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Portugal: salada de dinâmicas no tempero certo

São as dinâmicas entre Nuno Mendes e Rafael Leão que devem ser preservadas a todo o custo; ou, do lado contrário, tudo se conecta em torno de João Cancelo e Bernardo Silva, numa rotina cimentada desde há muitos anos. E, por falar em Bernardo, tudo se interliga a partir do momento em que o camisola 10 atua muito perto de Bruno Fernandes, num binómio que tornou o apuramento português para o euro aparentemente – ou verdadeiramente - fácil.

Portugal: salada de dinâmicas no tempero certo
Federação Portuguesa de Futebol

O jogo diante da Turquia até nem foi o mais consistente da era Martinez – lembre-se que o oponente esteve muito perto de inaugurar o marcador após uma rápida variação de flanco – mas terá sido dos jogos mais pragmáticos. E consolidados através de uma salada de dinâmicas que, com os vegetais devidamente temperados entre si, tornam a seleção portuguesa rotinada num conjunto de processos que maquilham algo que é característico de todas as seleções –nenhuma se constrói no espaço de mês ou mês e meio. Verdade absoluta.

Coluna vertebral não pode ser edificada em meia-dúzia de treinos.

Se a premissa-base se manteve inalterável na circunstância inquestionável de que Portugal é a equipa mais forte do grupo e, nessa linha de observação, deve sempre assumir-se como tal, há também que destacar os jogos de preparação que foram realizados e que permitiram aferir-se a tal exclusão de partes que é obrigatória quando a coluna vertebral não pode ser edificada em meia-dúzia de treinos. Sendo que a vertente emocional deve ser sempre enfatizada: é bem melhor colocar os jogadores nos locais onde se sentem mais confortáveis, sobretudo num panorama de jogo – Turquia – em que se pedia uma maior dose de desequilíbrio individual. Os bons produtos também resultam da envolvência. Da comodidade.

A partir daqui tudo se torna mais simples. Seja com uma linha de quatro ou de cinco – ou mesmo de três quando foi necessário recuperar da desvantagem diante da Chéquia – tudo quase que se torna irrelevante em face das dinâmicas que harmoniosamente se espalham no xadrez do jogo.

No caso turco, havia alguns ajustes a fazer em face do maior poderio ofensivo do adversário: colocação de Palhinha como pivô defensivo, com Vitinha a recuar para construir a partir dessa pequena sociedade. E optar pelo regresso de Bernardo ao lado direito, em diagonal, para que o desenho se consolidasse com a largura oferecida por Leão no flanco oposto, bem como pelo auxílio próprio de Bruno Fernandes a Cristiano Ronaldo em zonas mais centrais.

À semelhança do que aconteceu diante da Chéquia, um aspeto relevante a ter em conta: a colocação de Rúben Dias em zonas mais subidas – diante dos checos apareceu mesmo várias vezes em linhas de tiro – o que motivava um recuo estratégico do adversário ou, no caso da construção se verificar na linha defensiva, do convite à exploração do espaço: sublinhado com um majestoso passe em profundidade para Cristiano Ronaldo que sentenciou o jogo no seu terceiro golo.

"Imagine-se o que teria sido se Cristiano Ronaldo tivesse optado por rematar e não por passar a Bruno Fernandes?"

Isto já para não falar de dois laterais afoitos no processo ofensivo o que, é certo, acarreta um risco mas também uma valorização de um inequívoco (e duplo) ponto forte. E foi pelos corredores que a supremacia de Portugal se fez sentir, sobretudo na sequência de um processo de arrastamento de CR7 que voltou a colocar um colega (Francisco antes e agora Bernardo) em posição privilegiada para finalizar. E aqui parte-se para a discussão: será que a faceta altruísta do capitão não se manifesta – isso sim – nos processos de arrastamento e numa tendência para o jogo simples? Sim, porque o 3-0 pode ser visto também do ponto de vista contrário. Que se calhar é mais lógico e unânime: imagine-se o que teria sido se Cristiano Ronaldo tivesse optado por rematar e não por passar a Bruno Fernandes? Isso, sim, deveria ser mostrado nas academias de formação como uma clara demonstração de egoísmo e de como não fazer numa situação do género. Um passo simples para o lado, como aconteceu, significou fazer aquilo que lhe competia.

Tendência de Rafael Leão para desperdiçar minutos de jogo

É claro que há aspetos a melhorar: desde logo uma tendência de Rafael Leão para desperdiçar minutos de jogo ao acumular cartões amarelos de forma escusada e, diga-se, até na sequência de simulações quase infantis. E, também se diga, Martinez é especialmente alérgico a jogadores com cartão amarelo e a tendências para se ficar com menos um, principalmente num tipo de competição onde tudo é preparado ao pormenor e a circunstância de se jogar com dez poder representar um verdadeiro chuto na barriga do trabalho de casa.

Mais do que a simples rotação de jogadores, o jogo diante da Geórgia vai registar um condimento excecional e que pode fazer a diferença: a aproximação das segundas linhas ao grosso da coluna. No fundo, dar a tal oportunidade significa verificar, em termos de contexto de jogo, qual ou quais os elementos que podem, no imediato, engrossar o lote dos mais utilizados. Ou seja, mais do que o primeiro lugar ou mais do que a rotatividade, ter um terceiro jogo para cumprir calendário possibilita a interpretação de um salto no desconhecido que, numa circunstância de aperto de qualificação, nunca poderia ser realizado. Em 2000, um jogo a feijões diante da Alemanha fez explodir um tal de Sérgio Conceição: que com o seu hat-trick se transportou para o onze inicial frente à Turquia (vitória) e frente à França do “nosso” descontentamento. Os contextos nunca são de relaxamento: são sempre de máximo aproveitamento. As realidades não surgem por acaso.

Confira aqui tudo sobre a competição.

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