A atual temporada marcou o regresso do Sporting aos títulos, com os leões a conquistarem o 20º título de campeão nacional da sua história.
"O videoárbitro veio dar alguma verdade desportiva, mas não toda", defende Augusto Inácio.
A conquista do troféu, o segundo em quatro épocas sob o comando técnico de Rúben Amorim, teve um sabor especial para os adeptos sportinguistas, uma vez que a turma de Alvalade fixou um novo recorde de pontos da Primeira Liga (90).
A juntar a este feito, o Sporting conseguiu também tirar o eterno rival Benfica do pódio das equipas com mais vitórias numa só edição do campeonato português, tendo atingido a marca dos 29 triunfos.
Considerado por grande parte da massa associativa dos leões como o grande obreiro do regresso do Sporting às conquistas, Rúben Amorim, que chegou a Alvalade em 2020, tem conseguido colocar a equipa lisboeta no mais alto patamar do futebol nacional.
Com o título de campeão nacional garantido, o Sporting tem agora a oportunidade de encerrar a época com chave de ouro, conquistando a Taça de Portugal e arrecadando a tão almejada 'dobradinha', feito que foge de Alvalade há 20 épocas. Para isso, terá de superar o FC Porto na final, um desafio que promete ser intenso e disputado.
A performance dos leões durante a presente época não passou despercebida a Augusto Inácio, treinador português e campeão pelo Sporting como jogador, que em declarações à Lusa, afirmou que é benéfico para o futebol português que 'existam campeões diferentes', de forma a quebrar a hegemonia que teimava em rondar a Luz e o Dragão.
"É bom que existam campeões diversos, até para não estarmos sempre naquela situação em que o título é discutido só entre FC Porto e Benfica. O Sporting já lá está e o Sporting de Braga está a aproximar-se, mas ainda não tem essa estaleca para lutar pelo primeiro lugar", começou por defender o experiente técnico luso.
Na opinião de Augusto Inácio, um dos fatores que contribui para que o Sporting conquistasse o seu 20º título de campeão nacional foi, para além de ter conseguido criar um coletivo que se destacou, a contratação de dois jogadores: Gyökeres e Morten Hjulmand.
"O Sporting depressa se destacou, foi sempre o melhor coletivo e acertou na mouche em duas aquisições: teve um goleador Viktor Gyökeres, que deu uma profundidade distinta ao ataque e que é claramente o homem deste campeonato, mas não se pode esquecer o Morten Hjulmand, que encaixou na perfeição e é inteligente a ocupar o espaço", observou.
"À medida que a época foi avançando, cresceu de tal maneira e passou praticamente a ser o patrão do meio-campo e o jogador que equilibrou a equipa defensiva e ofensivamente", acrescentou.
O treinador português aproveitou ainda para deixar algumas 'alfinetadas' ao eterno rival da Segunda Circular, o Benfica, tendo criticado a politica de contratações dos encarnados, realçando que o emblema da Luz 'vendeu bem, mas gastou muito mal'.
"O Benfica vendeu bem, mas gastou muito mal. No princípio da época, dizia-se que não davam hipóteses a ninguém neste campeonato e tinham uma equipa de outra dimensão, mas não se viu isso", criticou.
"O Benfica nunca foi essa equipa poderosa que nos pudesse levar a dizer que, fosse onde fosse jogar, venceria com mais ou menos dificuldade", explicou.
Para além de se mostrar atento à realidade do Benfica, Augusto Inácio analisou também a época do FC Porto, assumindo que esperava mais competitividade na luta pelo título de campeão português, e defendendo que a equipa comandada por Sérgio Conceição 'fez uma época atípica, em nada condizente com os pergaminhos do clube'.
"Esperava mais luta nos primeiros lugares e sinceramente o FC Porto destoou disto tudo. Fez uma época atípica, em nada condizente com os pergaminhos do clube, teve uma equipa muito desequilibrada, que tão depressa fazia bons jogos como jogos menos bons. Perdeu muitos pontos em casa e a classificação reflete aquilo que jogou", observou o ex-campeão pelos leões.
Contudo, os dragões não enfrentaram apenas dificuldades dentro do terreno de jogo, uma vez que a as eleições presidenciais, que ditaram a vitória a André Villas-Boas, marcaram um período de turbulência que fez agitar as águas do Dragão.
"Villas-Boas já disse que quer uma equipa competitiva e vai ter de gastar algum dinheiro. O que será do FC Porto na próxima temporada perante estas mudanças de presidente e, provavelmente, de treinador, mas sem tanto dinheiro? Está tudo na expectativa", destacou.
O antigo treinador do emblema verde e branco comentou ainda o clima de tensão que se faz sentir na Luz, com os adeptos encarnados, antevendo decisões difíceis a serem tomadas por Rui Costa, presidente das águias, isto porque o treinador alemão Roger Schmidt tem enfrentado sucessivas críticas da massa associativa do clube.
"Rui Costa já tinha renovado contrato com o treinador por mais dois anos, mas está com uma 'batata quente' na mão para resolver agora", antevê Augusto Inácio.
"Se mantiver Roger Schmidt e as coisas não começarem a correr bem na próxima época, sobrará para o treinador e o presidente. Correndo bem, poderá atenuar um bocadinho mais essa decisão a ser tomada", justificou.
Para terminar, Augusto Inácio frisou que a entrada do VAR no futebol português ajudou a quebrar a hegemonia de Benfica e FC Porto no panorama nacional, afirmando que 'se não houvesse a intervenção do VAR, se calhar, as coisas tinham pendido para outros lados'.
"O videoárbitro (VAR) muito contribui para que tal aconteça. Pode ser polémico, mas é a minha opinião. Veio dar alguma verdade desportiva, mas não toda, até porque também falhou em algumas situações", defendeu.
"Agora, já aconteceram lances em que, se não houvesse a intervenção do VAR, se calhar, as coisas tinham pendido para outros lados", rematou o experiente técnico português.