O Clube Atlético e Cultural (CAC) denunciou hoje o incumprimento da Câmara de Lisboa na construção do Complexo Desportivo Municipal de Carnide, para substituir as instalações que o município destruiu para avançar com o projeto da nova feira popular.
“Estão cerca de 400 atletas sem poder praticar a atividade no clube”, indicou o CAC, clube desportivo da Pontinha, em Odivelas, no distrito de Lisboa, que se dedica à formação de jovens na modalidade de futebol e que tem também equipas de desporto adaptado (‘Goalball’ e futebol para cegos).
Em comunicado, o presidente do CAC, António Roque, disse que o clube se encontra numa situação de “incerteza” em relação ao futuro, porque continua por cumprir a promessa da Câmara de Lisboa quanto à construção do Complexo Desportivo Municipal de Carnide, “para substituir aquele que a mesma destruiu para que fosse feito no mesmo local a nova feira popular”.
“O Clube Atlético e Cultural esteve nos últimos quatro anos a utilizar as instalações do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) em Odivelas, sempre com a promessa que seria só mais um ano, porque o seu novo complexo estaria construído rapidamente”, referiu o presidente do CAC.
A utilização das instalações do SJPF foi permitida ao abrigo de um protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), que acabou no final do junho deste ano e “até este momento não foi renovado”, indicou António Roque, informando que o CAC está agora proibido de frequentar esse espaço em Odivelas.
A situação impede os cerca de 400 atletas do CAC de poderem praticar a atividade desportiva, numa altura em que a época desportiva 2022/2023 já começou em todos os clubes, alertou o presidente do clube da Pontinha, considerando que o período excecional e temporário da solução nas instalações do SJPF “já foi há muito ultrapassado”.
Entretanto, foi lançada uma petição “pela construção urgente do Complexo Desportivo Municipal de Carnide”, que conta já com cerca de 700 assinaturas, em que se exige o cumprimento da promessa da Câmara de Lisboa relativamente a esta obra, para resolver a situação atual dos atletas do CAC, “que é de despejados na via pública”.
A Lusa questionou a Câmara de Lisboa sobre a construção do Complexo Desportivo Municipal de Carnide e a solução de instalações para o CAC, aguardando ainda uma resposta.
Em 19 de julho de 2021, a Câmara de Lisboa aprovou o lançamento do concurso público para executar a primeira fase da construção do Complexo Desportivo Municipal de Carnide, com um preço base de 4,8 milhões de euros, em que um dos objetivos era o “realojamento do Clube Atlético e Cultural (CAC), desalojado das suas instalações, cedidas precariamente pela CML”.
Essa decisão aconteceu ainda no mandato do anterior executivo municipal, sob a presidência do socialista Fernando Medina.
Sem referir a construção do complexo desportivo, o atual presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), já defendeu a alteração do atual projeto da nova feira popular, apresentado em 2015, “para prever um novo parque urbano, com equipamentos de lazer e desporto, incluindo uma nova piscina exterior natural em Carnide, de grande dimensão, ambientalmente inovadora”.
“Todas as soluções e previsões apresentadas pelos senhores vereadores, em representação da Câmara Municipal de Lisboa, por incumbência do seu presidente, ficaram por concretizar até ao momento”, reclamou o presidente do CAC, realçando que o clube tem estatuto de utilidade pública, inclusive é responsável pela realização do mais antigo e emblemático torneio internacional de futebol infantil de Portugal na semana da Páscoa, por onde “passaram e passam grandes figuras do desporto nacional”.
Neste momento, o CAC tem algumas equipas a treinar num terreno ao lado das instalações do SJPF em Odivelas, “todo ele em terra batida”, referindo António Roque que a falta de condições se tem vindo a arrastar ao longo dos anos, “com promessas sucessivas por parte dos diversos órgãos camarários do município em modificar a situação, sem resultados práticos e visíveis até aos dias de hoje”.
“Atualmente estamos na rua sem sítio para treinar, jogar e nem para termos os nossos pertences, deplorável aos dias de hoje”, denunciou o presidente do CAC, acrescentando que os jovens que praticam futebol no clube “sentem, diversas vezes, vergonha das condições”, principalmente quando são visitados por outras equipas de todo o distrito de Lisboa.
Considerando que a atual situação financeira do país e mesmo da Europa dificulta a construção do complexo desportivo, o CAC reforçou que o projeto foi prometido após a destruição do complexo do clube, referindo que “todo o dinheiro gasto em alugueres (1,4 milhões de euros) e em obras no local onde iria ser construída a feira popular já daria para construir muitos complexos desportivos”.
“O Clube Atlético e Cultural não tem culpa da má gerência por parte de algumas pessoas que gerem os assuntos da Câmara Municipal de Lisboa”, afirmou António Roque, em comunicado, classificando como a situação como uma “vergonha” que se passa numa cidade que foi eleita como Capital Europeia do Desporto 2021.