O conflito físico de quarta-feira com Liedson não só marcou o fim da curta carreira de Ricardo Sá Pinto como director de futebol do Sporting, como fez recordar a agressão ao então seleccionador nacional Artur Jorge, em 1997.
O incidente após o jogo com o Mafra (4-3) voltou a fazer lembrar o lado mais ''negro'' da personalidade de Sá Pinto, que enquanto jogador se notabilizou pelo seu espírito abnegado, mas de fácil conflito.
Na memória de muitos ainda está o dia em que Artur Jorge divulgou os convocados para um jogo com a Irlanda do Norte, em Abril de 1997, e Sá Pinto, que não fazia parte da lista de eleitos, deslocou-se de propósito ao Estádio Nacional, agredindo o seleccionador.
A situação com Artur Jorge não terá tido ainda maior impacto devido à intervenção do adjunto Rui Águas, com quem Sá Pinto também trocaria agressões.
Perante este cenário, o futebolista foi suspenso e o Sporting não teve outra solução senão transferi-lo para Espanha, onde Sá Pinto cumpriu três épocas (1997/2000), com seis golos em 70 jogos.
Na quarta-feira, o agora director de futebol Ricardo Sá Pinto terá criticado Rui Patrício, após o guarda-redes cometer um erro no lance do segundo golo do Mafra, e depois envolveu-se num conflito com Liedson.
Segundo a imprensa desportiva, o goleador leonino não terá gostado da reprimenda do director ao guarda-redes e a discussão prosseguiu até final do jogo, com Sá Pinto e Liedson a terem-se alegadamente envolvido em agressões já no balneário.
Apesar das funções distintas nos dias de hoje, Sá Pinto e Liedson chegaram a jogar juntos e também aí o relacionamento teve momentos difíceis, um dos quais aconteceu em 2005, quando os jogadores se envolveram numa discussão sobre quem marcava uma grande penalidade.
Na ocasião, Sá Pinto, sobre quem tinha sido cometida a falta, tirou a bola das mãos de Liedson, o marcador oficial da equipa, e marcou ele mesmo a grande penalidade.
O seu relacionamento também não foi o melhor com Paulo Bento, com quem jogou e de quem foi jogador, e o antigo técnico leonino, que em Novembro foi substituído por Carlos Carvalhal, disse mesmo que o agora ex-director de futebol ''nunca trabalharia'' consigo, por “questões de confiança”.
Paulo Bento prestou as declarações após a sua saída de técnico e quando a SAD leonina anunciou a contratação de Sá Pinto para director, chegando ao ponto de afirmar que essa situação já estaria a ser pensada quando era treinador.
Jogador com as emoções à flor da pele, começou a dar nas vistas no Salgueiros, onde fez parte da sua formação e iniciou a carreira de futebolista profissional, levando o Sporting a recrutá-lo em 1994.
O avançado cedo se tornou um ''menino querido'' em Alvalade: o seu temperamento e entrega ao jogo entusiasmavam a massa adepta leonina, que chegou a dedicar-lhe tarjas e a dar-lhe a designação de ''Ricardo Coração de Leão''.
Alinhou no Sporting de 1994 a 1997 - em 77 jogos marcou 20 golos -, mas foi ''obrigado'' a sair para a Real Sociedad depois de ter sido suspenso pela agressão a Artur Jorge.
Sá Pinto regressou a Alvalade em 2000, pelas mãos do presidente Dias da Cunha, e ainda foi a tempo de ser capitão e se sagrar campeão nacional pelos “leões” (2001/02), disputando 97 jogos entre as épocas de 2000 e 2006 (14 golos).
Despediu-se de Alvalade com um cartão vermelho (em 2006 frente à Naval) e na época seguinte cumpriu a sua última época como futebolista, no Standard Liège (21 jogos e dois golos).
Mesmo na equipa belga manteve a ligação ao Sporting, escolhendo a camisola número 76, representativa do ano de fundação da Juventude leonina, a claque que continuava a ostentar a tarja ''Grande Capitão'' em alusão ao jogador.
Na quarta-feira à noite, Sá Pinto colocou um ponto final no seu regresso ao Sporting, agora como director de futebol, numa passagem de apenas pouco mais de dois meses e na qual mostrou, uma vez mais, o seu lado temperamental.