Os vice-presidentes do Benfica Manuel de Brito e Luís Mendes vincaram hoje em tribunal que a divulgação de emails sobre o clube no Porto Canal, em 2017 e 2018, teve um impacto “notório” e “devastador”.
Na segunda sessão do julgamento do processo da divulgação dos emails do Benfica no Porto Canal, que decorreu no Juízo Central Criminal de Lisboa e que tem como arguidos o jornalista e ex-diretor do Porto Canal, Júlio Magalhães, o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, e o diretor de conteúdos do canal dos dragões, Diogo Faria, os dirigentes dos ‘encarnados’ salientaram os efeitos reputacionais e desportivos.
“Na altura foi devastador para a imagem do Benfica”, considerou o vice-presidente Luís Mendes, que apenas assumiu estas funções com a eleição de Rui Costa para a presidência, continuando: “Do ponto de vista reputacional foi terrível. Do ponto de vista desportivo, acabou por ter alguma influência nos agentes desportivos e na forma como interagiam com o Benfica, como as arbitragens. Não sou especialista, mas tenho a minha visão de adepto”.
Já Manuel de Brito, apesar de só ter ascendido ao cargo após os factos do processo, sublinhou que “acompanhava já como sócio a vida do clube” e afirmou que parte das informações divulgadas no programa Universo Porto – Da Bancada “foi alterada, truncada e divulgada da forma mais conveniente por esse canal”, embora tenha assumido não ver o Porto Canal.
“A divulgação desses emails teve um impacto notório e em caso de dúvida o Benfica era sempre penalizado”, observou o dirigente ligado à expansão internacional do clube, notando também, relativamente aos efeitos junto dos patrocinadores, que “em termos de imagem é sempre difícil recuperar”.
Em relação a estas duas testemunhas, as defesas dos arguidos insistiram sobre a visão destas face ao interesse público das informações contidas nos emails divulgados, mas o juiz Nuno Costa avisou os advogados de que essa matéria é “um conceito jurídico” e que cabe ao tribunal avaliar: “As opiniões das pessoas que passarem aqui sobre esse assunto acabam por ser irrelevantes, porque vai ser o tribunal a decidir”.
No entanto, a maior parte da manhã ficou preenchida com a audição do antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga de Clubes Carlos Deus Pereira, que assegurou não ter autorizado a exposição pública de emails particulares.
“Tive conhecimento através da televisão. Em direto fui surpreendido pelo Porto Canal com um indivíduo a mostrar um email supostamente meu. O email que enviei no âmbito das minhas atividades associativas e que apareceu não correspondia ao email que, na realidade, eu tinha reencaminhado. Foi alterado”, disse.
Carlos Deus Pereira foi depois questionado sobre a partilha de informações com jornalistas, designação onde incluiu o comentador Pedro Guerra, antigo diretor de conteúdos da Benfica TV. Em causa estariam mensagens enviadas pelo presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, com os advogados de defesa a chegarem a alegar que, porventura, também devia estar em julgamento, mas o presidente do coletivo de juízes voltou a intervir.
“Não sei qual é o interesse de estar a perder tempo com o que não é objeto do processo. Este senhor não está a ser julgado”, resumiu.
A sessão do julgamento continua de tarde com a audição de mais duas testemunhas. Para terça-feira está marcada nova sessão do julgamento, na qual devem ser ouvidos o ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, Pedro Guerra e o antigo árbitro da Associação de Futebol de Braga Adão Mendes, entre outras testemunhas.
O caso da divulgação dos emails remonta a 2017 e 2018, com comunicações entre elementos ligados à estrutura de Benfica e terceiros a serem reveladas no Porto Canal.
Francisco J. Marques é acusado de três crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações, três crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações agravados, em concurso aparente com três crimes de devassa da vida privada, e um crime de acesso indevido. O diretor de comunicação do FC Porto responde ainda por cinco crimes de ofensa a pessoa coletiva agravados e um crime de ofensa à pessoa coletiva agravado na sequência de uma acusação particular.
Já Diogo Faria responde por um crime de violação de correspondência ou de telecomunicações e um crime de acesso indevido, além de um crime de ofensa à pessoa coletiva agravado em acusação particular.
Por último, Júlio Magalhães está acusado pelo Ministério Público de três crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações agravados, em concurso aparente com três crimes de devassa da vida privada, bem como cinco crimes de ofensa a pessoa coletiva agravados.