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FC Porto: a revolta dos conjurados

Artigo opinião Gil Nunes.

FC Porto: a revolta dos conjurados
Reprodução / Futebol Clube do Porto

Prematuríssimo para tudo e mais alguma coisa. Mas, pelo menos, a real constatação de que a premissa de continuidade é assumida e que os dragões sequenciam a temporada passada como o primeiro passo de algo verdadeiramente marcante, malgrado um terceiro lugar que esteve longe dos objetivos mínimos. Contexto.

Às vezes é bom ter duas faces e, no caso, entrou em cena aquela que era a mais pertinente: a do André Villas-Boas treinador. Que percebeu, de forma imediata, a tal necessidade de continuidade e, no seu legítimo direito de ir ou não com a cara de Sérgio Conceição, apostou na promoção de um elemento da estrutura (Vítor Bruno), cuja relação de família quer com os jogadores quer com o processo faz com que tudo se desenrole sem grandes hiatos.

Depois, há o ingrediente secreto: o tempo. Largos dias têm apenas um mês. Ou quase mês e meio. Ou seja, por muito que a saída de Conceição tenha sido turbulenta e, por outro lado, que a aposta em Vítor Bruno tenha sido surpreendente, certo é que já se atravessou uma janela de tempo suficientemente confortável para os dragões se afinarem em laboratório sem estarem a pensar nisto ou naquilo. Ponto final. Contentor fechado e selado.

Esta história completa-se com a reentrada em cena de três dos conjurados: André Franco, Toni Martinez e Iván Jaime. Isto para não falar dos “semi-conjurados” David Carmo e Fran Navarro. Por um lado, a necessária redoma de prudência em relação à atitude de afastamento tomada por Sérgio Conceição: bem ou mal, o homem fez alguma coisa. Não se resignou com a onda de maus resultados que assolava os dragões e, justo ou injusto, lá moveu as águas, com aquela perspetiva de que a mensagem até era mais para o grupo do que para os quatro conjurados (falta Jorge Sanches) em si.

Por outro lado, Vítor Bruno também faz o que lhe compete. Na realidade, o tempo cura tudo e não há prisões perpétuas seja para quem for. A questão é que também não há julgamentos: novo treinador, estaca zero, e todos ao mesmo nível de oportunidades e de ambição para a fresquinha temporada. De forma mais pragmática, também aqui a eventual questão da justiça ou da injustiça se dilui no vaso: não interessa. Pouco importa. A coima já foi paga e o processo foi arquivado. Na prateleira.

E, de repente, tudo anda aos círculos e termina no mesmo ponto. Ora, se Sérgio Conceição utilizou os quatro conjurados para passar uma mensagem para o grupo, também Vítor Bruno faz o mesmo: pega no mesmo quadrado (no caso triângulo) e sela a união e o foco junto de um grupo que está pronto para receber tudo e todos, sem debandadas nem ressentimentos. Apenas um Porto.

Por outro lado, mais desportivamente falando cinzento, não há escapatória possível. Os dragões têm ativos valiosos – Diogo Costa, Pepê, Galeno, Varela e Francisco Conceição entre outros– e a possibilidade de se pensar uma equipa a longo-prazo, de forma efetiva, é turbulenta a partir do momento em que ninguém pode ter garantias de nada. É claro que tudo é ilustrável com a natureza das coisas e, no caso, o cenário até pode ser visto do lado positivo: mau era se assim não fosse. Por muito que os dragões tenham problemas financeiros, certo é que também possuem um tesouro humano significativo e rapidamente replicável em termos de vendas.

É também óbvio que qualquer supermercado necessita de reposição de stock. Constante e firme. Sobretudo quando as aquisições estão caras e a cadeira da tesouraria está periclitante e romba. Daí que a aposta no “ouro da casa”, mais do que efetiva, é no caso dos dragões uma necessidade imperiosa. E aí reside um dos riscos da temporada e, ao mesmo tempo, a explicação ainda mais coerente e luzidia para a aposta em Vítor Bruno. Que já conhece a casa de trás para a frente.

Se o tempo é de vacas magras e o cenário impõe contenção e rigor, a aposta na formação é o caminho para o navio se estabilizar e continuar em velocidade de cruzeiro. Com um risco a montante: a probabilidade efetiva de a aposta no jovem ser repleta de um ciclo de altos e baixo que, neste cenário, pressupõe a retirada em cena para sua necessária proteção, salvaguarda e lapidação extra. Largos dias têm cem anos, mas também tem espinhos.

Acontece que este cenário é o ideal para se encontrarem os diamantes escondidos. Com Rodrigo Mora à cabeça. De cabeça levantada, sem medo do drible ou de comandar os colegas, percebe-se por que razão foi um dos melhores do europeu de sub-17. É claro que nem todos podem ser Yamal nem é isso que se pretende. Apenas a convicção de que Rodrigo Mora, com toda a certeza, tem condições naturais para não se conformar com um simples papel de figurante. O onze inicial está mesmo ali ao lado. Se é que já não está no bolso.

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