A Geórgia tem progredido nas suas perspetivas de adesão futura à União Europeia, atesta o jogador português Pedro Monteiro, que compete há quase um ano pelo Torpedo Kutaisi, sexto classificado do escalão principal.
“Nota-se que o país está a evoluir de dia para dia. Há lugares em que as estradas estão degradadas e há ainda muitas sequelas da guerra que existiu, mas, no geral, é um país seguro e as pessoas recebem relativamente bem. Não há problema nenhum em termos de segurança nem nada que se pareça”, ilustrou à agência Lusa, o defesa, de 29 anos.
A Geórgia está a organizar em conjunto com a Roménia a fase final do Europeu sub-21 2023, que começou na quarta-feira e vai decorrer até 08 de julho, com Portugal entre as 16 seleções participantes, numa altura em que pretende obter o estatuto de candidato à UE.
Situado na região do Cáucaso, na área limítrofe do continente europeu com o asiático, o país reúne quase quatro milhões de habitantes e tem uma língua própria, mas denuncia marcas deixadas pela extinta União Soviética, da qual se tornou independente em 1991.
As tensões com a Rússia, ‘herdeira’ do legado daquele antigo Estado euro-asiático, que chegou a ser formado por 15 repúblicas federadas, nunca se apagaram por completo e agravaram-se no verão de 2008, quando Moscovo ocupou militarmente e reconheceu a independência de duas regiões separatistas georgianas, a Ossétia do Sul e a Abkházia.
“É um país muito específico da Europa de leste e com uma mentalidade distinta daquela que há em Portugal. Parece que estão sempre a discutir uns com os outros e que não há regras no trânsito, mas é um país com bastante cultura e história. Nota-se que o povo se orgulha de ter enfrentado vários países e lutado para defender o seu território”, reforçou Pedro Monteiro, encontrando vontade coletiva “em crescer também ao nível do futebol”.
Nos quadros do Torpedo Kutaisi desde que abandonou o Académico de Viseu, da II Liga portuguesa, em 2021/22, o central transitou para um campeonato com 10 clubes e várias mutações infraestruturais, advindas das exigências da UEFA para o Europeu de sub-21.
“Tivemos de jogar em estádios com condições que não eram favoráveis para a prática do futebol. Felizmente, as coisas melhoraram e agora vê-se recintos novos e bons relvados. Há futebol de qualidade, mas não com tanta intensidade como em Portugal. Os clubes já trabalham de forma profissional, tentam ser melhores e querem ter uma boa imagem na Europa”, avaliou, confiando que essa evolução estrutural sirva para reter o talento local.
Ao contrário da maioria dos países europeus, a Liga georgiana decorre entre fevereiro e dezembro e sofre uma pausa no verão, sendo atualmente liderada pelo Dínamo Batumi, enquanto o Dínamo Tbilisi é o campeão em título e clube mais laureado, com 19 cetros.
“O jogador de Geórgia tem qualidade técnica. Eles são bons executantes, mas não têm a parte tática nem essa base de formação como nós temos em Portugal, pelo que acabam sempre por ir parar a clubes de maior nível. É filosofia dos clubes formar jovens para que possam ser vendidos o mais rápido possível, algo que acaba por enfraquecer o nível do campeonato”, analisou Pedro Monteiro, com 17 encontros e um golo marcado em 2023.
O segundo emblema com mais campeonatos conquistados (quatro) é o Torpedo Kutaisi, que venceu a edição 2022 da Taça da Geórgia e está a quase 260 quilómetros da capital Tbilisi, onde Portugal perdeu frente aos anfitriões na estreia no Europeu de sub-21 (2-0).
“Se Portugal não igualasse a agressividade e a vontade de vencer do adversário, iria ser complicado e isso verificou-se. Antes do jogo, tinha a convicção de que venceríamos com relativa facilidade, mas, perante o decorrer do mesmo, já não houve assim tanta surpresa quanto ao resultado, até porque vi que a Geórgia não ia ser fácil de derrotar”, assinalou.
Kutaisi é uma das três sedes georgianas do torneio e tem acolhido embates do Grupo C, constituído pela Alemanha, detentora do troféu, Inglaterra, República Checa e Israel, ao passo que os vice-campeões estão instalados em Tbilisi, onde defrontam hoje os Países Baixos e a Bélgica na terça-feira, nas duas jornadas finais da ‘poule’ A, respetivamente.
Sem possibilidade de marcar presença nessas partidas da formação comandada por Rui Jorge, Pedro Monteiro tem experienciado estes “dias diferentes” na Geórgia a preparar o regresso aos relvados na Supertaça e nas pré-eliminatórias da Liga Conferência Europa.
“O país está muito recetivo e entusiasmado por ver seleções jovens de qualidade. É uma forma de poder entrar na Europa com uma boa imagem. O país quer crescer e esta época teve no Nápoles o Khvicha Kvaratskhelia, que é uma bandeira para eles e está a mostrar a qualidade do jogador georgiano nos melhores campeonatos europeus”, notou.