Dois cetros de campeão do mundo e a medalha de bronze nos Jogos de Tóquio2020 parecem distantes para o judoca português Jorge Fonseca, que sente a falta dos títulos europeu e olímpico para “dormir tranquilo”.
“Preciso das duas medalhas, de campeão da Europa e campeão olímpico, acho que tenho capacidade para isso (…)”, sublinhou o judoca em entrevista à agência Lusa, a poucos dias de ter nova oportunidade para ser campeão da Europa.
Na carreira, conseguiu ser medalha de bronze em 2020 nos Europeus de Praga, mas em Lisboa, no último ano, assume que sentiu a pressão de lutar em casa, o que pesou num resultado aquém das expectativas (sétimo classificado).
“Não soube lidar com a pressão, queria dar aos portugueses uma grande alegria, porque nunca me viram lutar em Portugal, era um grande campeonato da Europa, estava eufórico, treinei bastante, nem dormia, estava sempre a treinar, queria ganhar aquele campeonato”, assumiu, com frustração.
Uma derrota que não abalou a vontade de ser campeão europeu, numa competição para a qual diz que se sente agora mais capaz, numa fase da carreira em que depois de Lisboa até voltou, uns meses depois, a ser campeão do mundo e a subir ao pódio olímpico.
“Olho para o meu treino, olho para o ‘ranking’ mundial, olho para o animal que estou a construir dentro de mim, não vejo ninguém que me meta em perigo, então estou a calcular as coisas para não ter falhas, não cometer erros, não perder o meu foco. Uma coisa de cada vez, neste momento quero ser campeão da Europa, quero ser campeão olímpico e estou a trabalhar para isso”, acrescentou.
Em mente continuam estas duas medalhas que considera especialmente em falta, a mais valiosa que pode ter num Europeu, em que competirá já no próximo domingo em Sófia, na Bulgária, e a mais importante, que também ambiciona, nos ainda distantes Jogos de Paris2024.
“É a única coisa que me falta para poder dormir em paz, meter a cabeça na almofada e dizer ‘fogo já posso acumular as minhas medalhas e dormir com elas’ na almofada e dizer que já conquistei o que me faltava”, insistiu.
Embora tenha sido campeão europeu de sub-23, também na Bulgária, em 2013, em Samokov, nos arredores de Sófia, o judoca explica que quer elevar o patamar neste campeonato continental, em que assume não pensar em menos do que vencer, mesmo quando questionado se perder também não faz parte de quem compete.
"Falhar seria uma grande desilusão, é um trabalho que também faço com a psicóloga. Mas falhar acontece, teria de admitir o erro e estar depois no treino de novo com outra ambição, e voltar a conquistar aquilo que é meu. Tenho fome de medalhas, todas as medalhas são minhas e vou trabalhar para isso, este é o meu foco", defendeu.
Uma estratégia que passa pelo ‘projeto’ mental e físico que Jorge Fonseca encontrou, com a ajuda do treinador Pedro Soares e da psicóloga Ana Ramires, os ‘apoios’ fundamentais no caminho de sucesso do único judoca português campeão mundial.
Ao lado explosivo que lhe é natural, o bicampeão mundial consegue agora juntar a capacidade de resistir ao longo de um combate, de quatro minutos ou mais, com o segredo a estar no trabalho que dedica também à parte muscular.
“É difícil ter as duas coisas, mas, neste momento, estou a trabalhar para ter as duas coisas, explosão e resistência durante os quatro minutos. É muito duro, tenho de trabalhar muito mais do que trabalhava, é o que faço para ter as duas coisas ao mesmo tempo, para ser o atleta que tenho na minha cabeça”, explicou.
Outro aspeto que melhorou foi no controlo do peso, com o judoca a significativa diferença entre ter de perder 10 quilos, como acontecia antigamente, ou conseguir fazer um controlo que lhe permita não chegar de rastos à pesagem e ao combate.
“O peso conta muito em relação a como vou estar no combate, se perder muito peso no dia seguinte vou estar horrível, e se tiver o meu peso as provas correm novamente muito bem. O que tento fazer agora é controlar tudo, tornei-me um atleta, agora olho para mim e faço as coisas certas. O caminho é este, não há outra solução, não posso olhar para trás e cometer os mesmos erros”, disse.
Em Sófia, o selecionador Pedro Soares espera Jorge Fonseca “num bom momento de forma”, com confiança para um grande resultado, num campeonato que entender ser um dos mais competitivos, com pouca margem para um erro de qualquer atleta.
“Está num bom momento de forma, não perdeu um combate desde que viemos dos Jogos Olímpicos, fez três competições [Grand Prix de Portugal, Open Europeu de Praga e Grand Slam de Antália] venceu-as todas, não sofreu qualquer vantagem técnica, são 13 combates a vencer sem cair, temos esta confiança para nos empurrar agora para um resultado grande no campeonato da Europa, sabendo que o nível é tão elevado e se as coisas não nos correrem bem isso não nos vai atirar abaixo, nem desfocar daquilo que são os nossos objetivos grandes, ser novamente campeão do mundo e tentar uma medalha maior nos Jogos Olímpicos”, disse à Lusa, Pedro Soares.
Os Europeus de judo em Sófia, na Bulgária, decorrem entre sexta-feira e domingo, com Portugal a contar com Jorge Fonseca (-100 kg), Catarina Costa (-48 kg), Joana Diogo (-52 kg), Telma Monteiro (-57 kg), Bárbara Timo (-63 kg), Patrícia Sampaio (-78 kg), Rodrigo Lopes e Francisco Mendes (-60 kg), João Crisóstomo (-73 kg), João Fernando (-81 kg) e Anri Egutidze (-90 kg).