O ‘rei’ Eusébio só esteve uma vez no Mundial, mas aproveitou-o para brilhar intensamente, ao ponto de virar lenda em Inglaterra, onde em 1966 foi o melhor jogador e marcador da oitava edição da prova.
O avançado do Benfica, então com 24 anos, acabou a competição com nove golos, espalhando a classe do seu futebol pelos relvados ingleses, num percurso que teve como ponto alto o ‘póquer’ à Coreia do Norte, para virar o resultado de 0-3 para 4-3.
Nos quartos de final, no Goodison Park, em Liverpool, num embate disputado em 23 de julho, a Coreia do Norte espantou o mundo do futebol, ao chegar a 3-0 após 25 minutos, dias depois de já ter escandalizado, ao eliminar a Itália.
Portugal cumpria o primeiro encontro a eliminar na prova, depois de uma fase de grupos ‘majestosa’, com três triunfos, um deles face ao bicampeão em título Brasil (3-1), de Pelé, mas o ‘conto de fadas’ luso parecia condenado a terminar.
Já campeão europeu (1961/62), com um ‘bis’ na final com o Real Madrid (5-3), e duas vezes finalista vencido, em 1962/63 e 1964/65, com os dois ‘colossos’ de Milão, Eusébio tinha, porém, outras ideias para a sua primeira presença na prova.
Com uma exibição para a lenda, o ‘rei’ virou, sozinho, o jogo, com quatro golos consecutivos, aos 27, 43, 56 e 59 minutos, o segundo e o quarto na transformação de grandes penalidades, entrando desde logo para as mais belas páginas dos Mundiais.
Aos 80 minutos, José Augusto ainda marcou um quinto golo luso, com o resultado a fechar em 5-3, no jogo de Eusébio, na mais espetacular exibição individual de um jogador português na mais importante competição do futebol.
O ‘rei’ brilhou intensamente face aos norte-coreanos, mas já chegou ao jogo dos ‘quartos’ como uma das grandes figuras da prova, depois de uma fase de grupos em que só ficou em ‘branco’ na estreia, no triunfo por 3-1 à Bulgária, em Old Trafford.
No segundo jogo, no mesmo palco, Eusébio começou a aparecer, marcando o segundo tento luso, em mais uma cómoda vitória, agora frente à Bulgária (3-0).
A fechar a fase de grupos, no Goodison Park, o ‘pantera negra’ apareceu em todo o esplendor, para contribuir decisivamente, com um ‘bis’, para a eliminação do Brasil, então o bicampeão mundial em título, face aos títulos de 1958 e 1962.
Com Pelé, do outro lado, visivelmente diminuído fisicamente, Eusébio, em grande forma, deu a sequência ao golo de cabeça do ‘pequenino’ António Simões com um ‘bis’, aos 27 e 85 minutos, de nada valendo aos brasileiros o tento de Rildo, aos 70.
Face ao que mostrou na fase de grupos e nos quartos de final, Eusébio tornou-se, de repente, um ‘pesadelo’ para Inglaterra, que cruzou com Portugal nas meias-finais e, numa habilidade agora impossível, mudou o jogo de Liverpool para Londres.
Nunca se saberá se a história seria diferente, mas a realidade é que acabou nas meias-finais o sonho de Eusébio, que abandonou o relvado do Estádio de Wembley em lágrimas, depois de um jogo em que o seu oitavo golo na prova não foi suficiente (1-2).
Um ‘bis’ de Bobby Charlton foi determinante, também para roubar ao ‘Pantera Negra’, meses depois, o que seria a sua segunda ‘Bola de Ouro’ consecutiva: na classificação de 1966, somou 80 pontos, contra 81 do inglês campeão mundial.
O golo de Eusébio aos ingleses não foi, porém, o seu último tento na prova, já que ainda faturou no jogo de ‘consolação’, marcando, de grande penalidade, o primeiro tento luso face à União Soviética (2-1) e ao ‘monstro’ Lev Yashin, ‘Bola de Ouro’ em 1963.
No total, foram nove golos, sendo que o jogador do Benfica já tinha sido o grande responsável pelo apuramento luso, ao marcar nada menos do que sete dos nove tentos lusos.
Eusébio logrou um ‘hat-trick’ na estreia, num caseiro 5-1 à Turquia, e, depois, resolveu a ‘solo’ no reduto dos turcos (1-0), na Checoslováquia (1-0) e na receção à Roménia (2-1). Um ‘nulo’ na receção aos checoslovacos selou o apuramento ao quinto jogo.
Antes e depois, o ‘Pantera Negra’ não mais conseguiu, porém, colocar Portugal numa fase final, sendo que, então, não havia as facilidades de agora, ou adversários do ‘quilate’ de Ilhas Faroé, Andorra, Liechtenstein, Gibraltar ou São Marino, e existiam potencias como a União Soviética e a Jugoslávia.
Mesmo assim, uma presença chegou para Eusébio fazer história, pelo que fez individualmente e por ter conduzido Portugal a um terceiro lugar que jamais repetiu: é, inquestionavelmente, a figura da seleção das ‘quinas’ em Mundiais.