A norueguesa Lise Klaveness reconheceu hoje a dificuldade em ser eleita no contexto masculino do futebol, salientando procurar influenciar e não cargos, como ao que concorreu no Comité Executivo da UEFA e para o qual não foi eleita.
“É um problema, o futebol nunca teve mulheres nos principais cargos de decisão europeus. Agora, vamos começar outro período que vai ser igual. Eu não concorri por ser uma líder feminina, porque eu lidero o futebol masculino e o feminino, mas, é um facto, o maior desporto do mundo, e o maior da Europa para as mulheres, não as tem bem representadas”, afirmou a presidente da Federação Norueguesa de Futebol (NFF).
Em declarações à agência Lusa, após o 47.º congresso do organismo que rege o futebol europeu, a antiga internacional norueguesa assumiu-se consciente da dificuldade em conseguir um dos sete lugares para o mandato de quatro anos no órgão da UEFA, apontando, desde já, à vaga para a segunda parte do mandato, para dois anos.
“Foi muito inspirador. Sabíamos que ia ser muito difícil ser eleita, mas esta campanha é o início da próxima e, a partir de hoje, vamos estar na corrida para 2025”, assumiu, ressalvando: “Eu não quero cargos, quero influenciar, é por isso que está a falar comigo agora. Queremos falar para as raparigas, para os rapazes e para os adeptos, para ouvir o que querem para as próximas décadas. Eu acho que posso ser uma líder acessível para eles. Por isso, vou candidatar-me daqui a dois anos”.
Lise Klaveness, de 41 anos, chegou à presidência da NFF em 07 de março de 2022 e, pouco depois, notabilizou-se no Congresso da FIFA, em Doha, ao defender o apoio do organismo aos migrantes no Qatar e aos adeptos LGBTQ+ que quisessem visitar o país organizador do Mundial2022.
“Nós candidatámo-nos para ter mais representação feminina, mas também ter mais transparência e mais pessoas do desporto num mundo de homens. Trabalhámos noite e dia e eu tenho de agradecer as milhares de mensagens e cartas de raparigas, mulheres e mães que recebi para promovermos a mudança, porque querem mudanças e estar representadas”, referiu.
Na eleição para o Comité Executivo da UEFA, a norueguesa ficou fora dos sete lugares elegíveis, ao ser a 10.ª votada, com 18 votos, ficando apenas à frente do escocês Rod Petrie, com 15
“Sempre pensei que teria entre de 18 e 20 votos...mas, primeiro que tudo, quero congratular os eleitos e olhar em frente para trabalhar com todos eles. Também quero aproveitar a oportunidade para agradecer à minha equipa, ao meu ‘staff’ e à minha direção, porque trabalhámos de forma incansável para elevar os nossos valores”, salientou à Lusa.
Klaveness admitiu ter dado o ‘corpo às balas’ no desafio de ser a primeira candidata a este cargo na UEFA, abdicando da quota feminina, que ficou ocupada em Lisboa pela galesa Laura McAllister.
“Não é uma questão de políticas, mas é uma questão de qualidade das decisões. Foi por isso que vim para esta eleição e não para a vaga feminina, porque é importante não estarmos só nesse lugar, temos de normalizar estas candidaturas. Para a próxima, a próxima que se candidatar não terá de ter todas estas discussões. Fui a primeira, vamos passar em frente e passar a estar à espera de candidaturas de qualidade femininas”, reforçou.
A dirigente norueguesa assumiu-se consciente de que “a estratégia poderia custar alguns votos”, apontando-a como a adequada para “aumentar o quarto [alargar o espaço]”, dando continuidade “ao esforço de tantas pessoas para mudar mentalidades", para conseguir o que existe agora, porém advertindo: "E, mesmo assim, nunca houve uma mulher presidente”.
“Era importante para nós, e para mim, sermos claros sobre os valores e os motivos para votarem em mim. Espero que, por isso, daqui a dois anos vejam que não eram apenas palavras”, rematou a antiga futebolista, que marcou nove golos nas 73 ocasiões em que jogou pela seleção norueguesa.
A agora dirigente destacou ainda a eleição da inglesa Debbie Hewitt para a vice-presidência da FIFA em representação das ilhas britânicas.
“É histórico, é um grande marco. Quero felicitar a Debbie Hewitt. Ela tem sido um grande apoio durante todo o ano. Conversámos muito desde o congresso em Doha, quando a Noruega e eu fizemos um discurso, um discurso crítico em relação à FIFA. Ela foi a primeira a sentar-se ao meu lado no autocarro e a conversar comigo, o que significou muito e ela é uma grande líder, uma ótima pessoa. Portanto, é claro que ela fará um ótimo trabalho como vice-presidente da FIFA”, assegurou.
E, por isso, Klaveness espera que a FIFA exerça efetivamente o seu ‘soft power’ para questões como os Direitos Humanos e não apenas na política, e para a implementação das reformas necessárias, seguindo uma governação mais transparente.
Questionada sobre a candidatura conjunta de Portugal, Espanha, Ucrânia e Marrocos à organização do Campeonato do Mundo de 2030, a dirigente escusou-se a avaliá-la previamente.
“Portugal é uma grande nação do futebol, assim como a Espanha. Marrocos também tem uma grande seleção e uma grande cultura futebolística, então não vou dizer nada de mau sobre a candidatura, agora. Vamos ver o que podem montar e vou olhar para a candidatura com a mente muito aberta”, concluiu.