O presidente e recandidato à liderança da UEFA, Aleksander Ceferin, defendeu hoje a proteção da “classe média” no futebol, tal como na sociedade, na abertura do 47.º Congresso do organismo, em Lisboa.
Ceferin, que hoje vai ser reeleito na capital portuguesa para um terceiro mandato na presidência da UEFA, até 2027, apontou “o futebol na Europa como um caso único de sucesso, um exemplo de vida”, e, apesar de elogiar o ‘slogan’ da FIFA para tornar a modalidade global, considera que esta já o é na Europa.
“O futebol na Europa é a Islândia, um país com menos de 400 mil habitantes, nos quartos de final do Euro2016, a Dinamarca nas meias-finais do Euro2020, a Croácia duas vezes nas meias-finais dos Mundiais, o futebol é o Villarreal, de uma cidade com 50 mil pessoas, a vencer a Liga Europa, é o Sheriff vencer em casa o clube com mais Ligas dos Campeões (...). Isto é o futebol, isto é o futebol europeu”, descreveu.
O esloveno, de 55 anos, identificou a modalidade como “espelho da sociedade”, criticou, mais uma vez, os defensores da Superliga europeia, denunciando “que nunca se deve esquecer quão frágil o futebol é”.
“A Superliga transformou-se num lobo mascarado de avozinha, pronto para nos enganar, apesar de dizerem que querem salvar o mundo. Temos mentiras vergonhosas contra verdades, cartel versus meritocracia e a busca do lucro face à busca de troféus. Nunca devemos esquecer que o futebol pertence às pessoas, e desconstruir o mito de que a privatização do futebol é inevitável. As Ligas nacionais devem continuar ser a base do futebol europeu”, condenou.
E, novamente, estabeleceu o paralelismo com a sociedade, para enaltecer a necessidade de “evitar o declínio da classe média”, exemplificando, para isso, o “êxito estrondoso com o lançamento da Liga Conferência Europa”.
“O grande desafio de hoje é salvar a classe média” e não tanto criticar os ‘ricos’, denunciando o “ataque” à Liga inglesa, pelo seu modelo de financiamento “igualitário de riqueza”, que potencia os clubes participantes.
Apesar disso, Ceferin recordou que o poderio financeiro britânico não é sinónimo de sucesso desportivo.
“Nos últimos 20 anos, a Liga dos Campeões só foi vencida em cinco ocasiões por clubes ingleses. A Itália é o país com mais representantes nos quartos de final da Liga dos Campeões e da Liga Europa, e a Bélgica é a que tem mais na Liga Conferência Europa, não faz sentido dizer que os ingleses ganham tudo. Não devemos esquecer que a ganância não vê verdades”, reforçou.
Depois, assinalou as estratégias para o futebol feminino, a defesa de regulamentação específica para evitar a renuncia precoce dos jogadores das seleções e punição de insultos racistas, homofóbicos ou sexistas e a introdução de “novos formatos ousados nas competições masculinas de clubes a partir de 2024”, apelando, mais uma vez, à união.
“Durante as 48 horas da ‘crise da Superliga’, a solidariedade do futebol europeu foi notável e é isso que vai ficar para a história, tal como ocorreu no momento da invasão da Ucrânia e dos sismos na Turquia e na Síria, mas não podemos estar juntos só nos momentos de crise. Vamos vencer como equipa”, sublinhou.
Além das eleições, o 47.º Congresso da UEFA vai servir para a aprovação de relatórios anuais, incluindo o Relatório e Contas e o Orçamento do organismo para 2023/24.