O Sporting chegou a vulgarizar em várias fases do jogo o atual líder da I Liga inglesa Arsenal, em pleno Estádio Emirates, com uma exibição fantástica, e apurou-se para os quartos de final da Liga Europa.
Os ‘leões’ tiveram uma entrada surpreendente no jogo, a jogar com o bloco subido, a pressionar o Arsenal logo na primeira fase de construção de jogo, e a recuperar a bola em zonas mais adiantadas, e com ela a fazer uma boa gestão, sem medo, a encostar os ingleses à sua área.
De tal maneira teve controlo da bola que a equipa inglesa não estava, de todo, a conseguir sair em transições, justamente porque o Sporting estava a ter bola, a conservá-la, e a empurrar o adversário para zonas mais perto da sua área.
Aos 13 minutos, Trincão ‘gelou’ o Emirates, partindo do flanco direito em diagonal para o meio, para se enquadrar com a baliza e fazer um remate com o pé esquerdo que passou a centímetros do poste direito da baliza de Aaron Ramsdale.
Estava tudo a correr na perfeição ao Sporting, tão perfeito que dava para desconfiar, e, aos 19 minutos, saiu um lançamento para as costas de Esgaio, a solicitar a desmarcação de Martinelli, cujo remate Adán defendeu para a frente, com a bola a sobrar para o internacional suíço Granit Xakha, que abriu o marcador.
O golo teve sabor a injustiça, mas a eficácia é sinónimo de qualidade, e o Arsenal teve-a na definição da jogada, conjugada com alguma sorte à mistura pelo facto de o ressalto ter ido parar aos pés de Xakha, e também porque a defesa do Sporting foi muito lenta a reagir, depois de a bola ter entrado nas suas costas.
À meia hora de jogo, a equipa ‘leonina’ dividia o jogo com o Arsenal, que conseguiu reequilibrar depois de um início em que foi forçado a defender, mas as melhores situações de perigo pertenceram ao Sporting, com Edwards, aos 42 minutos, a falhar um passe fácil para Trincão, que deixaria este em posição privilegiada na área para restabelecer o empate.
Mesmo em cima do apito para o intervalo, Ugarte, com um remate de fora da área, criou um ‘frisson’ nos espetadores, que tiveram a perceção de golo, tão rasante a bola passou do poste.
Chegar ao intervalo empatado já seria um castigo pesado para o Sporting em função do que jogou, mas chegar a perder soava a injustiça gritante, mas também a ter a sua quota-parte de responsabilidade.
De referir que o treinador espanhol Mikel Arteta deixou apenas dois titulares indiscutíveis no ‘banco’, quiçá os dois jogadores mais influentes da equipa, Odegaard e Boulaye Saka, além do central Bem White, que entraria logo aos nove minutos a render o lesionado Takehiro Tomiyaso, o que significa que não facilitou a vida ao Sporting, acabando por ser forçado a lançar aquele duo no decorrer da partida.
Na segunda parte, receava-se uma quebra do Sporting face à intensidade da primeira parte, mas fez o que tinha feito no início da partida, assumiu a despesa do jogo, subiu a equipa em bloco, voltou a pressionar alto e a criar dificuldades inesperadas ao Arsenal, até que chegou o momento mágico da partida, ao minuto 62, protagonizado por Pedro Gonçalves, que hoje jogou no meio-campo.
‘Pote’ ganhou uma bola no círculo central, fez uma receção orientada e, de imediato, levantou a cabeça e rematou em arco para a baliza, a mais de 50 metros, e fez um golo monumental, explorando o adiantamento de Ramsdale, que bem recuou e bem se esticou para evitar o golo, mas a bola ia com a conta, o peso e a medida certas.
Aos 66 minutos, e com as coisas a complicar-se, Arteta foi ao ‘banco’ buscar Bukayo Saka e o internacional ganês Thomas Partey, mas, aos 72, foi Sporting que dispôs da oportunidade mais flagrante da partida, com Esgaio a isolar Edwards na cara do golo, na área, com ângulo favorável, acabando este por chutar contra a cara do guarda-redes inglês.
Nos últimos minutos do tempo regulamentar, o Arsenal conseguiu, finalmente, encostar o Sporting junto à sua área, e obrigá-lo a cerrar fileiras para evitar o golo que a poria fora da prova, mas foi no prolongamento que a quebra do Sporting se foi acentuando, uma quebra nitidamente física, perante um adversário que tem outro andamento de jogo.
‘Pote’ estava tão esgotado que Ruben Amorim o poupou ao prolongamento, lançando o miúdo Dário Essugo, e procurou refrescar a equipa, ainda que o ‘banco’ fosse exíguo em soluções, com as entradas de Chermiti, Nuno Santos e Arthur Gomes, enquanto no lado oposto Arteta lançou Martin Odeggard, deixando prever mais dificuldades para os ‘leões’ no tempo extra.
A quebra física do Sporting foi-se acentuando, com alguns jogadores à beira da exaustão, Gonçalo Inácio com cãibras, enquanto a pressão do Arsenal se acentuava à medida que os minutos se escoavam.
Valeu nessa fase complicada o guarda-redes Adán, que foi absolutamente crucial ao desviar para o poste direito um remate de Trossard e ao fazer duas defesas sensacionais a cabeçadas do central brasileiro Gabriel Magalhães, que levaram o Sporting para a decisão dos penáltis, à qual chegou justificadamente.
Os leões concretizaram os cinco penáltis, por St. Juste, Ricardo Esgaio, Gonçalo Inácio, Arthur Gomes e Nuno Santos, enquanto pelo lado do Arsenal o ‘carrasco’ foi o brasileiro Martinelli, cujo remate Adán, mais uma vez decisivo, travou, apurando o Sporting para os quartos de final com inteiro merecimento.