A italiana Martina Fidanza revalidou hoje o título de campeã mundial de scratch, nos Mundiais de Saint-Quentin-en-Yvelines, menos de um ano depois de ser operada ao coração e passar por «um período muito mau».
Na corrida de 10 quilómetros, com 40 voltas em torno da pista até ao ‘sprint’ final, sem outras formas de pontuar, a ciclista transalpina, de 22 anos, defendeu o título à frente da neerlandesa Maike van der Duin, segunda, e da britânica Jessica Roberts, terceira, numa corrida em que a portuguesa Maria Martins foi 12.ª.
Fidanza, que também tem uma prata em perseguição por equipas nos Mundiais de 2021, foi a primeira pessoa a receber uma camisola arco-íris em Saint-Quentin-en-Yvelines, no primeiro dia de provas destes Mundiais, e ‘transbordou’ calma no pódio, onde muito sorria enquanto o hino de Itália despertava, em alguns italianos no meio de bancadas ‘pejadas’ de franceses, o ímpeto de o cantar.
Esta tranquilidade contrasta com as emoções e provações que descreve, à Lusa, pouco depois de revalidar um título que, em 2021, foi “uma surpresa”, admite.
Nessa prova, igualmente em França, mas no Velódromo de Roubaix, também bateu Van Der Duin, que voltou a ser segunda, mas aí não se cruzou com Maria Martins, que há um ano falhou a corrida por lesão.
A italiana ocupou, então, o espaço deixado vazio por uma ‘campeoníssima’, a neerlandesa Kirsten Wild, que em 2020 tinha conquistado o terceiro de três títulos mundiais de scratch, com ‘Tata’ Martins num inédito bronze em Mundiais para o ciclismo feminino português.
“Este ano, estava muito relaxada, então desfrutei da corrida”, resume.
De frases simples e curtas, a agora bicampeã mundial explica que este resultado é “muito importante”, não só para afastar quaisquer dúvidas sobre o seu talento e potencial, confirmando a “surpresa” anterior, mas para ‘vingar’ provações passadas.
“Tive de ultrapassar um período muito mau durante o ano”, reflete.
Fidanza foi operada em dezembro de 2021, depois de os dados dos treinos a alertarem para um batimento cardíaco muito acima do comum, ‘ganhando’ um dispositivo que regista a atividade daquele órgão, sem funcionar como um ‘pacemaker’.
Martina é a irmã mais nova de outra ciclista profissional, Arianna Fidanza, que tal como ela corre no pelotão de estrada, e filha de Giovanni Fidanza, que passou à descendência o gosto por ser velocista, tendo ganho etapas no Tour e no Giro, em que conquistou a classificação dos pontos.
Ainda assim, é a mais nova do ‘clã’ Fidanza a mais bem-sucedida, em termos de títulos e vitórias, e a ‘vingança’ das dificuldades de saúde chegou numa corrida que lhe assentou como uma luva.
“Toda a corrida esteve sob controlo pelo pelotão, o que é ‘super’ para mim. Era assim que queria chegar à meta, num ‘sprint’ compacto”, conta, em declarações à Lusa.
Ao longo da prova, o posicionamento que teve deixou claro que trazia aspirações a revalidar o título, e não deu hipótese ao começar o ‘sprint’, após a campainha tocar.
“Quando comecei a ‘sprintar’, a uma volta do fim…”, atira, sem completar um pensamento que ficou claro sob as tábuas: ganhou tanto avanço que o resto do pelotão lutou pelos lugares mais baixos do pódio.
Entre a glória e o ‘susto’ causado pelos problemas cardíacos, além da cirurgia, não tem dúvidas de que tudo fez dela melhor ciclista — e melhor pessoa. “Pelo que passei este ano… de certeza”, completa.