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Portugal: Santo António, padroeiro de Tiblissi

Sim, a precoce vantagem obtida pela Geórgia foi altamente prejudicial para uma narrativa de jogo deturpada a partir do erro de António Silva. Por outro lado, também não é admissível que uma seleção com a qualidade da equipa das quinas não tenha a capacidade para dar a volta por cima numa situação destas. E a ressalva de que o jogo era a feijões ou concebido a pensar neste ou naquele adversário também não serve. É pífio.

Portugal: Santo António, padroeiro de Tiblissi
Federação Portuguesa de Futebol

A análise ao erro de António Silva pode ser pedagógica (mais vale errar agora do que mais tarde) e também refém de um comportamento coletivo que não lhe resguardou as necessárias e amplas linhas de passe. Há um mar português de atenuantes. Agora, certo é que há erros que não podem ser cometidos a este nível. A derrota diante da Geórgia, malgrado toda a gripe ofensiva, ficou marcada por dois erros individuais que não podem acontecer no euro e que afinam pela velha máxima de que também não se pode tapar o sol com a peneira: António Silva teve responsabilidades sérias na derrota portuguesa. Sem crucificações nem passagens abruptas de bestial a besta. Apenas constatações e a cabeça ciente de que amanhã é um novo dia e a qualidade vai conseguir abafar todas as intempéries do passado. Único caminho de uma redenção que, em frio, não existe mas às claras também não deixa de existir.

Um pântano ou a velha máxima de que para os lados da Ibéria há um povo que não domina os jogos nem se deixa dominar. No caso deste embate em particular, há dois perigos que batem à porta: o primeiro advém da própria gestão emocional de uma seleção que, no mundial de 2022, também venceu as duas primeiras partidas (Gana e Uruguai) e depois sucumbiu perante a Coreia do Sul quando teve de rodar; e a segunda relacionada com o perigo de limbo existencial que a assola: se a flexibilidade tática (e a dita exclusão de partes) é louvável, por outro lado também o cenário não pode ser levado ao extremo para não se correr o risco de se deturpar e calcar o conceito de identidade. De cartão de cidadão. Passar do oito ao oitenta não é possível nem admissível.

Hiato que está a atropelar a mente de Martinez

Há uma observação que não entra no rol das mais pertinentes, mas que também merece marcador amarelo: não se pode utilizar a Irlanda - onde até a seleção portuguesa realizou a mais conseguida performance da era Martinez - como tubo de ensaio para a Geórgia. E quem diz Geórgia diz outro adversário qualquer. É claro que os amigáveis podem e devem ser concebidos em função do que se vai ter pela frente, mas também não se pode desvirtuar um ADN natural de seleção forte e ao qual os demais mais débeis se devem adaptar. E não o contrário.

É positivo que Roberto Martinez se preocupe com o ataque rápido da Geórgia, mas até um certo ponto. Também é consensual que, em competições deste género, todos os adversários são competitivos e os jogos propensos ao desfecho in-extremis, mas também Portugal não deixa de ser uma das equipas com mais e melhores recursos. Ou seja, a exibição diante da Geórgia foi o testemunho de um desequilíbrio ligeiro que, não sendo um convite à catástrofe nem ao alarmismo, representa a necessidade de se escolher um caminho com adaptações (Portugal é favorito e ponto) e não a adaptação dos caminhos. O tal hiato que está a atropelar a mente de Martinez neste momento.

Passar do oito ao oitenta não é possível nem admissível

A Eslovénia, próximo adversário, representou um primeiro toque na ferida: a equipa portuguesa, sem Bernardo Silva e Bruno Fernandes, fica mais coxa e carente de ideias do meio-campo para a frente. Sendo que a lógica de sistema se faz impor: ora, se o adversário tem de estar, constantemente, acautelado com aquilo que Bruno e Bernardo (agora também Vitinha) podem produzir, também se torna mais conectado com as tarefas defensivas e com os eventuais perigos que podem advir de um processo ofensivo mais furado. Ou seja, a seleção passa para uma posição de dominador quase em permanência.

Positivo Portugal apresentar vários desenhos de jogo

Não deixa de ser positivo o facto de Portugal apresentar vários desenhos de jogo e várias disposições da zona central da defesa. Com dois ou três elementos. É lógico que a assimilação de todas estas dinâmicas leva tempo e seria utópico concluir-se que o curto espaço de que Portugal dispõe (estágio + intervalo entre jogos) serviria para se absorver tudo e mais alguma coisa. Agora, a mãe de todas as questões reside no equilíbrio e na leitura de contexto: que agora, na fase do mata-mata, tem de ser ainda mais saliente: Portugal tem material de sobra para jogar com identidade, com clareza, e com a certeza de que pode e deve abafar e asfixiar o adversário. Sem mácula.

Se não há jogos iguais e a derrota diante da Geórgia não pode recrudescer o fantasma da derrota diante da Croácia, existe a necessidade de se ressalvar o intervalo do tempo: há efetivamente tempo para se preparar o embate diante da Eslovénia e há capacidade para se recuperar a confiança e, acima de tudo, enfatizar a plena consciência de que a equipa portuguesa é manifestamente superior. Esse é o caminho. Até porque, quando os produtos são bons, existe também a notável vantagem de se modificar e potenciar num curto espaço de tempo e, por conseguinte, recolocar a equipa nos carris. Rumo a um título que, embora difícil, não é uma miragem. Somos bons e ponto.

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