A Argentina sagrou-se este domingo tricampeã mundial de futebol e Messi subiu, finalmente, ao pedestal de Maradona, ao vencerem a França, numa final do Mundial no Qatar que entrará para a história.
Autor de dois golos no jogo de hoje em Lusail, no Qatar, Messi foi eleito melhor jogador da prova, depois de ter conduzido a Argentina ao terceiro título mundial, reeditando os êxitos de 1978 e 1986, este último pela mão e o pé iluminado de Maradona, ao qual, definitivamente, o compatriota já nada deve.
O ‘hat-trick’ do supersónico Kylian Mbappé reanimou várias vezes uma seleção francesa à beira do desfalecimento, terminando mesmo como o melhor marcador do torneio, com oito golos, mas foi o avançado argentino que marcou – aos 35 anos e no último fôlego em Mundiais – encontro com a história.
Messi inaugurou o marcador aos 23 minutos, de grande penalidade, e parecia ter sentenciado o jogo no prolongamento, aos 108, mas Mbappé reavivou as terríveis memórias do Mundial2014, em que o cetro escapou entre os dedos do astro argentino, derrotado na final pela Alemanha, por 1-0, também após prolongamento.
A equipa das Pampas já tinha construído uma vantagem promissora ao intervalo (2-0), com Di Maria a aumentar a vantagem aos 36 minutos, antes de Mbappé resgatar a sua seleção uma vez, com um ‘bis’ apenas ao alcance da sua velocidade, aos 80 e 81, e outra, perto do fim do tempo extra, aos 118, o primeiro e último de grande penalidade.
Mbappé e Messi assumiram os primeiros remates no desempate por grandes penalidades e mostraram-se à altura do estatuto, mas Coman permitiu a defesa do guarda-redes Emiliano Martínez, outro dos heróis argentinos, e Tchouaméni atirou ao lado, com Montiel a encerrar uma irrepreensível demonstração de eficácia argentina.
“É uma loucura que [o sonho de vencer o Mundial] se tenha tornado realidade desta forma. Ansiava isto há tanto tempo..., mas sabia que Deus me faria esta oferta. Tinha a sensação de que seria neste [campeonato]”, exultou Messi após a conquista do único troféu que, provavelmente, o faria exultar nesta fase da carreira.
Colegas de equipa no PSG, os dois prodigiosos jogadores foram o expoente máximo de um campeonato controverso desde o momento em que foi atribuído ao Qatar, disputado a meio da época desportiva na Europa pela primeira vez, mas superlativo em quase tudo e com um final digno da opulência do emirado.
Hoje, todas as polémicas parecem ter sido esquecidas, desde o desrespeito pelos direitos dos trabalhadores que construíram as infraestruturas (entre as quais os deslumbrantes estádios onde Messi e Mbappé deliciaram milhares ao vivo e milhões através da televisão), ao silenciamento feito pela FIFA a mensagens políticas e a favor dos direitos LGBTQIA+.
Os benfiquistas Otamendi e Enzo Fernández foram titulares na equipa sul-americana e tornaram-se os primeiros campeões do mundo enquanto participantes da liga portuguesa, mas o Mundial2022 ficará para sempre como o campeonato em que Messi pareceu ter encerrado a sua argumentação no processo de candidatura a melhor futebolista da história.
Do alto dos seus 1,70 metros, o pequeno génio foi o segundo melhor marcador, com sete golos, elevando para 13 o pecúlio na mais importante prova de seleções e ultrapassando o ‘rei’ Pelé, além de se ter tornado também o jogador com maior número de encontros disputados no grande certame, com 26.
A cerimónia de encerramento, contrariando o sentido do vocábulo, foi realizada antes do jogo decisivo, deixando o palco livre para Messi, que será também o único jogador com dois troféus da Bola de Ouro sobre a lareira, pois já tinha sido eleito o melhor da edição de 2014, apesar de derrota na final.
Mbappé, campeão no Mundial2018, foi o segundo melhor da competição e o croata Luka Modric, distinguido com a Bola de Ouro há quatro anos, foi o terceiro, enquanto Emiliano Martínez recebeu, sem surpresa, o prémio de melhor guarda-redes, e Enzo Fernández o de melhor jogador jovem.
A Argentina festeja, entre lágrimas e sorrisos, a conquista do título que perseguia há mais de três décadas, com centenas de milhares de adeptos a saírem às ruas e o presidente do país, Alberto Fernández, a destacar o “exemplo” dado pelos atletas a 14.000 quilómetros de distância.
“Mal consigo esperar por regressar à Argentina e assistir a toda a insanidade”, desabafou Messi, que, apesar de não ter recuado na intenção de se despedir do Campeonato do Mundo, revelou o desejo de “viver mais alguns jogos como campeão mundial", em representação da ‘albi-celeste’.
Messi foi para a Argentina o que Cristiano Ronaldo, dois anos mais velho, não conseguiu ser para Portugal: a seleção lusa foi eliminada nos quartos de final, ao perder por 1-0 com Marrocos, com o avançado a ser relegado para o banco de suplentes por Fernando Santos, num dos seus últimos atos marcantes como selecionador.
O triunfo sobre a equipa portuguesa, que até estava a realizar uma boa campanha, permitiu aos marroquinos reescreverem a história dos Mundiais, ao tornarem-se a primeira seleção africana a atingir as meias-finais, acabando por terminar no quarto lugar, após a derrota por 2-1 frente à Croácia, no jogo de atribuição da medalha de bronze.