 Gustavo Galil, então contratado ao Sobrado.
“Não quero dizer que sou especialista [a defender penáltis], porque ainda tenho um caminho muito grande para trilhar e tenho de provar mais a cada dia. É um momento de muita gratidão para mim. Tive muito ídolos. Buffon, Júlio César e, mais recentemente, Ederson. Quando às grandes penalidades, tive o Diego Alves, que é especialista”, concluiu o também ex-guarda-redes dos juniores do Sport Canidelo e do Varzim B.