O pontapé de saída para uma nova vida já foi dado e durante os próximos dois dias o parque de estacionamento do Centro de Congressos de Lisboa é palco de disputas onde se joga a inclusão social.
A iniciativa é da CAIS, uma organização de apoio aos sem abrigo, que desde 2004 promove o Futebol de Rua para combater a pobreza e a exclusão social.
Regra geral, ninguém gosta de perder nem a feijões, mas aqui, mais do que marcar golos e fintar o adversário, trata-se de mostrar que o desporto, em geral, e o futebol, em particular, também servem para conquistar outras perspetivas de vida.
Mário Andrade e Vítor Pires são exemplo. Mário, 22 anos, natural dos Açores, tem no passado a expulsão da escola e uma institucionalização. Dentro da instituição que o acolheu volta a estudar e consegue terminar o nono ano.
Cruza-se com o Futebol de Rua em 2004 e consegue ser um dos escolhidos para integrar a seleção nacional no ''Homeless World Cup'' na Dinamarca, onde chega a ser sondado para uma equipa de futebol dinamarquesa.
Tirou o curso de desporto e hoje é treinador da equipa dos Açores.
“É uma responsabilidade grande”, admitiu à agência Lusa.
Olhando para trás, não tem dúvidas em afirmar que algo mudou na sua vida.
“Isto é importante porque temos de olhar para o futuro e [o Futebol de Rua] melhora muita coisa, como por exemplo para quem tem problemas de droga”, disse Mário Andrade.
Percurso idêntico tem Vítor Pires, 23 anos. Foi na Obra do Frei Gil, “há muitos anos”, que ouviu falar pela primeira vez no Futebol de Rua.
“É engraçado porque eu comecei como utente da instituição que estou a representar e agora estou do outro lado, estou a fazer um estágio profissional e estou lá a trabalhar com eles e agora estou cá como técnico treinador”, adiantou à Lusa.
O estágio profissional é na área de animação sócio cultural desportiva e Vítor não tem dúvidas que o futebol pode mudar vidas.
“A minha mudou e sinto-me muito bem e gosto de estar aqui todos os anos e sempre que puder venho cá, nem que seja só vê-los [amigos]”, garantiu.
Para o diretor executivo da CAIS, esta é uma iniciativa de inclusão social com uma estratégia de “puxar pelas calças”.
“Temos cerca de 75 a 80 por cento de resultado positivo durante estes anos e orgulhamo-nos muito de poder dizer que as pessoas quando voltam às suas terras abraçam uma vida que não tinham até então”, afirmou Henrique Pinto.
Presente no arranque hoje do evento, o secretário de Estado da Solidariedade Social lembrou que se está a construir processos de inclusão a partir do desporto.
“A partir daqui constrói-se com as instituições sociais um processo de inclusão e o Estado diz presente desde o primeiro ano a este projeto, porque tem sido um projeto fortemente inclusivo e que que afirma uma melhor imagem das pessoas em risco de exclusão perante a generalidade da população”, defendeu Pedro Marques.
Os jogos desenrolam-se durante os dias de hoje e sábado, estando o domingo reservado à disputa da final.
Da final saem os jogadores escolhidos para representar Portugal no campeonato mundial, o ''Homeless World Cup 2010'', que decorre no Rio de Janeiro, no Brasil, entre 19 e 26 de setembro próximo.