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Quanto vale Evanilson?

Artigo de opinião

Quanto vale Evanilson?
Futebol 365

É a tal pergunta para um milhão de euros. E uma constatação. Se Evanilson não tivesse tantas ausências – fruto de lesões sazonais que o vão assolando – seria, de forma mais ou menos consensual, o melhor jogador da liga portuguesa.

A questão é que no meio de tanto jejum intermitente é capaz mesmo de o ser. Pelo menos, para o FC Porto representa um capital de máxima importância e o tal “clique” que faz o dragão cuspir fogo poderoso na altura certa.

Contextos particulares motivam utilizações também mais ponderadas. Sérgio Conceição observa que se Evanilson tivesse entrado de início provavelmente não teria tido o mesmo rendimento. Nada é certo mas tudo é previsível. E também não foi pela ausência do avançado brasileiro que o FC Porto foi amorfo na primeira parte: com dificuldades na ligação entre setores e na definição das zonas de pressão, os dragões deixaram o Antuérpia multiplicar-se e alcançar uma vantagem até algo merecida naquele período específico do jogo em que, na realidade, pouco ou nada calhou bem.

Ponte com o jogo com o Barcelona e com Romário Baró: erro individual compaginável com a necessidade de se reforçar quer a dinâmica coletiva quer o detalhe com que os gestos técnicos se executam em competições desta envergadura. Mais do que o golo ter sido responsabilidade deste ou daquele.

Regresso à questão Evanilson. Desta vez ao nível dos seus benefícios indiretos. Porque a sua colocação em campo faz com que os companheiros rendam mais. Em particular um parceiro de ataque – Taremi – que parece produzido em laboratório para o acompanhar. Ora, se Evanilson acrescenta pendor associativo ao jogo (exponencia e liga os médios) multiplicado com capacidade de choque e fator golo, Taremi sente-se como peixe na água quando tem de dispensar tal trabalho.

Com a afinação desta dupla, o FC Porto ganha condimentos suplementares: em primeiro lugar a potenciação de ambos do ponto de vista individual: se um cria, o outro faz a ponte entre todos e não deixa o golo de lado; por outro, o meio-campo passa a estar mais próximo da linha ofensiva, fruto desse tal ponto de referência que toca aqui e acolá de forma astuta para que a equipa nunca se desintegre.

Num hipotético referendo aos jogadores do FC Porto, por certo que a opção “Evanilson joga” seria a mais votada. Porque, mesmo no plano emocional e muito embora não havendo dependência, nota-se um muito maior conforto global quando o avançado brasileiro está em campo.

Como se fosse o tal farol que, na dianteira, faz com que todos subam um ou dois passos mais, com a certeza de que a reação à perda também se executa de uma forma mais eficaz e que, por conseguinte, também a transição ofensiva do adversário se dissipe num ápice. É certo que minutos não geram conclusões e que a “dura” de Sérgio Conceição ao intervalo deve ter sido sonora, mas constate-se que a entrada de Evanilson motivou uma mudança de procedimentos. De quase 180 graus.

"O dragão cospe as primeiras labaredas. Que já põem todos em sentido"

A reviravolta no marcador foi obtida em meia dúzia de minutos. Antuérpia é, afinal, presa fácil. Ou então presa fácil para um FC Porto que se agigantou e que continuou com a trajetória ascendente demonstrada nas últimas partidas.

É claro que a não desintegração da equipa – leia-se equilíbrio – se fomenta também pelas adaptações de que vai sendo alvo e de acordo com princípios táticos que, não sendo rígidos, são determinantes para a sua coesão. Como é o caso da saída de bola com qualidade por ambos os flancos. Daí a importância de Wendell e de André Franco do lado esquerdo, com natural articulação para o que vai acontecendo do lado contrário.

E o terceiro golo dos dragões é sintomático dessa mesma característica: arrastamento da equipa para o flanco esquerdo com o intuito de atrair o adversário e, de súbito, mudar a ampulheta para o lado contrário onde João Mário, com espaço, teve tempo para desequilibrar em conformidade, ele que é um ala por natureza. Saliência também para o trabalho de bastidores, e para o tubo de ensaio André Franco que foi testado diante do Vilar de Perdizes.

Também diante do Portimonense, quando João Mário pendeu para o lado esquerdo e mostrou que tudo está a ser trabalhado dentro do contexto de laboratório. Dentro do treino. Onde os jogadores do FC Porto, de forma efetiva, crescem e multiplicam o seu valor quer em termos de polivalência quer em termos de desempenho individual.

"O resultado obtido representa a tendência de uma naturalidade"

O resultado obtido representa a tendência de uma naturalidade em que, de facto e com prudências à mistura, FC Porto e Barcelona são as melhores equipas do grupo e cavam um fosso em relação a Shakthar e Antuérpia. O bom desempenho na Liga dos Campeões faz, sobretudo, com que o trabalho de afinação em torno das saídas de Otávio e Uribe se faça de forma mais ponderada e tranquila, bem como a nova estruturação de uma linha defensiva que, na Bélgica, mostrou um David Carmo uns furos acima daquilo que tem evidenciado.

"Nestas coisas de subida à lua, trajetória ascendente regular é sempre mais saudável"

Se a zona central da defesa continua a motivar preocupações – pese embora a revelação Zé Pedro – o FC Porto apresenta, em relação ao rival Benfica, um argumento que é indiscutível: nada é perfeito, mas a equipa está melhor agora do que aquilo que estava quando a época se iniciou. E, nestas coisas de subida à lua, trajetória ascendente regular é sempre mais saudável do que trajetória aos ziguezagues. Até porque, ao nível interno, todos ainda vão perder muitos pontos, numa estrada ainda repleta de obstáculos. O dragão cospe as primeiras labaredas. Que já põem todos em sentido.

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