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Sporting: A pedagogia da autolavagem das peúgas

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: A pedagogia da autolavagem das peúgas
Reprodução / Sporting Clube de Portugal

Ao longo dos tempos, Rúben Amorim referiu-o por diversas vezes e nunca o fez de forma ingénua. Rodrigo Ribeiro. O jovem avançado leonino é, na realidade, um superativo e alguém com potencial considerável para, num ápice, desempenhar uma dupla função: a de fazer esquecer Paulinho e a de se preparar para, eventual ou previsivelmente a longo-prazo, substituir Gyokeres no onze inicial dos leões.

Porque o bom marinheiro prepara-se em terra. É inteligente potenciar-se ao máximo as características de Gyokeres como elemento de desequilíbrio e como eixo de referência de uma frente de ataque que se pretende diferenciada. Agora, é também realista atentar-se no facto de que o sueco não andará a passear muito tempo por Alcântara. E sim, também não é seguro que seja Rodrigo Ribeiro a ocupar o lugar, seja pela natural flutuação do mercado seja também porque a futurologia é sempre um processo arriscado.

No caso, o bom é amigo do pragmatismo. Pelo menos, Rúben Amorim faz alguma coisa e não se senta à espera dos salpicos de previsibilidade de futuro. E fá-lo aproveitando a brecha que surgiu na sequência da ida de Paulinho para o México: oportunidade única para Rodrigo Ribeiro crescer e se afirmar de forma blindada, com o holofote dirigido a Gyokeres a servir de melhor escudo protetor do mundo. Porque, nesta altura, os salpicos aglomeram-se e ganham substância: ser o resguardo de Gyokeres, sobretudo numa época concorrida em termos de competições europeias e nacionais, é quase ter a certeza de que a utilização será efetiva, e de que todo o processo se prepara para abraçar e recolher os seus jovens mais talentosos. Que crescem.

E num processo de desenvolvimento que começou bem mais atrás. Largos dias têm cem anos ou, no caso em particular, contemplam uma viagem até Inglaterra. É o próprio Rodrigo Ribeiro quem reconhece a utilidade da experiência, muito embora os números até transmitam uma sensação contrária: foram cinco jogos no Nottingham Forest e nenhum golo. Algo que poderia ser tomado como perda de tempo.

Acontece que estas coisas são mesmo assim. Mais do que os números, mais do que os golos ou as eventuais oportunidades perdidas, o principal desiderato que se pode extrair de um processo de empréstimo é a vasta lista de benefícios indiretos provenientes da deslocalização que o jovem jogador é alvo. Disse uma vez João Alves, em tom de brincadeira, que só faz bem a qualquer um rumar a outras paragens para sentir na pele as necessidades do comum dos mortais. Que, por exemplo, têm de lavar e secar as suas próprias peúgas. É claro que o contexto do Nottingham Forest não consubstanciará esse mesmo processo, mas o exemplo não deixa de ser caracterizador de um aspeto essencial: a lucrativa viagem para fora da zona de conforto. Ou seja, entre estar no banco do Sporting e usufruir, na pretérita temporada, de um saquinho de minutos, é bem mais vantajoso aproveitar uma experiência longínqua e levar de frente com um conjunto de sensações diferentes e que possibilitam respostas diferentes. Pedagogia em vez de minutos de jogo. Maturidade. Dentro e fora de campo.

Até porque o Sporting também tem o seu “ouro da casa”. Que deve potenciar em conformidade. A afirmação de Rodrigo Ribeiro frente ao Sevilha não afasta a possível contratação de Ioannidis, mas torna a linha avançada mais segura e duradoura. Desde o facto de receber, de forma natural, com ambos os pés ao facto de interpretar, com muita rapidez, a dinâmica ofensiva da equipa, a capacidade de Rodrigo Ribeiro afina-se também na leitura efetiva na profundidade e numa umbilical relação com o golo. Direta ou indireta. E a performance diante do Sevilha, refletida no tal golo e na assistência, afina por esse mesmo diapasão: finalização não precipitada com perfeita noção do espaço; e timing preciso do processo ofensivo da equipa para, na altura certa, não entrar em parafuso e servir Trincão com mestria.

O detalhe como verdadeira sinfonia do êxito, e a ligação desse mesmo detalhe com a própria orquestra leonina. A origem do ciclo: se não é muito complicado prever ou evidenciar o desenho tático do Sporting, a chave de tudo reside numa recheada partitura de pormenores que, devidamente somados, providenciam uma sinfonia final que, no fundo, é completamente diferente do tal desenho tático que continua a ser previsível e desmembrável por todos. Daí o facto de, por exemplo, Rodrigo Ribeiro ter a capacidade de receber com ambos os pés não ser uma minudência. É, isso sim, um tesouro e um diamante a lapidar sem qualquer tipo de hesitação.

Se o jogo da Supertaça irá servir, sobretudo, para se aferir se a plataforma de estabilidade dos dragões está firme ou se os leões garantiram as afinações necessárias (sobretudo na defesa/saída de Coates e no guarda-redes), há algo que une ambas as equipas: a aposta na prata da casa. Ou no ouro. Ou num conjunto de jovens trabalhados na terra dos melhores treinadores do mundo. Em boas mãos.

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