A esperada reconversão tática da seleção nacional para um sistema com três defesas centrais sob orientação do novo selecionador luso, o espanhol Roberto Martínez, deixa o antigo internacional Paulo Madeira reticente.
“Eu sou muito apologista do ‘4-4-2’ ou do ‘4-3-3’ para a seleção, que gosta de controlar o adversário e de marcar golos, e tem uma frente de ataque muito forte. Por isso, a história de jogar com três centrais quando a maior parte dos atletas convocados jogam nas suas equipas com quatro defesas não me encaixa muito bem. Será uma decisão do técnico”, vincou à agência Lusa o antigo defesa central, com 24 internacionalizações ‘AA’ e três golos.
Na conferência de imprensa de divulgação da sua primeira convocatória para o início da fase de qualificação para o Euro2024, realizada na sexta-feira, o sucessor de Fernando Santos admitiu que “jogar a três ou a quatro defesas depende dos jogadores” ao dispor.
“As rotinas têm de ser muito grandes para jogar com três centrais. Mudar para um outro sistema no jogo faz-me muita confusão, mas não sou treinador. Eventualmente, punha a hipótese de se ter os jogadores certos para fazer essas posições, mas não seria fácil. Se olharmos por essa Europa fora, as equipas que atuam nesse sistema não mudam nada, apenas o fazem pontualmente quando estão a perder e voltam aos dois centrais”, frisou.
Roberto Martínez manteve a confiança no quarteto de centrais presente no Mundial2022, que teve Rúben Dias, Danilo Pereira, António Silva e Pepe - foi dispensado no domingo, devido a lesão -, aos quais se juntaram agora Gonçalo Inácio e o estreante absoluto Diogo Leite, dupla habituada a jogar predominantemente em ‘3-4-3’ ou ‘3-5-2’ nos respetivos clubes.
“Acho que a renovação do eixo central deve ser feita quando as coisas não correm bem. Apesar das idades, sabemos que têm correspondido muito bem àquilo que se esperava deles e alguns até estão acima dos 35 anos, casos do Pepe e, no passado mais recente, do José Fonte. Quando as coisas não lhes correm bem, a sua experiência corrige muitas vezes uma ou outra situação. Temos tido centrais de eleição nos últimos anos”, avaliou.
Atendendo ao pé esquerdo dominante de Gonçalo Inácio, que já tinha sido chamado por Fernando Santos, mas não se estreou na seleção ‘AA’, e de Diogo Leite, vice-campeão europeu de sub-21, Paulo Madeira acredita na titularidade imediata de “pelo menos” um deles dentro do ‘3-4-2-1’ usado por Roberto Martínez nos seis anos à frente da Bélgica.
“Dou uma palavra especial ao Pepe. Quem é que diria há 15 anos que ele estivesse tão bem fisicamente nesta altura? Quem não olhasse para a idade pensaria que tem 20 e tal ou 30 anos e não a idade real [40]. Essa entrada natural de jovens faz parte do futebol e da renovação da seleção. O Diogo Leite não se impôs em Portugal, mas tem-no feito na Alemanha [pelo Union Berlim]. Já o Gonçalo Inácio tem sido titularíssimo absoluto com o Sporting. Tendo estas oportunidades, quererão agarrá-las com unhas e dentes”, notou.
Outra novidade promovida por Roberto Martínez foi o regresso de Diogo Jota, que tinha falhado o Mundial2022 por lesão, num elenco que deixou de englobar William Carvalho, Ricardo Horta e André Silva face ao torneio disputado nos últimos dois meses de 2022.
“Quando um treinador chega a uma seleção ou a um clube, aproveita um bocado a base existente. Depois, com o decorrer dos encontros, terá os seus jogadores, que podem ou não ser os mesmos que Fernando Santos usaria. Muita da base desta primeira lista é do antigo selecionador”, analisou Paulo Madeira, julgando que o médio Florentino “merecia um voto de confiança” pela temporada protagonizada no Benfica, líder isolado da I Liga.
Portugal recebe o Liechtenstein na estreia do Grupo J de acesso ao Euro2024, marcada para quinta-feira, às 19:45, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, três dias antes de se deslocar ao Estádio do Luxemburgo para defrontar a seleção local, às 19:45 de Lisboa.
Numa ‘poule’ que inclui também Bósnia-Herzegovina, Eslováquia e Islândia, o campeão europeu de 2016 precisa de ficar num dos dois primeiros lugares para ter acesso direto à 17.ª edição do torneio, que decorre na Alemanha, de 14 de junho a 14 de julho de 2024.
“Acho que não vai alterar muito o estilo nestes dois jogos, pelo menos. O treinador pode estar a dar tiros nos pés se o fizer. Nesta fase, acho que ele tem de perceber e conhecer bem os atletas e, no futuro, eventualmente colocar a sua forma de jogar. Não faz sentido mudar muito agora e vai ter de aproveitar os pontos fortes de Portugal”, apontou o antigo central do Benfica (1989-1995 e 1997-2002), que se sagrou campeão mundial de sub-20 em 1989 e fez parte da convocatória de António Oliveira para o Euro1996, em Inglaterra.