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Sp. Braga: Como lavar um terramoto

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sp. Braga: Como lavar um terramoto
Facebook FK Qarabagh

A melhor forma de se evitar uma crise é, na realidade, enfrentá-la com a certeza de que não se pode colocar tudo em causa. Lavar a crise, lavar o terramoto. O futebol é dinâmico e o que hoje é terrível pode ontem ter sido espetacular. Com uma abordagem mais ou menos romântica, certo é que o Braga não pode colocar tudo em causa: no caso, largos dias nem meia dúzia de semana têm. Nem somos bestiais quando enfrentamos o Nápoles olhos nos olhos nem somos patetas quando o Qarabag chega e nos marca quatro em plena Pedreira. Haja espírito guerreiro.

Até porque os azeris estão perfeitamente ao alcance dos bracarenses, e isto é completamente realista mesmo tendo um muro de dois golos de desvantagem pela frente. Porque, mais do que validar ou invalidar as opções tomadas, há que analisar de forma fria a sequência: dois jogos (Sporting e Qarabag) e nove golos sofridos, sendo que o Sporting está potencialmente calibrado para o avassalamento dos adversários – não servindo tal como pilar de desculpa para sofrer cinco golos em Alvalade.

E as coisas também não são contabilísticas. Nem devem ser. Mas, lá que os números ajudam, lá isso é verdade. Se o Braga sofre muitos golos, tal se deve a uma estruturação da equipa que privilegiou o meio-campo e a linha dianteira em detrimento de uma linha defensiva que, sinceridade seja dita, tem vários jogadores que não estão à altura de um Braga grande e putativo candidato ao título.

Dois trigos e uma montanha de joios. O guarda-redes Matheus tem provas dadas em todos os capítulos e, para além de apresentar uma eficiência global em todo o seu domínio, também carrega em si a mística necessária de quem não treme nos momentos decisivos; a acompanhá-lo neste micromundo de joios está o central Niakaté. Se bem que tenha de melhorar em termos de controlo dos ímpetos – aquela expulsão diante do Union Berlin (sobretudo) não se admite – certo é que o central maliano é um valor seguro em termos de definição e, principalmente, ao nível da capacidade de construção a partir do lado esquerdo. Se queremos ser grandes há que pensar em grande. E, para tal, a dimensão do central tem de ganhar asas, de acordo com um pensamento premissa atual que está correto: o tempo dos centrais durões, com restrita ordem para parar e travar, já lá vai. Hoje, o central adquire uma dimensão pensadora do próprio jogo. Sporting que o diga. Sporting que o executa.

Na senda da escalpelização da linha defensiva, é lógico que quem está de fora só vê o que é transmitido. A ponta saliente do iceberg. Há sempre aquela margem de erro em relação ao que poderá vir quer da própria “cantera” quer dos jogadores menos utilizados - que poderão ser diamantes e estar em processo de lapidação. Nunca se sabe. Mas o que interessa é mesmo o agora. Vale dinheiro e pontos. Se bem que eventualmente ficar em 4º lugar – acrescido de uma muito digna participação na Liga dos Campeões e de uma conquista da Taça da Liga – seja um pecúlio interessante para os “gverreiros”, certo é que não será melhor do que aquilo que foi realizado na temporada passada. E é também certo que o caminho dos títulos nunca é linear: passo atrás para se dar dois à frente. E porque os minhotos não querem ser campeões em contexto de epifenómeno. De Leicester ou de Boavista. Querer ganhar de forma regular, de acordo com um investimento que se traduz quer na equipa principal quer num sustentáculo ambicioso que dá pelo nome de academia de jovens.

O contexto traz à superfície outra dor de crescimento: a perigosa constatação de que o clube, enquanto está nesta última fase de subida à montanha, pode revelar-se como um entreposto para os jogadores sonharem com voos mais ambiciosos. As notícias que têm a vindo a público sobre Álvaro Djaló são naturalmente ponto de análise: mas o antídoto existe. Fazer perceber ao jogador – ou a outros sublinhados pelo talento – que o clube lhes pode proporcionar condições para, daqui por duas ou três temporadas, darem um salto em condições e nunca um saltinho. Porque, convenhamos, o Braga pode ter uma realidade bem mais apetecível do que a do Atlético de Bilbao ou similares. Para tal, é preciso apostar na mensagem interna. Na narrativa. No complemento. Que não ceda à sofreguidão da fonte do imediato e, pelo contrário, que aposte na paciência para se tornar ainda mais rentável e lucrativa.

Do Braga saiu recentemente um dos melhores jogadores dos últimos anos: Al Musrati. E, sem qualquer exagero, um dos melhores da liga portuguesa. Aliando uma notável capacidade física a uma construção hábil e pronta, fica a sincera sensação (leia-se certeza) de que a realidade Besiktas é escassa para um jogador com a sua qualidade e ainda margem de progressão – 27 anos.

Mas frieza impõe-se: se, na temporada passada, o Braga perdeu na Luz porque sentiu de sobremaneira a falta de Al-Musrati, desta vez os tempos são outros e a competitividade exibicional manteve-se sem tal farol. Foi uma conquista. Como há várias. Sublinhe-se que a frieza se impõe : porque, no caso, a revolução poderá ser inimiga de um natural trajeto de altos e baixos. Sublinhe-se: é por os olhinhos no Sporting da temporada passada. E no leão que ruge hoje de forma assertiva. Por mesmo os olhinhos.

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