O Tondela vai transcender-se domingo numa inédita final da Taça de Portugal de futebol para contrariar a “elevada percentagem” de êxito do FC Porto, uma semana depois da despromoção à II Liga, confia o treinador Quim Machado.
“Esse marco de atingir a final vai ficar na história. Agora, esta descida é triste para um clube que estava na I Liga há sete anos e, de certa forma, se estava a tentar estabilizar e a ganhar algumas raízes ali. Esquecendo aquilo que está para trás, este jogo representa muito para o clube e para os jogadores, que irão fazer tudo, naturalmente, para ficar na história”, observou à agência Lusa o técnico, que subiu os beirões à I Liga em 2014/15.
O campeão nacional FC Porto, com 17 troféus, e o estreante Tondela lutam no domingo, a partir das 17:15, pela conquista da final da 82.ª edição da prova ‘rainha’, que volta ao Estádio Nacional, em Oeiras, após ter sido realizada nas últimas duas temporadas à porta fechada em Coimbra.
“Não é fácil um clube pequeno atingir a final da Taça de Portugal. Está aí a oportunidade, sabendo que será extremamente difícil. O Tondela tem pouca probabilidade de triunfar e irá apanhar pela frente um adversário muito competente, que fez uma época fantástica e não vai querer facilitar. Agora, é uma final, e tudo pode acontecer. Um por cento é um por cento”, antecipou.
Quim Machado vinca essa tese de que “não há vencedores antecipados” com a decisão de 1998/99, quando, como jogador do Campomaiorense, perdeu com o já despromovido Beira-Mar (0-1), numa “tarde extraordinária” para o povo da vila raiana de Campo Maior.
“Sei que vai acontecer o mesmo com o Tondela. Independentemente da descida, haverá uma grande festa, já que a Taça de Portugal é isso mesmo. As pessoas vão deslocar-se ao Jamor, querem estar presentes, e esquecer tudo o que está para trás, para apoiar os jogadores a ganhar o troféu. Isso é marcante, bonito e fica na história do clube”, notou.
Esse clima festivo contrasta com as “marcas anímicas” da primeira ‘queda’ na II Liga do Tondela, que foi 17.ª e penúltimo colocado da I Liga, com 28 pontos, um abaixo da vaga de acesso ao ‘play-off’ de permanência e menos três do que a zona de ‘salvação’ direta.
“Quando se desce de divisão, os jogadores vão abaixo. No imediato, e após o desafio do campeonato, são dias difíceis de superar. Pela minha experiência, e também daquilo que já vivi, é quando faltarem dois ou três dias que o grupo se vai focar mentalmente na final. Pensam sempre em ganhar e, neste caso, há a oportunidade de fazer história”, admitiu.
Quim Machado, que jogou com o treinador dos beirões, Nuno Campos, na final da prova ‘rainha’ de 1998/99, acredita que o Tondela “tinha bons jogadores” para evitar a descida, embora “nunca tenha tido conforto”, mediante diversas manutenções logradas no limite.
“Às vezes, as coisas são bem planeadas, mas acontecem imprevistos ao longo da época que, de alguma forma, não conseguimos controlar. Nunca se pode facilitar no futebol. No ano da última subida de divisão, era um clube extremamente organizado e antecipava as situações. Se calhar, esta época descuidou-se em determinados momentos e, depois, paga-se caro com uma descida, até porque subir novamente não é fácil”, partilhou.
Em 2014/15, o ex-defesa, de 55 anos, entrou à 10.ª jornada para levar os ‘auriverdes’ do 10.º lugar ao título de campeão da II Liga, falando num “percurso fantástico”, assente na “crença no trabalho” e na “sintonia perfeita de uma estrutura pequena, mas competente”.
“O clube já se estava a preparar para a I Liga, que era aquilo que o presidente Gilberto Coimbra sempre me disse que queria. Uma vez lograda essa subida, o mais difícil são os primeiros dois anos. O Tondela superou-os e, sinceramente, nunca pensei que pudesse descer, pois tinha feito o mais difícil. Ou seja, estar sete anos na I Liga, que dão alguma experiência e estabilidade e permitem conhecer os segredos dessa divisão”, delineou.
Distinguindo a “atratividade” gerada pelas receitas televisivas do escalão principal, Quim Machado, que está sem clube desde que saiu do Vilafranquense na temporada passada, adverte que os beirões vão encontrar em 2022/23 uma II Liga “extremamente difícil”, na qual “os valores não são os mesmos” e “aquele clube que se antecipar poderá ganhar”.
“Na minha opinião, e pela experiência que tenho, o Tondela rapidamente vai ter de se mentalizar que está no escalão secundário, fazer um trabalho duro e antecipar-se o mais cedo possível o que vai suceder durante a época. Se tiver organização, competência e uma estrutura forte, penso que tem todas as condições para voltar à I Liga”, afiançou.