A menor difusão dos jogos da I Liga em países como Brasil, França e Inglaterra está associada à ausência de um modelo centralizado de direitos audiovisuais.
“A LPFP tem um centro de dados, projeto que eu iniciei há três anos e pelo qual consigo saber através de um algoritmo qual vai ser a previsão de assistência e o ‘share’ televisivo ou como é que as dinâmicas de uma comunidade serão comercialmente alavancadas se um jogo decorrer num dia e hora específicos. Havendo um centro de dados que nos pode dar esta informação, tem de ser a LPFP a regular este tema”, sublinhou Pedro Proença.
O dirigente falava como orador único no painel “A Liga Portugal como agente central de crescimento do futebol profissional em Portugal”, integrado na cimeira Thinking Football, que começou na quinta-feira e decorrerá até sábado, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.
“Estamos 20 anos atrasados relativamente a esta matéria e muito se tem falado, porque existe a vontade de perceber quanto é que esse modelo centralizado pode criar para os próprios clubes em termos de riqueza. Preocupa-me muito mais o que temos perdido na qualidade do produto por este não estar centralizado. O grande fator diferenciador é a qualidade superior nessa melhor experiência que queremos entregar ao adepto”, referiu.
A centralização televisiva das I e II Ligas vai ficar concluída até 2028/29 e impossibilitará os clubes de comercializarem de forma individualizada os direitos dos seus jogos, sem interferir nos contratos atuais, refletindo o “grande eixo estratégico” desde a chegada de Pedro Proença à presidência da LPFP, cargo que ocupa pelo terceiro mandato seguido.
“Vai ser um mandato de afirmação enquanto marca do futebol português e vamos poder fazer verdadeiramente aquilo que, na nossa perspetiva, já devia ter sido feito há 20 anos: internacionalizar uma marca, centralizar estes direitos audiovisuais, consolidar o nosso posicionamento e, algo que é fundamental este ano, trabalhar para o adepto”, afiançou.
Assegurando que “nenhum clube vai perder com este modelo”, o dirigente destacou a necessidade de o futebol enquanto “atividade de entretenimento que compete com todas as outras” reparar nas mudanças que recentemente incidiram no “perfil do consumidor”.
“A forma com que os jovens hoje consomem futebol é completamente diferente do meu tempo. Os meninos não suportam 90 minutos de futebol. O adepto quer saber aquilo que se passa dentro balneário ou no túnel e o que é que pensam os jogadores. Se nós não percebermos que só de forma centralizada podemos potenciar este produto, não vamos entender este fenómeno. Não entender isto é não revitalizar a estrutura da indústria do futebol. Temos de ter essa capacidade. Essa função cabe aos dirigentes”, reconheceu.
Pedro Proença englobou a ausência de centralização entre os fatores responsáveis pela diminuição da competitividade dos clubes portugueses nas competições europeias, a par do sistema de pontuação do ranking da UEFA e dos custos fiscais inerentes à atividade.
“Se queremos ter equipas altamente competitivas na esfera internacional, temos de gerar competitividade internamente. Esta distribuição de riqueza tem de ser mais equitativa e, dessa forma, a centralização tem um papel fundamental para equilibrar aquilo que são os médios e pequenos clubes dos ‘grandes’. Quem só beneficiará são os ‘grandes’, pois, se tiverem um nível competitivo interno mais forte, mais fortes serão assim que chegarem as suas participações internacionais. Não perceber isto é não perceber nada”, acrescentou.