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FC Porto: Depósito a prazo no Banco Borges

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Depósito a prazo no Banco Borges
Reprodução / Futebol Clube do Porto

É certo que as trivelas não falam mas, nas entrelinhas, também podem ser reveladoras. Trata-se de um gesto técnico de difícil execução e que tem a particularidade de aparecer de forma quase irracional. Ou, mergulhando no mundo da psicologia, como consequência de um processo de confiança que está em alta. Executar o risco sem se perceber que era um risco, sendo que por esse motivo tudo correu maravilhosamente bem. A mente desenhou o desfecho. Que quis. O homem quer e a obra nasce.

Também é certo que o golo de trivela, por si, não gera nenhuma conclusão global. Sobretudo se for um ato isolado. Acontece que, muito para além do momento icónico, a performance de Gonçalo Borges diante do Áustria de Viena foi pautada pela solicitação constante, pelo positivo atrevimento em relação ao duelo individual, e por aquela irreverência de quem sabe que este pode ser o seu ano. A sua temporada.

Quase uma sina dos jogadores particularmente talentosos: há sempre uma tormenta, há sempre um perigo. Há sempre um processo de lapidação em laboratório, para que o desequilíbrio seja sempre regular mas nunca exagerado ou precipitado. Depósito a prazo no Banco Borges - que agora começa a ser levantado. Por essa estrada já andou Francisco Conceição. No caso de Gonçalo Borges, já não chega ser o joker e o jogador castiço que, na época transata, entrou para oferecer golos determinantes a Marcano já no período de descontos. De pouco valem se a nau da fortuna estiver turbulenta. Aos talentos pretende-se velocidade de cruzeiro. Sempre ou quase sempre.

Até pelo próprio contexto da temporada. Nunca se sabe o que vai ditar o sorteio da Liga Europa mas não será descabido sonhar-se com a obtenção do título. Que, no caso, até poderá servir de alavanca para uma prestação de referência no novo Mundial de Clubes. Com uma vantagem emocional: cenário menos exigente também traz espaço a rotação mais efetiva, e possibilidades de desenvolvimento dentro de redoma de segurança ajustada à performance de cada um dos componentes do dito “ouro da casa”. Ou, por muito que em termos económicos nada substitua a Liga dos Campeões, a oportunidade única de se criar uma verdadeira temporada zero, que seja cimentadora e potenciadora de novos objetivos a montante. Novos objetivos de futuro. Com estes ou outros intervenientes, sempre com a premissa de que a equipa é jovem e dispõe de magnífica margem de progressão, pelo que nada se poderá sobrepor a este contexto mãe. Como não se sobrepõe quando Villas -Boas trocou de treinador.

Numa altura em que a saída de Francisco Conceição deve constar dos planos, a possível ascensão de Gonçalo Borges será sempre uma boa notícia, não na perspetiva da colmatação do lugar mas antes na consolidação de uma nova alternativa que, não substituindo diretamente, acaba por fazê-lo. Se, numa primeira leitura, a entrada em cena de Borges pressupõe uma maior propensão à exploração do corredor e ao cruzamento largo, também sistema tem de se afinar para conjugar todo esse ramalhete de necessidades e, no encalço, gerar a mesma fluidez ao nível do flanco direito. Para que o trabalho de passado seja sempre aproveitado. Nunca fique manco.

Se a eventual saída de Francisco Conceição deixará lacunas? Sim, deixará. Os dribladores e os especialistas no um contra um não estão propriamente em saldos e, para além disso, trata-se de um jogador esquerdino (relação com o lateral João Mário) e de rotinas consolidadas. Aliás, na temporada passada, uma das dinâmicas ofensivas mais salientes passava pela atração do adversário para o lado esquerdo com o intuito de, num ápice, se realizar uma variação brusca de flanco e colocar Francisco numa situação de duelo individual com o seu opositor. Sempre mais perto do momento decisivo.

Tal como acontece com Nico González, nesta temporada mais apto a atuar em zonas mais adiantadas do terreno. E a leitura pode ser feita de três formas: em primeiro lugar a própria conjugação entre as características físicas e técnicas do jogador, que fazem todo o sentido numa zona mais destinada ao último toque ou à exploração real de zonas de finalização; depois, e pegando em ações da temporada passada (golos em Portimão e na Casa Pia), aquela firme sensação de que a deslocação já estava a ser pensada há muito; por último, e por falar em sensações, há sempre espaço para a especulação e para aquele pensamento longínquo mas nada irrealista que a equipa está a ser preparada para jogar sem o multiusos Pepê.

O mercado fervilha e os alvos estão definidos. Mas, dentro de portas, também há um vasto ramalhete de jogadores altamente cobiçados e que podem sair a qualquer momento. Acima de tudo, a propensão ao equilíbrio. A consciencialização de que a zona central da defesa é aquela que mais perigos oferece e que necessita de retoque mais ou menos imediato. Porque até se pode tomar o exemplo do Sporting: este ano (temporada passada) até vamos à caça com Adán. Sim, porque na linha da frente precisamos de pescar um supersónico Gyokeres que efetivamente vai fazer a diferença. Se não se consegue preencher todas as peças do puzzle, pelo menos tornar a imagem final das peças interpretável à vista de quem o vê e analisa de longe. É esse o caminho do Dragão. Que está mais tranquilo. A todos os níveis.

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