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Benfica: Don't speak Mr. Schmidt

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Don't speak Mr. Schmidt
SL Benfica

O Benfica empatou com o Rangers e jogou de forma mediana. Ou, por outras palavras, jogou de forma mediana para quem é Benfica e que até poderia ser bom para uma equipa de nível inferior. Mas, para Roger Schmidt, o Benfica jogou bem. Num misto de ingénua e excessiva sinceridade ou debaixo de uma nuvem em que a boca se abre sem filtros, certo é que o Benfica fica a perder com um treinador que não tem a lucidez necessária quando está aflito. Como diria Herman José, “cada cavadela cada minhoca”.

E quem diz aflito refere também o sentido contrário da emoção. O alívio. E quem diz alívio lembra o Benfica – Estoril da temporada passada. O jogo que curiosamente se segue. E um contexto encarnado completamente idêntico. De crise. Na ocasião, o Benfica venceu por 1-0 e Schmidt veio a público dizer que o resultado trouxe o alívio que faltava. Se a questão é a falta de enquadramento ou de adaptação em relação a um crónico candidato a vencer todas as competições, a melhor das soluções será mesmo o silêncio. Ou, na versão mais refinada, simplesmente falar em alemão aos jornalistas: assim a malta não o entendia e as patacoadas poderiam cair no recipiente do impercetível.

Sem graça nenhuma, a exibição do Benfica diante do Rangers representou mais um motivo de preocupação para o universo encarnado. Desde logo pela falta de ideias ou, se assim o quisermos, por uma ideia de jogo excentricamente repetida nos últimos tempos. É certo que se tens talento disponível – Di Maria, Rafa e Neres – há que colocá-lo em campo, mas só depois de uma dinâmica coletiva que salvaguarde a questão defensiva. Senão são quatro (junte-se Arthur Cabral) que não defendem. Ou, como Sérgio Conceição referiu, sem a agressividade necessária para estancarem o início do processo de construção contrária, sendo que o Rangers é bem inferior ao FC Porto mas ainda assim criou perigo de forma permanente.

Seja como for, o que é confrangedor é que o processo se mantém praticamente inalterável: são as acelerações de Rafa a provocarem estragos ou as diagonais de Di Maria a partir da direita a causarem pequenos alvoroços. Ou então uma pequena nuance: derivação de Aursnes para a zona central com Neres a entrar pelo flanco esquerdo. O que é bom, sim. Mas é muito pouco tendo em conta a matéria-prima disponível. Nenhuma padaria é excecional se vender apenas croissants. Não chega. E, sobretudo, a plasticidade de pensamento não abunda: na segunda parte os encarnados até conseguiram rondar a área contrária com frequência, mas pedia-se exploração dos corredores. Bola na linha de fundo providenciada pela entrada do lateral – sobretudo pelo lado esquerdo. Para tornar o Rangers presa fácil.

É que colocar Florentino em campo até que nem é má ideia. Porque, em termos de recuperação, possui a cavilha de segurança que é necessária. Sobretudo nesta fase. Agora, a questão é a sobrecarga que tende sobre os ombros de João Neves: à deslocação para a zona dos centrais para assegurar a construção junta-se a movimentação para o miolo de forma a queimar linhas e a ligar setores. Ou então, de soslaio, a derivação para os flancos para dar aos corredores o fulgor de que carecem. O “rapaz” bem que se esfalfa, faz o que pode e o que não pode, mas ainda não é milagreiro. E uma eventual ausência – por lesão ou castigo – colocará o Benfica em apuros. E os índices de fadiga de João Neves devem estar nos píncaros.

Isto já para não falar da troca por troca entre Arthur Cabral e Marcos Leonardo. Se o primeiro não estava a jogar assim tão mal, o segundo também não resolveu fosse o que fosse. Impõem-se, sobretudo, novas opções em termos de desenho para que ambos sejam compagináveis ou, simplificando, para que o antídoto seja diferente e não esteja refém da inspiração deste ou daquele. Porque o Benfica tem matéria-prima de sobra para não viver de lampejos.

É que, ainda por cima, Schmidt parece não aprender com os erros. De que forma é que o Sporting bateu o Benfica? Sobretudo pela supremacia em termos dos duelos individuais no miolo. É certo que ter músculo ajuda, mas a situação pode ser contrariável através de um modelo que robusteça o setor em questão. Agora apresentar uma dupla que sustenta um quarteto mais à frente não é o cenário ideal para quem pretende evitar confrontos físicos, sobretudo quando as equipas revelam arcaboiço considerável. Do ponto de vista tático também.

O Rangers não é o FC Porto mas a lição foi estudada. Ao detalhe. Em vários momentos do jogo pressão efetiva sobre a zona de construção encarnada não só para condicionar as saídas como também para bloquear as linhas de passe e, com isso, tornar a equipa insuficiente na sua chegada à zona de ataque. Com Rafa a acelerar e a desequilibrar numa zona relativamente controlada. E o cenário da temporada passada repete-se: nova “bomba atómica” de Sérgio Conceição a dar a receita para os adversários que se seguem. Pode vir aí perigo.

E, desta vez, nem Trubin se safou. Depois de ter estado periclitante no encontro do Dragão, o segundo golo revelou alguma insegurança e intranquilidade. É certo que a contratação do guarda-redes ucraniano foi das melhores coisas que aconteceram ao Benfica nesta temporada. Mas parece vacilar nos momentos decisivos: algo que não acontecia com Odysseas.

Se a eliminatória está em perigo? Em contexto de prudência mas ainda assim vai dar para passar. O normal é o Benfica seguir em frente. Em termos individuais a diferença é significativa e só um grande Rangers poderá bloquear as intenções encarnadas. Seja como for, hipoteticamente o problema estará a montante: tudo o que virá será sempre bem superior aos Toulouses e Rangers desta vida. E o atual Benfica não chega. É muito curto para ganhar a Liga Europa.

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