Patrícia Mamona admitiu que não podia pedir mais na final do triplo salto dos campeonatos do mundo de atletismo, em Eugene, nos Estados Unidos, onde repetiu o oitavo lugar alcançado em Doha2019.
Depois de ter superado a qualificação em sofrimento, devido a dores nas costas, a vice-campeã olímpica, de 33 anos, concluiu a prova com 14,29 metros, na sua quinta tentativa, melhorando em quatro centímetros a primeira, o que lhe assegurou a passagem aos três últimos saltos.
“Com a adrenalina esqueci-me um pouco das dores e pensei que tinha de saltar muito, mas mostrou-se que a forma não estava no pico. Estranhamente, não estando na melhor forma, igualei a minha melhor classificação, por isso, quando estiver a 100% espero conseguir melhor”, afirmou Mamona.
O otimismo para o futuro contrastou com o pragmatismo na avaliação da final e da sua participação em Eugene2022, com a lesão sofrida no aquecimento para a qualificação, no sábado, e a recuperação ‘milagrosa’.
“Os médicos fizeram milagres, porque até ontem [no domingo] à noite não sabia se conseguia saltar. Nem me conseguia mexer. Hoje [na segunda-feira] de manhã acordei muito melhor, voltei a trabalhar com a equipa médica e conseguiram colocar-me em condições para saltar. Passei à final, também um bocadinho à rasca, mas não podia pedir muito mais”, reconheceu.
Mamona avançou para os três últimos saltos no oitavo lugar, melhorando duas posições relativamente à qualificação, ultrapassando a ucraniana Maryna Bekh-Romanchuk e a dominicana Ana Lucia Jose Lima, que tinham sido segundas e terceiras, com 14,54 e 14,52, e na final não foram além do 10.º e do 11.º lugares, respetivamente.
A vencedora foi, mais uma vez e sem surpresa, a venezuelana Yulimar Rojas, que revalidou o título mundial e juntou-o ao olímpico e ao de pista coberta, alcançado em Belgrado, em março, quando fixou o recorde do mundo em 15,74.
Em Eugene2022, Rojas não foi além dos 15,47, mas manteve o cetro com mais de meio metro de vantagem sobre a jamaicana Shanieka Ricketts, que saltou 14,89, e a norte-americana Tori Franklin, com 14,72, apesar de ambas terem conseguido os melhores resultados do ano.
Mamona, que terminou em igualdade com a jamaicana Kimberly Williams, sétima classificada, ficou muito aquém do seu recorde nacional (15,01), que lhe valeu a prata em Tóquio2020, atrás de Rojas, e também da sua melhor marca do ano (14,42 metros), alcançada em março, nos Mundiais em pista coberta, nos quais ficou em sexto.
“Obviamente, uma pessoa acredita sempre, porque há sempre a esperança de fazer um grande salto. Mas, sinceramente, acho que é merecido, porque a minha época foi muito má, com muitas lesões, mas isso faz parte do desporto. Ainda por cima depois de um ano olímpico, que foi maravilhoso. Hoje, até ao final, acreditei que era possível, mas não saiu. Estou muito apática, acho que estou feliz porque a equipa médica fez o que eu temi que não fosse capaz e tenho de pensar no que vem para a frente”, referiu.
Mamona, campeã da Europa ao ar livre em 2016 e em pista coberta em 2021, não desistiu da temporada e apontou já aos Europeus, a disputar entre 15 e 25 de agosto, em Munique, na Alemanha.
“Tenho de recuperar, com mais calma, ainda há Munique e para o ano há dois Mundiais [em pista coberta e ao ar livre, novamente]”, realçou.
Mamona admitiu que o resultado de Eugene2022 “é um ponto baixo”, mas disse estar entusiasmada porque, “quando há um baixo, há um alto”.
O momento negativo foi agravado pela lesão contraída na qualificação, que se juntou a uma outra, que a deixou em dúvida para competir no estádio Hayward Field.
“Eu ontem não conseguia fazer um ‘sim’. Já tive algo parecido e demorou dias para passar, mas acho que a adrenalina ajudou a esquecer as dores. Eu, desde junho, em Rabat, tenho uma lesão no glúteo, que me tem impedido de correr, mas eu achava que ia conseguir, só que, no aquecimento, tive o problema nas costas, que bloquearam completamente. Até à câmara de chamada não sabia se ia conseguir correr, mas comecei a ver as atletas e decidi: vou matar-me mesmo aqui. Passei à final, de forma apertada, mas fiquei um caos depois da prova, nem conseguia pegar na mochila”, recordou.
Antes dos dois oitavos lugares, em Eugene2022 e Doha2019, a atleta ‘leonina’ tinha sido nona em Londres2017, 16.ª em Pequim2015 e 27.ª em Daegu2011.