Joaquim Gomes garantiu hoje que as notícias sobre a não realização da 83.ª Volta a Portugal “são exageradas”, apesar da “bomba” das buscas efetuadas à casa de ciclistas, assumindo sentir “vergonha relativamente a tudo que se está a passar”.
“Estas desagradáveis surpresas das últimas semanas e, em particular, este caso concreto de hoje – eu ainda não tenho a noção exata da dimensão do que estamos a falar -, tiram a motivação a qualquer um”, desabafou o diretor da prova ‘rainha’ do calendário nacional.
Em declarações à agência Lusa, Joaquim Gomes esclareceu que as notícias sobre um eventual ‘cancelamento da 83.ª edição, que vai para a estrada na quinta-feira, em Lisboa, “são exageradas”, embora reconheça que “há um sentimento de vergonha relativamente a tudo isto que se está a passar”.
“Efetivamente, quando este ambiente começava a acalmar, cai novamente uma bomba destas… obviamente que isto é desmotivante para qualquer um. Vou mandar a toalha ao chão? Claro que não, mas estou preocupado”, admitiu.
O diretor da Volta a Portugal mostrou-se apreensivo com o impacto que as buscas realizadas hoje pela Polícia Judiciária possa ter Federação Portuguesa de Ciclismo e na Podium, a empresa organizadora, “que não têm culpa nenhuma disto” e que, “aliás, são as duas entidades mais prejudicadas”, mas, em particular, “nos municípios e marcas que estão envolvidos na Volta e se esforçam por acreditar num evento que é, de facto, uma excelente ferramenta de promoção, com enorme notoriedade e simbolismo”.
“Depois do calvário que foi a notícia da W52-FC Porto, estava longe de pensar que essa péssima mensagem que passou e podia ter alterado a forma de estar, pelos vistos, de algumas pessoas que ainda estavam nesta caravana [não fosse entendida]”, pontuou, ressalvando, no entanto, não conhecer os detalhes do caso.
A PJ realizou hoje buscas “em locais ligados a equipas de ciclismo” no âmbito da operação ‘Prova Limpa’, confirmou à Lusa fonte ligada à investigação, esclarecendo que o objetivo “principal foi a recolha de prova, nomeadamente documentação”.
A mesma fonte detalhou que a PJ “realizou buscas em vários pontos do país, em simultâneo, em locais ligados a equipas de ciclismo, no âmbito da operação ‘Prova Limpa'”, tendo estas “como objetivo principal a recolha de prova, nomeadamente de documentação e não a detenção de qualquer suspeito”.
As buscas acontecem a dois dias do arranque da 83.ª Volta a Portugal em bicicleta, que estará na estrada entre quinta-feira e 15 de agosto.
Entre os ciclistas cuja casa foi alvo de buscas estão Francisco Campos, entretanto afastado da equipa Efapel, e Daniel Freitas, excluído da Volta a Portugal pela Rádio Popular-Paredes-Boavista, segundo confirmaram à Lusa, respetivamente, os diretores desportivos José Azevedo e José Santos.
Também um corredor da Glassdrive-Q8-Anicolor está entre alvos das buscas, com o diretor desportivo Rúben Pereira a preferir não revelar a identidade do mesmo.
No final de abril, 10 corredores da W52-FC Porto foram constituídos arguidos e o diretor desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, foi mesmo detido, assim como o seu adjunto, José Rodrigues, no decurso da operação ‘Prova Limpa’, a cargo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto.
“A operação policial, envolvendo um total de cerca de 120 elementos provenientes da Diretoria do Norte e ainda das Diretorias do Centro e do Sul, da Unidade Nacional de Combate à Corrupção e dos Departamentos de Investigação Criminal de Braga, Vila Real e Guarda, contou ainda com a colaboração da ADoP”, detalhou a PJ, em 24 de abril, indicando que durante a mesma “foram apreendidas diversas substâncias e instrumentos clínicos, usados no treino dos atletas e com impacto no seu rendimento desportivo”.
A União Ciclista Internacional (UCI) retirou, na semana passada, a licença desportiva à W52-FC Porto, depois de oito dos seus ciclistas, além de dois elementos do ‘staff’ terem sido suspensos preventivamente pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP).