O julgamento de elementos do núcleo duro da claque não legalizada do Benfica No Name Boys inicia-se na próxima terça feira, na 5.ª Vara Criminal de Lisboa, com 38 arguidos, dos quais três se encontram em prisão preventiva.
Num julgamento com 16 processos conexos, os arguidos estão indiciados de associação criminosa, tráfico de estupefacientes, posse de armas, incêndio, venda ilegal de ingressos para eventos desportivos, dano com violência, roubo qualificado, ofensa à integridade física e arremesso de objetos.
De acordo com o despacho de acusação a que a agência Lusa teve acesso, de 18 de maio de 2009, os acusados praticaram crimes ''minuciosamente planeados e executados com superioridade numérica e mediante a utilização de meios especialmente perigosos'', em nome dos No Name Boys, que se auto-denominavam ''Braço Armado do Benfica''.
O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa considerou que os No Name Boys agiam ''motivados por ódio e intuitos de destruição, sem motivação relevante, contra elementos das claques'' do Sporting e do FC Porto.
Alguns dos arguidos são acusados de ações violentas contra elementos afetos à claque do Sporting Juve Leo, tendo um sofrido ''socos, pontapés e facadas'' e ainda foi queimado ''com uma tocha''.
Nas buscas realizadas a residências de elementos do núcleo duro dos No Name Boys, as autoridades encontraram uma lista de ''namoradas, cônjuges e restantes familiares'' dos elementos daquela claque do Sporting, ''alargando o leque de potenciais alvos e formas de pressão''.
''Estas ações, extremamente metódicas e cirúrgicas, revelam personalidades mal formadas, com elevada ausência de responsabilização, desconformes às regras desportivas e à convivência democrática'', lê-se no despacho, que sublinha o ''ódio patológico e irracional contra os adeptos dos clubes rivais''.
A violência era exercida igualmente contra ''agentes da Polícia que sabiam em serviço'' e ''terceiros que circulavam na via pública e que eram abordados, agredidos e roubados de forma indiscriminada''.
''Os arguidos agiam sempre livre e conscientemente, sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei'', refere-se no despacho, que menciona o episódio em que os No Name Boys incendiaram o autocarro em que viajou a claque Super Dragões, de apoio ao FC Porto.
O incidente ocorreu a 21 de junho de 2008 e o autocarro que transportou os Super Dragões para o jogo de hóquei em patins entre Benfica e FC Porto foi consumido pelo fogo, nas imediações do Estádio da Luz.
''Ao colocarem tochas no interior do veículo, sabiam que originavam um incêndio relevante e que ao impedirem a abertura das portas da viatura em chamas - com um ocupante no seu interior - lhe causavam perigo para a vida'', refere-se no documento.
Uma viatura da Polícia acorreu ao local e os agentes foram ''ameaçados por cerca de 100 elementos afetos aos No Name Boys, que arremessaram garrafas'' contra o automóvel e remeteram em direção do carro ''um 'very light', com a clara intenção de os atingir''.
Os atos de violência do núcleo duro dos No Name Boys foram investigados pela 3.ª Esquadra de Investigação Criminal da PSP a partir de 2008.
No final desse ano, mais de 30 pessoas foram detidas no âmbito da ''Operação Fair Play'', que permitiu a apreensão de armas brancas e de guerra, material pirotécnico e droga.
O relatório da Polícia foi concluído a 14 de abril de 2009, com um total de 53 indiciados, número que foi reduzido para 38 no despacho de acusação do DIAP.