O presidente da Federação Portuguesa de Futebol está disponível para ir à Assembleia da República, «o mais depressa possível», caso seja aprovada a audição requerida pelo Bloco de Esquerda, disse esta terça-feira à Lusa fonte oficial do organismo.
O BE vai solicitar uma audição com caráter de urgência ao presidente da FPF, Fernando Gomes, para explicar os contratos com o espanhol Roberto Martínez e Fernando Santos, atual e anterior selecionadores, respetivamente, segundo o requerimento a que a Lusa teve hoje acesso.
“O presidente da FPF estará disponível, como sempre esteve no passado, para participar em qualquer iniciativa das comissões parlamentares”, assegurou fonte oficial federativa, questionada pela Lusa sobre o requerimento apresentado à Comissão de Orçamento e Finanças da AR.
O próprio dirigente assegurou esta disponibilidade, “o mais depressa possível, caso a presença tenha utilidade”.
“O presidente da FPF estará disponível já a partir da próxima sexta-feira, caso assim seja entendido, após compromisso internacional agendado para esta semana”, detalhou a mesma fonte, acrescentando que, caso a audição não seja aprovada, “Fernando Gomes manterá a mesma disponibilidade para receber na Cidade do Futebol uma delegação do BE”.
No requerimento apresentado pelo BE, a que a Lusa teve acesso, o pedido de audição ao presidente federativo fica a dever-se a notícias de que "o Ministério Público estará a investigar suspeitas de crime fiscal na forma como a FPF pagou os salários a Fernando Santos e à equipa técnica da seleção nacional de futebol masculino".
"Em setembro de 2014, a FPF terá realizado um contrato de prestação de serviços com a empresa do selecionador, a Femacosa, criada nesse mesmo ano. Segundo o jornal Expresso, o selecionador terá recebido, em 2016 e 2017, através desta empresa, 10 milhões de euros (tendo 25% sido transferido para sociedades entretanto criadas pelos adjuntos). Mas apenas declarou e pagou IRS sobre o salário anual de 70 mil", acrescenta o documento.
De acordo com o BE, "a forma de pagamento dos salários esteve na origem da exigência da liquidação de 4,5 milhões de euros de impostos feita pela Autoridade Tributária, que considerou que, com esta fórmula, o selecionador terá tentado fugir ao pagamento de impostos mais elevados por via do IRS".
O Bloco chama a atenção para, mais recentemente, a FPF não ter revelado, até ao momento, "quanto vai pagar ao novo selecionador [o espanhol Roberto Martinez] e recusa-se a explicar que tipo de contrato vai celebrar com a equipa técnica do treinador espanhol: se continua a querer contratar tudo em pacote, a uma empresa que coordena a equipa técnica, ou se celebrará contratos individuais”.
Aquele partido lembra que "a FPF é uma pessoa coletiva sem fins lucrativos, de utilidade pública, constituída sob a forma de associação de direito privado, que tem por principal objetivo promover, regulamentar e dirigir o ensino e a prática do futebol em todas as variantes e competições, com competência exclusiva em Portugal para organizar seleções nacionais da modalidade".
Deste modo, "o caráter de utilidade pública desta entidade e a importância que esta modalidade desportiva assume impõem à FPF uma obrigação de transparência e rigor”.
“As suspeitas de fuga aos impostos e à segurança social são contrárias a essa obrigação. Por tudo isto, é essencial o cabal esclarecimento sobre os mecanismos de pagamento e os contratos celebrados pela FPF", afirma.
Fernando Santos comandou a seleção entre outubro de 2014 e dezembro de 2022, tendo conquistado os dois primeiros troféus internacionais seniores por Portugal, com a vitória no Euro2016 e na Liga das Nações de 2019.
O espanhol Roberto Martínez foi apresentado como sucessor do agora selecionador da Polónia, em 09 de janeiro último.